quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Um show do Matanza

“Ergam seus copos por quem vai partir...”
Matanza

Quando fiquei sabendo que o Matanza ia tocar no Martin Cererê em Goiânia decidi que não poderia perder a oportunidade de ver pela primeira vez aquela banda que eu tanto apreciava, tocando ao vivo. Conheci o som dos caras através de uma rádio chamada Venenosa FM – aliás não só o Matanza mas a maioria das bandas que curto hoje – como Ratos de Porão, Inocentes, Cólera, Garotos Podres, Sex Pistols, Motorhead, Metallica entre outros.

No Matanza o que mais me chamou atenção não foi nem tanto o som, mas as letras. Por exemplo, de canções como “Ela roubou meu caminhão”, “Clube dos canalhas”, “Mesa de Saloon”, “O ultimo bar”, “Eu não gosto de ninguém”, “A arte do insulto” só para citar algumas. O slogan dos caras era “música para beber e brigar”. Eu nunca fui de beber (muito) e muito menos de brigar. Mas aquelas estórias me encantavam. Imediatamente me tornei um fã daqueles que vestem a camisa, cola pôster na parede e tudo mais. De modo que quando soube que os caras estariam em Goiânia – e nesse período eu morava lá – não podia deixar de ir vê-los ao vivo. E assim fiz.

Era uma noite de sábado, a data já não me lembro. Cheguei cedo ao local e fiquei tomando algumas cervejas. Tinha pouca gente, mas aos poucos o público foi aumentando, sobretudo na medida em que se aproximava a hora do Matanza subir ao palco. Logo pudemos perceber que houve um erro de calculo da organização – o público era bem maior do que o espaço podia abrigar. De modo que quando ouvimos os primeiros acordes da banda passando o som, formou-se um tumulto na entrada do salão. Como eu queria ficar mais próximo possível do palco me enfiei bem na frente da galera que pressionava a porta do salão para entrar.

Não foi uma coisa muito inteligente a se fazer. Pois quem estava na frente era pressionado pela multidão atrás. E quando escutávamos os acordes à pressão só aumentava. Com isso muita gente que estava na linha de frente ia desistindo. Eu quase fui um desses, mas como tinha uma boa experiência no Eixão – nos horários de pico, persisti e fiquei até que as portas se abrirem.

Quando as portas se abriram a multidão ocupou todo o espaço. E mesmo assim muita gente não conseguiu entrar. As portas não puderam ser fechadas e nem as janelas – com isso o ar-condicionado foi para o pau. E o palco do Martin Cererê mais parecia uma sauna. Todo mundo começou tirar as camisas, inclusive os membros da banda – que não deram tempo para que houvesse reclamação. Era uma pedrada em cima da outra. 

Eles estavam com o show do disco “MTV apresenta Matanza” cheio de clássicos da banda. Como um mestre de cerimonias Jimmy anunciava os petardos: “Meio psicopata”, “Mesa de Saloon” que para mim tem um dos refrãos mais incríveis da banda “Foi numa mesa de bar que a conheci. Bem no meio do saloon me apaixonei. E logo na manhã seguinte eu descobri. Com ela não consigo mais viver dentro da lei”. E o que dizer da “O ultimo bar” – “O ultimo bar quando fecha de manhã, só me lembra que não tenho aonde ir. Bourbon tenho demais, mas que diferença faz, se você não esta aqui pra dividir?”. E da “Tempo ruim” – “quero que a estrada venha sempre até você. E que o vento esteja sempre a seu favor. Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão. E que esteja ao seu lado, seu grande amor”.

Além do Jimmy nos vocais, o Jonas na bateria, o China que ainda era o baixista e o Mauricio na guitarra – que já estava substituindo o Donida nos shows ao vivo, estavam inspiradíssimos naquela noite. E assim o set list ainda contou com “Maldito hippie sujo”, “E tudo vai ficar pior”, “Matarei”, “Clube dos canalhas”, “Eu não gosto de ninguém”, “A arte do insulto”, “As melhores putas do Alabama”, “Ela roubou meu caminhão”, “Whisky para um condenado” entre outras. Foi um show memorável, uma noite inesquecível. Que ganha um sabor mais especial, sobretudo agora que a banda encerrou suas atividades, e que muito provavelmente não terei outra oportunidade de vê-los em ação.

Mas não é por isso que fiquei triste com o anuncio do fim da banda. E sim por que eles estavam no auge. É só analisarmos o ultimo disco que eles lançaram “Pior cenário possível”. Cheio de clássicos como “A sua assinatura”, “Matadouro 18”, “O pessimista” e em especial “Sob a mira”. No entanto, como fã, nos cabe respeitar a decisão dos caras e desejar que eles se realizem nos projetos futuros que vierem a desenvolver. Como também agradecer por tudo que eles construíram juntos e que permanecerá nos discos que eles gravaram.

Pedro Ferreira Nunes – é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.

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