David Sumeacher (2020) começa por lembrar que desde a cultura clássica Grega a Filosofia é ensinada aos jovens. Sócrates, um dos seus grandes representantes é um bom exemplo disso. Aliás, quando foi condenado a morte, entre as acusações que pesava sobre seu ombro era o de corromper os jovens. Diante disso pode se dizer que para parte da cultura grega, o filosofar com crianças e jovens não era algo estranho. Para Sumeacher (2020) isso não é exclusivo da cultura ocidental. No Oriente há casos documentados de crianças e jovens que estudavam e exercitavam práticas filosóficas em monastérios budistas.
No contexto atual a Escola tornou-se sobretudo um espaço voltado para formar cidadãos. Diante disso Sumeacher (2020) questiona por que não há de ter Filosofia nessas escolas? Não seguimos necessitando disso? Desse modo, por que a Filosofia não é parte do currículo da Educação Básica? É então que o nosso autor propõem três argumentos para defender a Filosofia na Educação Básica: “Uno de ellos es el multiculturalismo, otro el enseñar valores a partir de interacciones y no meras enunciaciones y el tercero es el combate contra la violencia”. Vejamos cada um deles.
O Multiculturalismo
Com um nivel elevado de diversidade nas nossas sociedades o multiculturalismo torna-se um tema atual e necessário. É o que nos diz Sumeacher (2020) que também salienta que as crianças de hoje escolhe seu caminho. Desse modo há que se questionar: De que maneira formaram um critério para eleger entre tantas possibilidades? Será que poderam eleger? No meio dessa diversidade a Filosofia pode dar uma contribuição importante. Sobretudo ao colocar a criança como protagonista do processo de construção da sua identidade. Buscando relacionar com a valorização da diversidade.
Educar nos Princípios Básicos e nos Valores Universais
Não é nenhuma novidade falar do papel da Educação na formação de uma consciência cidadã através do Ensino de princípios básicos e valores universais. Sobretudo o respeito, o compartilhamento, a cooperação e o diálogo. No entanto há uma grande contradição. O Professor que ensina a esculta, não escuta. Ensina a compartilhar e a cooperar, porém não compartilha e nem coopera. O ensino desses valores não tem sentido. É preciso que isso reflita na prática de ambos, tanto dos professores como dos estudantes. É por isso que para Sumeacher (2020) a forma de trabalhar com perguntas e diálogo fica empobrecida. Sobretudo por que as perguntas esperam respostas predefinidas ou que leva ao que o Professor considera que são esses valores, sem que realmente saiba a origem das ideias que busca ensinar.
Nosso autor ressalta (2020) “la educación que solo guía pero no enseña a “guiarse a sí mismo” tiene en general la mítica creencia de que el otro en algún momento lo hará, que tomará la iniciativa para sí, pero esto es una idea completamente falsa”. Ele continua: “La filosofía para niños no es solamente un conjunto de temas, conceptos o valores a ser presentados, también es una variedad de enfoques metodológicos o perspectivas educativas de trabajo en donde el Otro, el niño, tiene un lugar fundamental”. E concluí esse tópico falando como a incoerência castra o pensamento autônomo: “hablar de una cosa, pero hacer lo contrario, es una de las mejores formas para generar una negación en la aceptación de aquello que se está diciendo o invitando a pensar”. Desse modo, ensinar valores deve se partir de interações concretas, relações baseadas no respeito, no compartilhamento, na cooperação e no diálogo.
Combater a Violência
Para David Sumeache (2020) a violência através de uma retroalimentação de si mesma, opera como um mecanismo reativo de defesa diante de uma realidade que se apresenta inóspita. Diante disso nosso autor questiona: De que maneira faremos mais hospitaleira a realidade que os meninos vivem? Como buscaremos modificar as relações baseadas na agressão e no maltrato?
Um ponto importante nesse sentido é a necessidade da sociedade criar sólidos mecanismos de reconfiguração dos vínculos, de consideração e valorização, assim como de uma escuta ativa.
Mas como a Filosofia para criança pode contribuir para diminuir a violência? Questiona nosso autor, que responde: “Principalmente porque nos ayuda a recrear nuestros vínculos tocando temas de interés bajo un contexto de cuidado del outro”. Isto é, trabalhando o autoconhecimento e o auto cuidado mas sem esquecer do cuidado com o outro, isto é, o aprender a conviver – estabelecer vínculos – valorizar a vida e do outro de maneira prática e metodológica.
Para David Sumeacher (2020) “introducir este tipo de acción y compromiso en la educación básica, implica una formación integral de los docentes, requiere acercarse a sus procedimientos y no sólo a sus conocimientos”. É por ai que se combate a violência de maneira efetiva. Conclui o nosso autor, salientando para seguinte questão: La filosofía para niños no es algo ‘extraño’ que queramos introducir hoy en nuestras sociedades, realmente lo extraño es no tener un espacio filosófico de formación que permita a los ciudadanos ser constructores de su identidad y definir proyectos de vida que beneficien a nuestra comunidad, a nuestro país y a nosotros mismos.
Na sua conclusão aparece o termo Projeto de Vida. De acordo com esse autor para a criança e o jovem ter condição de definir um projeto de vida que beneficie não apenas a si, mas que também pense na comunidade, é necessário uma formação filosófica que no mínimo promova o multiculturalismo, ensina valores e combata a violência.
Creio que essa reflexão é fundamental para pensarmos como trabalhar o Componente Curricular de Projeto de Vida, sobretudo no Ensino Fundamental – que só tem sentido se trabalhado numa perspectiva de Filosofia para crianças.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.
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