Óbvio que para um fã não é tão fácil aceitar “o fim” do seu objeto de adoração. Da mesma forma que alguém quando perde uma pessoa querida. Demoramos perceber que a banda, na verdade, não vai acabar. Mas continuar existindo de outra forma. A partir daquilo que ela produziu ao longo dos anos e das memórias que temos com ela. No meu caso lembro de ter conhecido o som do Sepultura pela televisão numa madrugada lá no início dos anos 2000, numa performance no Rock in Rio Lisboa. Mas foi quando mudei para Goiânia nos idos de 2005, que passei a apreciar mais metal e punk, e ter mais acesso a essa cultura, que o Sepultura passou a fazer parte da minha trilha musical – no top três das minhas bandas preferidas ao lado do Motorhead e Ratos de Porão.
A primeira vez que fui num show foi em 2007 no Goiânia Noise. Lembro de ter ficado impactado com a performance da banda. Naquele momento tive a exata dimensão do que era o Sepultura – uma banda diferenciada – dessas que a história reserva um capítulo especial. Desde então a banda só melhorou, sobretudo depois da entrada do Eloy Casagrande.
Falar em entrada e saida de integrantes é tocar em polêmica. Alimentada sobretudo pelo ressentimento dos irmãos Cavalera, especialmente o Max. Da minha parte não há nenhuma polêmica. Quando conheci a banda no início dos anos 2000, Derrick já era o vocalista. De modo que a saída do Igor e depois do Jean foram mais significativa para mim. No entanto não tem como deixar de reconhecer a qualidade do trabalho da era Max.
Para mim não há melhor ou pior. São fases diferentes. No entanto, nós sabemos que a sociedade que vivemos gosta de alimentar polêmica e competição entre os indivíduos. É nesse contexto, por tanto, que compreendemos toda a discussão em torno do que a banda produziu. Confesso que o meu carinho de fã maior é pela formação atual (Andreas, Paulo, Derrick e Eloy). Sem deixar de reconhecer o legado que os ex-membros deixaram.
Por outro lado, arriscando uma análise mais técnica não dá para comparar o nível do Sepultura atual com o que faz os irmãos Cavalera, seja no Soulfly ou no Cavalera Conspiracy. Fazendo uma comparação com times de futebol, eu diria que o Sepultura atual seria um Manchister City ou um Real Madrid. Já os Cavalera um Palmeiras ou Flamengo.
Por que então parar agora se a banda está perfomando em tão alto nível? Foi a pergunta que muito se fez. Óbvio que quem acompanha os integrantes sabe que há questões pessoais envolvidas – experiências vividas, pelo guitarrista e líder do grupo – Andreas Kisser – a partir da morte da sua companheira Patrícia, que o fez ter outra compreensão da vida. Tanto é que quando analisamos a turnê de despedida do ponto de vista conceitual está lá de forma muito explícita a sua defesa de uma morte digna.
Estranho isso, não?! Falamos tanto em vida digna, mas em morte digna não. Mas deveríamos, por que disso não tem como fugir – da nossa condição de finitude.
Mas se a questão é o Andreas, por que não substitui-ló? Isso aconteceu durante alguns shows na Europa, tendo o Jean Paton assumindo a guitarra. Simplesmente pelo fato de que a banda decidiu coletivamente que é hora de parar. Ou seja, ainda que a ideia tenha surgido do Andreas, a decisão foi de todos. Quem melhor que eles para decidir a hora de parar?!
Nós ficamos tristes com essa decisão. Mas não podemos deixar de notar uma coerência com o legado construído pela banda – não abrir mão daquilo que acredita. Foi isso que fez com que eles renascessem (a música Kairos representa isso muito bem). Algo que sempre demostraram foi ter consciência do que estavam fazendo. E agora não seria diferente. Por fim, eles nos deixam mais uma grande lição – a vida é feita de ciclos. Compreender isso é estar melhor preparado para encarar outras possibilidades que ela nos oferece. E que muitas vezes, por medo e comodismo, deixamos passar.
Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.
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