Ligo aquela máquina
De lavagem cerebral
E aceito tudo que me impõem.
Por isso eu não sei o que quero
Por isso eu não sei o que quero...
Garotos Podres
Numa formação com o pessoal do MEC, eu já havia ficado com o pé atrás em relação ao Componente Curricular Projeto de Vida na Educação Básica. Me pareceu numa primeira análise, que é por aí que pretendem aprofundar a lógica mercadológica na educação – esse negócio de Projeto de Vida não tem outra intencionalidade se não preparar corpos dóceis para servir ao mercado (pensei comigo). Não por coincidência está lá nas 10 competências Gerais da BNCC ao lado de trabalho.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a competência Trabalho e Projeto de Vida tem como objetivo desenvolver a habilidade de “valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.
Digamos que concordemos com a necessidade de desenvolver essa habilidade. Mas com crianças? Analisando o que é proposto me parece um tanto sem sentido o Componente Curricular Projeto de Vida no Ensino Fundamental. E até mesmo no Ensino Médio. Podemos até falar em Projeto de Vida na Educação Básica, mas não vejo a necessidade de um Componente Curricular específico para isso.
No entanto, essa questão não está mais em discussão. O fato é que temos o Projeto de Vida como componente curricular no Ensino Fundamental e logo teremos no Ensino Médio. Diante disso o nosso desafio é trabalhar da melhor forma possível esse componente. E trabalhar da melhor forma possível com o Projeto de Vida é ir no sentido contrário do que propõem o mercado – o status cos.
Nesse sentido mais do que levar resposta aos estudantes, devemos levar questionamentos/perguntas. Paulo Freire disse numa entrevista certa vez que o problema da nossa educação é que ao invés de levarmos perguntas, levamos as respostas. E o pior, esquecemos da pergunta e ficamos reproduzindo respostas. Com isso castramos a curiosidade e a criatividade do estudante. Ora, se ele já tem a resposta, para que se esforçar na busca de algo?
Antes de falar em Projeto de Vida devemos questionar o que é a vida. Pois se não sei o que é a vida como posso falar em Projeto de Vida? Diante disso reafirmo o que disse numa formação sobre o Componente Curricular de Projeto de Vida ao ser questionado sobre o que levaria para os meus estudantes. Respondi: - Questionamentos e reflexões.
Aqui abro um parêntese para dizer que na fala dos outros professores me veio uma preocupação do Projeto de Vida ser abordado numa perspectiva da autoajuda. Sobretudo quando se enfatiza em demasia às questões socioemocionais a partir de uma pseudopsicologia.
Voltando a questão. Creio, por tanto, que o nosso papel enquanto Professor de Projeto de Vida é levar questionamentos que possibilite reflexões ao estudante sobre a sua existência. Nesse sentido a Arte e a Filosofia são aliadas fundamentais possibilitando o aprofundamento dessas reflexões. A partir daí um projeto de vida será uma consequência natural e não imposição.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário