segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O Método de Marx

Pedro Ferreira Nunes 
Graduando em Filosofia pela UFT

José Paulo Netto
O filósofo alemão Karl Marx é sem dúvidas um dos grandes pensadores da modernidade. Seu pensamento influenciou e continua influenciando tanto o que se produz no campo da filosofia como das ciências sociais. Aliás, ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Marx faz parte das matrizes teóricas das ciências sociais. E a sua relevância é tamanha que para José Paulo Netto é impossível compreendermos a contemporaneidade sem Marx. E é para mostrar essa relevância que o professor José Paulo Netto irá introdutoriamente nos apresentar o método de Marx.

José Paulo Netto é um dos principais conhecedores do pensamento Marxiano – sendo uma referência não só no Brasil como também em todo o mundo. Sua formação acadêmica se deu no curso de Serviço Social – onde fez a graduação ainda no final da década de 60 na Universidade Federal de Juiz de Fora e em 1990 recebeu o titulo de Doutor pela Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor aposentado da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sendo autor de importantes obras entre as quais podemos destacar: “Introdução ao Estudo do Método de Marx”, “O que é marxismo”, “Cotidiano: conhecimento e crítica”, “Pequena história da ditadura brasileira”, “O leitor de Marx” entre outros.

José Paulo Netto inicia sua fala chamando atenção para a distorção que o pensamento Marxiano sofreu ao longo do tempo. Isso se deu tanto por parte daqueles que discordam das suas ideias como também pelos seus seguidores (os marxistas) que no afã de popularizar a sua obra entre os trabalhadores acabaram vulgarizando-a, simplificando algo que não é simples. E esse reducionismo do pensamento marxiano se deu, sobretudo, no período stalinista – onde o pensamento de Marx era utilizado para legitimar o governo soviético. 

Netto também chama atenção para a “fortuna editorial” de Marx, sobretudo no Brasil – que em relação à de Durkheim e Max Weber, é a menos conhecida. Para se ter uma ideia ele dá como exemplo importantes obras de Marx como “A ideologia alemã” e os “Grudrisse” que são fundamentais para compreensão do seu pensamento, mas que importantes marxistas como Lênin, Rosa Luxemburgo e Gramsci não tiveram acesso. O primeiro foi publicado apenas em 1932 e o segundo em 1941. E mesmo hoje, ainda há bastante coisa que não foram publicadas.

José Paulo Netto critica o reducionismo do pensamento Marxiano a dimensão econômica. Pontuando que em Marx não há determinismo. De modo que para compreender seu método é fundamental a categoria de totalidade. Netto também pontua que o pensamento de Marx é “vocacionado a intervir na luta de classes”. E é a partir do surgimento da classe operaria que surgirá as condições teórico-metodológica para que ele desenvolva sua hipótese – que expressará o interesse dessa nova classe.

Netto pontua que a natureza da obra de Marx é a construção de uma teoria social que toma como objeto a sociedade burguesa – Sociedade essa que ele buscará compreender. De modo que Marx é um teórico do capitalismo e não dá natureza ou do comunismo – que aparece sim na sua obra – mas não como fator central. 

Para construir essa teoria social ele não partirá do nada. Sendo um profundo conhecedor da história da filosofia terá grande influência de filósofos como Aristóteles, Kant e Hegel. Aliás, sem este ultimo é impossível compreender o pensamento de Marx – sobretudo em relação a sua afirmação de que “a aparência não corresponde à essência”. Esse conceito de essência Marx pegará de Hegel. Como também a importância da história como fator relevante para compreendermos a dinâmica social.

Marx reconhece os diferentes tipos de conhecimento: Mágico, Prático-mental, Estético e Senso comum. Porém a sua preocupação é o com o conhecimento teórico. E o que é o conhecimento teórico? É a reprodução ideal na cabeça, do movimento real do objeto. De modo que para Marx teoria não é um retrato da realidade – algo estático. 

