domingo, 20 de março de 2022

Uma noite em 1992

O mundo ainda estava de ressaca com a queda do Muro de Berlim e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No Brasil o povo já sentia na pele a roubada que tinha sido eleger Fernando Collor para Presidência da República. Ao longo do ano o descontentamento popular só cresceria e culminaria no impeachment do “Caçador de Marajás”. Sempre fiel ao espírito do seu tempo a banda Ratos de Porão imortalizaria um show memorável através de um disco ao vivo. Foi numa noite do mês de fevereiro de 1992.

Ouvir o disco “RDP ao vivo – 1992” é ser levado para dentro do show, se colocar em frente ao palco, sentir a energia do público, entrar na roda, bater cabeça, subir no palco e pular nos braços dos demais, se deliciar com a performance da banda. E que performance, camarada. Boka (bateria), Jabá (Contrabaixo), Jão (Guitarra) e Gordo (Vocal) estavam afiadíssimos, e entregam tudo de si numa sequência avassaladora. Começando com uma dose de pessímismo e desespero em “Morrer” - Tenho medo do presente, tenho medo do futuro e de tudo que nos cerca/Sigo meu caminho, meu caminho é morrer!… Num peso e velocidade para fã nenhum de Motorherd colocar defeito. 

Em seguida eles emendam com “Mad Society” e pisam no acelerador novamente com “Crianças sem futuro” – “Qual será o futuro das crianças do brasil?/Só de aids esse ano já morreram mais de mil/Mas nosso governo finge que não vê/Seus filhos estão seguros/Eles vão sobreviver”. Segura esse soco no estômago, camarada.

Uma rápida pausa para pisar no acelerador novamente com “Ascensão e queda”. Em seguida vem “Beber até morrer” que entre outros versos tem – “Viver sempre chapado é melhor do que lutar?”. Na sequência tem Máquina Militar – “Olhe soldado/Esqueça seu passado/Você deixou de existir/Agora você é uma máquina do sistema/Somente para matar/Somente para destruir.”

Em menos de um minuto Gordo vomita três petardo – “Guerrear”, “Políticos contra o povo” e “Caos” – “Esse mundo é um caos/Essa vida é um caos/Caos!”. “Sofrer”, “Crussificados pelo Sistema” e “Vida Animal” vem na sequência. A introdução do contrabaixo do Jabá nessa última é coisa de louco. Aliás, o som do contrabaixo do Jabá merece todo destaque. Depois temos “Plano furado I e II” e então eles entoam “Anarkophobia” levando todo mundo ao êxito – “São faces marcadas/Que temem a revolução/Revolução, revolução/Cresce a tirania/Medo, alienação...”. Se o show tivesse se encerrado ali todo mundo voltaria para casa satisfeito. Mas teve mais, muito mais.

A nova sequência começou com, nas palavras do Gordo, “mais um ritizinho idiota” – “Aids, Pop, Repressão”. Em seguida vem “Realidades da guerra”, “Work for never”, “Velhus Decrepitus”, “Herança”, “Paranóia nuclear” e mais um petardo – “Crise Geral” – “Falam de anarquia/De lutar pra viver/O povo hoje em dia/Aprendeu a perecer/A apatia é grande/E a crise é geral/Se lembram disso sempre/Esquecem no carnaval”.

A próxima sequência tem “Que vergonha”, “Vivendo cada dia mais sujo e agressivo”, “Cérebros atômicos”, “Sentir ódio e nada mais” e “Igreja Universal” – “Você acredita em Deus e nos seus milagres?/Em troca de dinheiro, ele te fará feliz/Você chorou de emoção em nome da verdade/Nas mãos de um charlatão, você é um imbecil…”. E para finalizar um bônus com “Novo Vietnã”, “Poluição Atômica” e “Agressão, Repressão” – “É preciso mudar o sistema policial/Porque eles estão matando a pau/Gente decente/É preciso mudar o sistema policial/Porque eles estão matando a pau/Gente inocente”.

Agora em 2022 faz 30 anos desse show. A banda continua na ativa produzindo e gravando discos de qualidade. Como também fazendo shows memoráveis (daquele quarteto apenas o Jabá saiu da banda). O disco tornou-se uma referência para diversos outros artistas. E contribuiu para formação de uma consciência crítica sobre o nosso país. As letras atuais que dizem muito do mundo de hoje, em especial do nosso país, não são frutos de um exercício de adivinhação como alguns dizem. É antes de tudo reflexo de uma banda que nunca seguiu modismos e nem fugiu dos problemas concretos da nossa sociedade – a violência policial, a fome, a exploração, a questão ambiental, a alienação, a corrupção, os horrores da guerra – problemas estruturais que não podemos deixar de pautar. É o que faz o RDP nesse trabalho, e em toda a sua discografia,  daí a sua importância não só no campo da música.

Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 


terça-feira, 15 de março de 2022

A literatura de Ary Carlos – um provocador em terras tocantinas

Ary Carlos era famoso na UFT – Campus de Palmas. Com sua sacola de livros transitava por vários cursos ministrando a disciplina de Leitura e Produção de Texto. Não era uma figura muito amada pelos estudantes, nada que o incomodasse. Orgulhava-se da sua biblioteca particular e fazia questão de em todas as suas aulas apresentar brevemente alguns dos títulos que possuía. As vezes nos apresentava algumas das suas produções. Mesmo não tendo deixado nenhum livro publicado, tinha uma extensão produção a qual disponibizava na sua página no sitio Recanto das Letras.

Natural de Sambaíba no Maranhão. Ary Carlos foi mais um Maranhense que veio construir uma rica trajetória, tanto na docência como na literatura, em terras tocantinas. No âmbito acadêmico teve diferente formações, sobretudo no campo da Educação, da literatura e da Filosofia. Nessas duas últimas possuía o grau de Mestre. Era um pensador livre que se recusava restringir a sua produção ao ambito acadêmico.  Por isso não raramente figurava em jornais de circulação regional, como o Jornal do Tocantins, com artigos de opiniões. Essa verve provocadora pode ser conferida na sua extensão produção que perpassa diferentes gêneros.

Em sua página no Recanto das Letras (https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=3901&categoria=G) estão disponíveis 1203 textos. E a quantidade de leitura chega a quase 500 mil. Isso mostra que a sua produção tem um público leitor considerável. Desse modo, a decisão da família em manter sua página ativa (in memoria) é  louvável. Não tenho dúvida, que pela sua riqueza, essa produção tem um potencial de atrair cada vez mais leitores. E quem sabe alguma editora se interesse em publicar versões impressas da sua obra – que tem como característica a provocação. Através dos seus textos Ary Carlos busca resgatar o exercício da crítica numa perspectiva livre – sem filiações a correntes do pensamento. 

Falando em crítica um dos seus textos discorre justamente sobre essa temática. Dialogando com Marilena Chauí o nosso autor defende a crítica como o próprio exercício do pensamento – que não só nos ajuda a desmascarar as ideologias veladas como na compreensão de textos. Para Ary Carlos (2007) “a genuína crítica é forma de trabalho no qual pensamentos e discursos são vasculhados tendo em vista aquilo que silenciam.” Diante disso ele afirma: “não é à toa que os Críticos incomodam, provocam medo, são ameaças.”

Outro texto interessante é “Da poesia I”, onde o nosso autor reflete sobre o fazer poético, tecendo uma dura crítica ao que ele chama de banalização da poesia. 

“Confunde-se justaposição de versos (ou mesmo um só) com Poesia. De minha parte, mantenho a esperança de que re-acharemos não apenas a sua real dignidade (Poesia) como a do próprio Poeta perdidos nesse rastejar infame de consumos e mesmices atoleimados.” (Ary Carlos, 2007).

De poesia Ary Carlos entendia. E não só teoricamente. Era um Poeta com P maiúsculo. Na minha singela análise, na sua produção literária, a poesia é onde ele mostra o seu maior talento. Como podemos conferir em “Garrafunda...” (2010):

“Onde aquela garrafinha azulada, 

que descia por correntezas vermelhas, parou?

Há, sim, um menino corcunda escondido nela. 

Temia raios e trovões.


Neste mundão, moço, não há mar,

apenas uns córregos, podres filetes, 

riscando certos pontos.


Ouvi que um louco 

treinou tiro ao alvo quando a viu.

Cantarolam, garanto, uma canção estranha 

em que se ouve sobre um anjo feio 

que levou a garrafinha e o corcunda.”


Há muitos outros na sua vasta produção literária. Como por exemplo, “Acorda, Brasil, Acorda” (2018) – onde ele faz um alerta importante: Deus, por Cristo, a Inteligência/Nós, em Marchas destemidas./Estupidez é clamar por "messias". Infelizmente o grito do poeta não foi ouvido e hoje pagamos a conta. 

Para concluir, vamos de “Esperançar” (2017):

Hoje, a despeito de seus pesos,

Há de se Esperançar.

                      Arranca, pois, de teu Coração-Jardim,

                      Pétalas.

Cobre, cobre teus sorrisos,

Os bosques molhados,

As sombras chaves-de-noites.

                     O Amor é Luz,

                     O Amor é Sangue,

                     O Amor é Fogo...

