Há uma discussão muito grande sobre a falta de qualidade do ensino a distância sobretudo se comparado ao ensino presencial. Apesar das críticas o Ensino Superior EAD tem se expandido pois sem dúvidas é mais acessível que o Ensino Superior Presencial – não só do ponto de vista econômico mas também no seu alcance, ao chegar em localidades onde não há faculdades.
Mas ser mais acessível basta? E como fica a qualidade dos profissionais que estamos formando? Num contexto onde a educação se tornou mercadoria a questão da qualidade parece ter ficado em segundo plano – o importante é lucrar. Mas isso só no Ensino EAD? O Ensino Presencial também não está voltado para a lógica de mercado? Eu tive a oportunidade de estudar nos dois sistemas de ensino e pude perceber algumas diferenças significativas.
Entre essas diferenças diria que a principal não consiste no fato de que no ensino EAD tem uma aula presencial por semana ao invés de todos os dias – com um professor virtual ao invés de um presencial. Para mim não é quantidade de encontro que define a qualidade do ensino. Até por que uma boa aula vale mais do que dez aula ruim. Se aproveitado bem (inclusive tendo consciência que o estudo não se resume a aula), se aprofundar nas dicas de leituras, fazer os exercícios e participar dos fóruns de discussão, não há tanto prejuízo assim. Pois o fato do aluno estar todo dia na sala de aula não quer dizer que ele está ali de fato.
Durante a minha graduação presencial, não foi rara as vezes que vi colegas mais preocupados com a lista de presença do que com o que o professor estava falando. Alguns aliás, não faziam a menor cerimônia em colocar um fone de ouvido e ficar vendo vídeos ou jogando na Internet com seus smartphones.
Também não diria que a diferença é a quantidade menor de conteúdo que se estuda. Pois quantidade menor ou maior de conteúdo não significa mais qualidade. Pelo contrário, leva a um processo onde o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende. Tanto Rousseau como Paulo Freire ao refletirem sobre educação chamaram atenção para essa questão que revela o caráter autoritário nas relações pedagógicas entre professor e aluno. “Citamos uns 40 livros e mandamos o aluno ler uns 200 capítulos, além dos 40 livros” (Freire, 2012, p. 30). E o aluno o que faz? Não faz. Pois além do que esse professor manda fazer tem as leituras e as tarefas de outras disciplinas.
Diria também que os professores do Ensino Superior EAD não são menos preparados e qualificados que os professores do Ensino Superior Presencial. Ou que as atividades bem como as avaliações sejam inferiores. Diante disso ousaria afirmar que do ponto de vista do ensino não há uma disparidade significativa entre um e outro sistema. Agora o que cabe perguntar é se uma formação de qualidade se resume apenas ao ensino.
Creio que não. E é ai que o Ensino Superior Presencial se diferencia da EAD, ao ir além do ensino, oferecendo também a pesquisa e a extensão. O ensino, a pesquisa e a extensão são considerados os pilares da Universidade. Eles são independentes entre si, mas devem funcionar de forma interligada, por tanto, indissociáveis como estabelece a constituição federal de 1988. A pesquisa e a extensão contribuí para se aprofundar o conhecimento acerca dos conteúdos ensinados. Daí a importância da presença delas nos processos de formação sobretudo por que propiciam a dimensão prática da profissão e o seu papel social na sociedade.
Com isso não há dúvida, o profissional formado no sistema presencial de ensino tem as condições para ter uma formação mais completa e por conseguinte ser um profissional mais completo – mas só estará pronto completamente na prática profissional – que quase sempre é diferente da formação.
Pesquisa e extensão não existe no EAD – onde há uma ênfase no ensino. Aliás, sejamos honestos, essa realidade não é exclusiva do Ensino EAD. Pois boa parte das instituições superiores de ensino (por questões de economicidade) não tem pesquisa e extensão – sendo uma prática quase exclusiva das instituições públicas de ensino.
Como disse, tive a oportunidade de passar pelos dois sistemas de ensino: o EAD e o Presencial. E a grande diferença para mim foi sem dúvida a questão da pesquisa e a extensão que não tive no Ensino EAD. Mas não diria que por isso não tive uma boa formação no ensino á distância – talvez por que procurei fazer pesquisa e extensão de forma autônoma nos movimentos sociais. No entanto não se compara com uma formação numa instituição presencial (preferencialmente pública) que tenha de forma articulada o Ensino, a Pesquisa e a Extensão.
Diante disso é preferível (apesar dos retrocessos que vem ocorrendo) batalhar para ingressar numa instituição pública de ensino em cursos na modalidade presencial. Mas sabemos bem, nem sempre é questão de opção mas do que é possível. E o que é possível para parcela significativa da população é o Ensino EAD – esse no entanto não precisa ser sinônimo de qualificação ruim – para tanto dependerá de você buscar alternativas para complementar os gargalos que irá se deparar no trajeto da sua formação.
Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular. Cursou a faculdade de Serviço Social pela Unopar e Licenciou-se em Filosofia pela UFT.
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