Sendo assim o ponto de partida para o conhecimento é o empírico. No entanto o conhecimento não se esgota na aparência. Pois a aparência ao mesmo tempo em que revela, oculta. De modo que é preciso alcançar a estrutura do objeto, isto é, a sua essência. Dai que para Marx, como falamos anteriormente, a aparência não corresponde à essência. Para que possamos chegar à essência do objeto é preciso extrair dele as suas categorias constitutivas e não colocar nele. É assim que Marx opera ao fazer a critica do modo de produção capitalista – ele não cria nada – apenas retira do seu objeto de analise suas categorias constitutivas.

Para José Paulo Netto em Marx há duas ideias básicas: A primeira é que “o Ser é movimento”. É um ser constituído a partir de tensões e contradições que se move através de rompimentos. E esse movimento tem uma dinâmica imanente e a sua natureza é o real e a suas expressões. O que é diferente de Hegel para quem a natureza do movimento é o espirito. Já a segunda ideia básica em Marx é de “categorias especificas”. As quais compreenderemos melhor adiante.

Ainda sobre o Ser, Marx o compreende como algo unitário e não identitário – composto por diversidades. Esse Ser tem três modalidades: Inorgânico, Orgânico e Social. Sendo que o que diferencia uma modalidade da outra é a complexidade. Por exemplo, o inorgânico não se reproduz e não depende dos outros. Já o orgânico produz e depende do inorgânico. O Social por sua vez é uma síntese dos dois anteriores e é dependente do orgânico, porém não se reduz a condição de natureza ao criar a sociabilidade. De modo que cada modalidade do Ser tem suas especificidades e não se pode transferir as características de um para o outro. 

A partir dai voltamos as categorias específicas – no caso do Ser social – a liberdade e a finalidade (teologia). Essas categorias são especificas do Ser social. E no caso da liberdade, Netto pontua que para Marx “é escolher entre duas alternativas reais”. Diante disso Netto ressalta que “pensar uma teoria social é pensar a constituição do Ser social”. E é isso que Marx faz.

Somos animais, mas não nos reduzimos a essa condição. Pois temos uma cultura própria, temos linguagem. E isso são aspectos característicos do Ser Social que aprendemos e que nos direcionam no sentido de regularmos a natureza.

O Ser Social é o objeto de Marx – um objetivo inesgotável por se tratar de um objeto em movimento constante. De modo que só podemos conhecer efetivamente esse objeto quando ele acaba. No caso de Marx ele quer compreender o modo de produção capitalista que ainda não se esgotou. Por isso que sua teoria social é tão relevante ainda hoje, pelo fato que esse modo de produção ainda não foi superado. É óbvio que a dinâmica atual do capitalismo é bem diferente de quando Marx elaborou sua teoria. Mas sem Marx não conseguimos compreende-lo na contemporaneidade. Mas nos limitarmos a Marx e ao que a tradição marxista nos legou é também um equivoco como aponta o professor José Paulo Netto.

Por fim, o professor José Paulo Netto destaca a importância de Marx ao defender uma “concepção democrática do conhecimento”. Que consiste em afirmar que qualquer um pode alcança-lo. Se colocando contrário a uma visão aristocrática onde só alguns “eleitos” detêm o conhecimento. Netto destaca a importância da pesquisa ressaltando a diferença entre o sujeito rico e o sujeito pobre. Uma diferença que se dá, sobretudo em relação à formação cultural. Marx era um sujeito rico – culturalmente bem formado e que não desprezava a história. Daí a relevância do que ele produziu.

REFERÊNCIA

INTRODUÇÃO AO MÉTODO DE MARX com JOSÉ PAULO NETTO (primeira parte) – PPGPS/SER/UnB... Disponível em: https://youtu.be/2WndNoqRiq8. Acesso em: 12 Out. 2018.


*Trabalho apresentado à disciplina de História da Filosofia Moderna II, do Curso de Licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Palmas, 2018.

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