segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A Esquerda e as perspectivas de mudanças


“deve-se aproveitar a experiência do movimento e dela tirar lições práticas...”.

Lenin

Enfim as primeiras vacinas contra á COVID-19 foram aprovadas e milhares de pessoas mundo afora estão sendo imunizadas – em alguns países mais do que outros, mas estão. Esse talvez seja o começo do fim dessa pandemia – que continua fazendo seus estragos. E continuará até que esse fim chegue, pois não existe vacina contra a mediocridade.

Falando em mediocridade, no dia que a Diretoria da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) se reuniu para deliberar sobre o uso emergencial das vacinas produzidas pelo Butantan e pela Fio Cruz, fiquei lendo alguns comentários no chat da transmissão ao vivo. O nível desses comentários me causou imensa tristeza. Me pareceu que estávamos numa partida de futebol. De um lado a torcida a favor, do outro lado a torcida contra. Ninguém estava preocupado com o jogo, mas em agredir a torcida rival. Isto é, ninguém estava preocupado com o conteúdo da discussão, e muitos ali nem com a importância da vacina para combater a pandemia, mas com o fato de que a aprovação ou não significava a derrota do adversário. 

Postura essa vinda dos bolsonaristas não nos causa nenhuma surpresa. Agora o campo progressista entrar nesse jogo é que é o problema. Ora, ao entrar nesse jogo as chances da esquerda reverter a dinâmica atual das coisas tornam-se cada vez mais difíceis. Afinal de contas estamos falando de um jogo que eles dominam muito bem, e fazer o mesmo significa ter que abrir mão de princípios éticos. E abrir mão dos seus princípios éticos, é deixar de ser esquerda.

Creio firmemente que não será abrindo mão de fazer um debate qualificado para agredir o outro que pensa diferente de mim que se derrotará Bolsonaro e seus congêneres. Por isso eu abomino o qualificativo de gado que alguns antibolsonarista utiliza para atacar o posicionamento de defensores do atual governo. É uma postura antidialogica que mina qualquer possibilidade de se buscar reverter uma determinada posição. 

Quando se  bloqueia o diálogo, o que se está bloqueando é a perspectiva de mudança. 

Tenho consciência que não é possível dialogar com todo mundo, sobretudo com aqueles que não querem dialogar. Mas quando eu assumo uma postura antidialogica estou fechando a possibilidade de diálogo para todos e não apenas para os que não querem.

Acredito que os defensores do atual governo se dividem em dois grupos: O primeiro são os mau caráter, os que lucram com o desmonte do Estado e com o caos do Governo. E o segundo são os ingênuos, aqueles que acreditam que Bolsonaro é um enviado dos céus. Com os primeiros não a diálogo, mas enfrentamento. Já com os segundos não é só possível, como preciso se se quisermos vislumbrar alguma possibilidade de mudança. 

Esse diálogo não ocorrerá nas redes sociais – que viraram um lugar onde majoritariamente se destilam ressentimentos. Mas no contato diário através do trabalho de base. Hoje não se faz mais trabalho de base. E como consequência convoca-se uma greve e não há adesão, defende o impeachment do Presidente, mas não tem força de mobilização para colocar o povo na rua – único caminho para pressionar o congresso a tocar o processo. 

Diante de tudo isso o que nos resta dizer é: Ou a esquerda faz uma autocrítica e repense a estratégia que vem utilizando para derrotar o bolsonarismo ou as perspectivas de mudanças a curto e médio prazo serão cada vez menores. 

Para concluir lembremos das palavras de Lenin no célebre “Que fazer?”, onde fala que a experiência revolucionária e a capacidade de organização são coisas que se adquirem com o tempo. Mas que, no entanto, se faz necessário ter a vontade de desenvolver as qualidades necessárias para que isso ocorra. Sendo que para desenvolver essas qualidades é preciso ter consciência dos seus defeitos. E ter consciência dos seus defeitos é um passo importante para poder corrigi-los.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia. 

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