quinta-feira, 20 de junho de 2024

Os afetos que circulam entre os muros das escolas II

Estamos em outra escola, mas o ambiente de conflitos não é diferente. De um lado professores desmotivados, adoecidos mentalmente, que mal vem à hora de poderem se aposentar. Do outro lado, estudantes sem perspectivas de vida. 

É nesse cenário que chega um professor substituto que terá pela frente o desafio de encarar esse ambiente um tanto insalubre juntamente com uma vida pessoal não menos insalubre - sua mãe suicidou-se e ele acabou sendo criado pelo avô. 

Atualmente o seu avô vive num asilo, mas ele visita-o com frequência. Mesmo suspeitando que o motivo do suicídio da mãe tenha sido um possível abuso por parte do avô, ele não o abandona. Mas carrega esse trauma consigo.

Na escola percebe, sobretudo a partir do contato com uma aluna, que não é só os professores que estão adoecidos mentalmente. Ele se torna um espelho para essa aluna que está passando por um momento de muita dificuldade - em casa sofrendo abuso do pai, e na escola sofrendo bullying dos colegas por não se encaixar nos padrões de beleza socialmente impostos. O problema é que na situação psíquica que o professor se encontra ele não é lá um grande espelho. 

A situação acaba se deteriorando tanto em casa como na escola e a estudante acaba cometendo suicido.

Esse enredo descrito é do filme norte-americano Detach-ment (que no Brasil recebeu o título de “O substituto”) de 2013, dirigido por Tony Kaye – contando a experiência do Professor Barthes numa escola secundarista como professor substituto. Um ponto a se ressaltar é que o diretor do filme traz depoimentos reais de professores para dar uma ênfase maior à situação dramática da educação naquele país. 

Outro ponto é a ênfase dada ao fator externo, isto é, como os afetos que nos afetam fora da escola influenciam nos afetos que circulam entre os muros da escola. E nesse caso específico, um afeto que se sobressai é a culpa. 

De acordo com Espinoza (2014, p. 66) a culpa “é a tristeza concomitante à ideia de um feito que cremos ser produto de um livre decreto de nossa mente”. Essa tristeza limita ou diminui a nossa potência de agir e isso é bem perceptível no filme através da expressão facial tanto dos professores como dos alunos. Mas a cena que explicita isso de forma contundente é o suicídio da estudante.

Para Espinoza (2014, p. 43) “a mente deixa de afirmar o corpo por que surge uma outra ideia que exclui a existência presente de nosso corpo, e consequentemente de nossa mente, e é contrária à ideia que constitui a essência de nossa mente”. E isso pode ocorrer quando somos afetados pela culpa e não temos a capacidade defendida por Aristóteles (1991), isto é, de agir moderadamente.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.

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