Nesse momento de manifestações extremas tanto dos que apoiam quanto dos que são contrários à prisão de Lula. Em que o debate político está perdendo a “sua função critica básica” como diria Marcuse. Isto é, a “independência de pensamento, autonomia e direito à oposição” – o que estamos vendo mais se assemelha a uma disputa de torcida que não raramente termina em agressões físicas ou até em morte. Ariscarei algumas palavras que buscam ir além dos extremismos.
Um primeiro ponto que é possível destacar nesse episodio é a disputa por narrativas sobre os motivos da prisão de Lula. Por um lado há os que dizem que se trata de uma questão meramente jurídica, do outro, aqueles que dizem ser de ordem política. E não faltam argumentos dos dois lados no intuito de convencer a população a aceitar uma das duas narrativas. E o principal é qual dessas narrativas entrará para história oficial que será contada para as futuras gerações.
Nessa linha é importante ressaltar o papel da imprensa que tem desempenhado um papel central no sentido de fortalecer a narrativa oficial reduzindo a prisão de Lula ao âmbito jurídico. Tanto que grande parte da cobertura jornalística tem se dedicado a repercutir o discurso dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Do outro lado estão partidos como PT, PC do B, PSOL, PCB, PCO e Organizações como a CUT, UNE, MST, MTST que se utilizando de meios alternativos se contrapõem com o discurso de que a prisão de Lula é uma prisão politica.
Mas afinal de contas é uma prisão política ou jurídica? Ora, não dá para separar a questão jurídica da questão politica. E aqui não estamos reduzindo a politica a sua dimensão partidária. Mas sim na sua concepção clássica, isto é, nas palavras dos filósofos Danilo Marcondes e Hilton Japiassú “como ciência que pertence ao domínio do conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios da justiça e do bom governo e examinando as condições sob as quais o homem pode atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva”.
Desse modo os que assim fazem, negando a politicidade das suas ações, estão justamente fazendo o contrario. Estão fazendo política e da pior espécie – a que se transverte de apolítica. Mas suas ações lhes denunciam como bem mostra a cobertura midiática em torno do caso envolvimento o Lula e que culminou com a sua prisão. O objetivo não é apenas noticiar e informar a população do que está acontecendo, mas sim destruir a figura de Lula. Mas por quê? Qual o objetivo? Afinal de contas os governos Lulistas passaram muito longe de serem de fato governos de esquerda. Não tocou nos interesses da burguesia, pelo contrário, aliou-se a ela. E se caso fosse eleito novamente não faria muito diferente.
O fato é que no afã de humilha-lo as elites meteram os pés pelas mãos e está dando a chance dele se reconciliar com sua origem histórica. Dai o simbolismo do seu retorno ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e do apoio das diversas organizações da classe trabalhadora de Norte a Sul do Brasil e até outras partes do mundo. Há muito tempo não se via uma demonstração tão grande de solidariedade de classe. Num momento tão difícil com quem Lula pode contar? Com os sem terra, com os sem teto, com os estudantes e outros tantos trabalhadores.
E assim, se ao decretar à prisão de Lula as elites estavam pensando que este seria o seu fim, enganaram-se. Lula a partir de agora além da possibilidade de se reconciliar com sua origem histórica pode também desempenhar um papel importante na tão necessária reconstrução das forças progressistas latino-americana. Para tanto ele e o seu partido (PT) precisam fazer uma autocritica dos governos de conciliação de classe que estiveram à frente. Outro ponto é dar espaço para que haja uma renovação nos quadros progressistas, de modo que insistir com a candidatura de Lula a presidência é um desserviço nesse sentido. Resta saber se Lula e o PT estão dispostos a fazer esse movimento.
Pedro Ferreira Nunes – é Educador Popular e graduando em Filosofia na Universidade Federal do Tocantins. Também faz parte da Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia Prof. José Manoel Miranda e do Coletivo de Educação Popular José Porfírio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário