“A verdadeira provação...
se dará quando nossas sociedades
começarem a se movimentar novamente”.
Slavoj Zizek
Há algum tempo não faço meus comentários sobre a conjuntura – estilo punk Rock – breve como um soco no estômago. Mas como dizia uma Professora do curso de Filosofia – “nunca é tarde”. Sendo assim então vamos lá. Falarei aqui sobre o pacote de privatizações de bens e serviços públicos do Governo Carlesse aprovado pela Assembleia Legislativa e do combate ao Novo Corona Vírus pelos Gestores Públicos, tanto a nível Municipal como Estadual. A postura da população Tocantinense diante do número crescente de casos e óbitos em decorrência da pandemia. E a discussão sobre á volta ou não das aulas.
Vende-se!
Á Assembleia Legislativa do Tocantins não criou nenhum obstáculo para aprovar o pacote de privatizações do Governo Carlesse. Entre bens e serviços que serão entregues a iniciativa privada está a concessão de rodovias, a Agência Tocantinense de Água (ATS) como também ações da Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães. Tudo isso justamente num momento em que o foco da população e do debate público está voltado para o combate ao Novo Corona Vírus (COVID-19). O que nos leva a questionar a moralidade dessas decisões, tanto por parte do executivo como do legislativo.
Modelo fracassado
Desde os governos Siqueira, passando por Marcelo Miranda, o projeto privatista tem se demostrado um fracasso. Sobretudo no que diz respeito a melhoria dos serviços prestados, a redução dos custos bem como na utilização dos recursos arrecadados para melhoria da qualidade de vida da população. Mas por que mesmo assim continuam privatizando? Por que alguém lucra com isso. Esse alguém certamente não é o povo – o povo vai pagar a conta. Por exemplo, em relação ao serviço de energia elétrica, o tocantinense já paga uma das tarifas mais caras do país (mesmo sendo um Estado produtor de energia), imagine agora com o Estado abrindo mão mais ainda das suas ações nesse setor?!
O caminho mais fácil?
Ao seguir com o projeto de privatização dos bens e serviços públicos dos seus antecessores – Carlesse opta pelo caminho mais fácil para arrecadar dinheiro. O problema é que se trata de um dinheiro que vêm fácil e que tende a acabar mais facilmente ainda pois são muitos o que querem uma “beirinha”. Outro ponto é que esse caminho que aparentemente é o mais fácil deixa o Estado refém de grupos empresariais – que só entendem a linguagem do lucro – e para manter o lucro em alta – espoliar o povo é um mero detalhe.
Enquanto isso o novo corona vírus avança
Se ao final da pandemia de COVID-19 não tivermos os estragos que observamos em outros entes da federação (e outros países) certamente não será graças a condução dos nossos representantes políticos. Num momento em que a palavra de ordem deveria ser a união e colaboração entre os gestores das três esferas governamentais, o que vimos foi o velho jogo de empurra-empurra – a tentativa de jogar nas costas de outro a responsabilidade pela falta de competência em gerir uma crise da magnitude da que estamos passando.
Ética e Política em tempos de pandemia
O comportamento do tocantinense nesse período de pandemia tem sido, majoritariamente, em desacordo com princípios éticos elementares. E em grande medida essa postura é alimentada pela condução política confusa de diversos gestores públicos. É isso que acontece quando a política não é utilizada para que alcancemos o bem comum – despertando nas pessoas ações justas. Desse modo não dá para esperar outra postura dá população, se não a que estamos assistindo.
Ética e Política em tempos de pandemia II
Por outro lado não dá para colocar 100% na condução política dessa crise a postura antiética de parte significativa da população. Assumamos nossa cota de responsabilidade individual diante das escolhas que fazemos como por exemplo utilizar ou não máscara em espaços públicos, promover festas clandestinas e ignorar as orientações dos profissionais da saúde.
Os tempos estão mudando
A atitude de não seguir o que recomenda os profissionais da saúde, mais do que uma postura de insubordinação, revela desespero. Essas pessoas estão vendo o seu mundinho ruir (o mundo que elas acreditavam ser estático) sobre seus pés e agarram-se como podem nos vestígios de uma vida passada, acreditando que de uma hora para outra tudo voltará a ser como antes. São como almas penadas que vagueiam sem fazer a passagem por estarem agarradas a um mundo que já não existe. E certamente não será do dia para a noite que perceberam isso – talvez na verdade nunca perceberam. Afinal de contas em pleno século XXI não tem pessoas que vivem como se estivéssemos no período medievo?!
Os tempos estão mudando II
O Filósofo esloveno Slavoj Zizek no artigo “O simples que é difícil de fazer” (disponível no Blog da Boitempo) salienta entre outras coisas que a rejeição as medidas de isolamento social como o lockdown “é na verdade uma rejeição à mudança”. Para Zizek isso é reflexo de uma espécie de psicose coletiva – que leva a um comportamento de negação do vírus – e assim, agimos “como se a infecção na realidade não ocorresse”. Ainda de acordo com Zizek “o mais difícil ainda está por vir”, pois a verdadeira provação não é tanto o lockdown e o isolamento, de modo que se “não inventarmos um novo modo de vida social, não será apenas um pouquinho pior, mas muito pior”.
O exemplo da Educação
Com o avanço da pandemia de COVID-19 as escolas foram as primeiras a fechar e certamente serão as últimas á retornarem. E esse retorno não será ao estágio anterior. De modo que se faz necessário pensar num novo modelo de educação que corresponda as mudanças que o contexto atual está nos impondo. Esse novo modelo de educação já está sendo pensado por agentes do Banco Mundial – um modelo que não corresponde aos nossos anseios por transformações profundas no modo de vida social. Desse modo precisamos começar a pensar e a disputar os rumos da educação no pós-pandemia e não ficarmos simplesmente discutindo quando será o melhor momento para o retorno.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.