No fundo, é secreta Viagem de Auroras!


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.


quinta-feira, 10 de março de 2022

O conto “a morte da porta-estandarte” e a violência contra a mulher


Numa noite de Carnaval um homem colérico de ciúmes assassina a sua namorada – uma jovem porta-estandarte, ainda na flor da idade. Esse é o enredo do conto “a morte da porta-estandarte” (1967) do escritor Aníbal Machado. “Que maldade matarem uma moça assim, num dia de alegria! Será possível?... Questiona uma personagem. Enquanto outra responde: - “Mas mataram, sim senhora, garanto que mataram!...”. E continuam matando, seja na rua, numa noite de carnaval, indo para faculdade, no trabalho, em casa, pois a violência contra a mulher é um problema que persiste na nossa sociedade. Como se explica essa violência? Como combate-la? São questões que pretendemos responder nessas breves linhas. 

Não precisaríamos ir na ficção para exemplificar casos de violência contra a mulher. É só abrir o noticiário que temos diariamente um leque de opções. Na maioria das vezes, tal como no conto do Aníbal Machado, o agressor é alguém do seio familiar. Mas ao contrário de uma notícia fria, no conto somos levado para dentro da estória. Vemos o agressor ser tomado pelo ciúmes, sentimos a aflição das mães ao imaginar que a vítima pode ser sua filha. E aí temos um aspecto importante – quantas mulheres submetidas a relacionamentos abusivos. O que nos leva a afirmar, se tratar de uma cultura – o patriarcalismo – uma cultura que prega a submissão da mulher. 

No conto, o agressor, como se fosse proprietário da namorada, proíbe-a de sair para desfilar. O que aparentemente pode parecer amor, é na verdade um comportamento patológico que vê no outro um objeto que deve satisfazer as suas vontades. Quando esse desejo é contrariado apela-se para violência – essa violência é muitas vezes justificada pela cultura patriarcal. 

Cultura Patriarcal

Ao longo da história foi se construindo uma visão de inferioridade da Mulher em relação ao homem. Essa visão foi inclusive justificada filosoficamente por pensadores como Aristóteles, Rousseau e Nietzsche. Como reflexo desse processo temos uma naturalização da desigualdade entre homem e a mulher. Enquanto o primeiro é tido como sujeito, a segunda é vista como um objeto. Justifica-se a partir daí a violência – que se torna estrutural sobretudo pela cultura, religião e educação (Lira, 2014). 

Nesse sentido ressaltamos a importante contribuição de Simone de Beavouir sobre a condição da mulher na sociedade. Sobretudo no que se refere ao papel da cultura. Nesse sentido Lima (2018), sobre o pensamento de Beavouir, destaca que “a diferença entre homens e mulheres não está diretamente conectada às questões biológicas, ou seja, a opressão e a exploração das mulheres estão associadas à história, às várias épocas de submissão feminina e a vontade dos homens de tomar o poder”.

Desse modo quando a nossa filósofa afirma que “não se nasce mulher, se torna mulher”. Ela não está negando as diferenças biológicas, mas sim ressaltando que a submissão da mulher pelo homem é uma construção histórica. Para mudar esse paradigma a união das mulheres é fundamental. É por essa contribuição que Beavouir tornou-se uma referência para o movimento feminista – que caminha no sentido da luta pelos direitos das mulheres. 

Muito se avançou na conquista de direitos e na ocupação de espaço na vida pública pelas mulheres. No entanto a violência e a desigualdade persiste. E persiste por que há uma forte resistência fundada num discurso moralista que naturaliza a violência contra a mulher. Voltando ao conto, certamente teriam aqueles que diriam: - Mas também ela desobedeceu o namorado. O que uma moça queria indo se “exibir” nesses trajes num bloco de carnaval?! É o típico discurso que vemos no dia a dia – que busca culpar a vítima ao invés do agressor. Temos aí um discurso moralista.

Nesse sentido é importante lembrar a crítica ao moralismo burguês feito por Marx e Engels no “Manifesto do Partido Comunista”. De acordo com nossos autores  (2008) a mulher é vista pela burguesia “como um mero instrumento de produção”. E nas suas relações íntimas a infidelidade é naturalizada. Óbvio, desde que seja por parte do homem. Podemos ver isso no conto “a morte da porta-estandarte” no trecho: - “por que não se incorporou ao seu bloco? É por que não está dançando? Há pouco passou uma morena que o puxou pelo braço, convidando-o? Era a rapariga do momento, devia tê-la seguido...”.

Enfim, a partir do conto “a morte da porta-estandarte” e das reflexões que trouxemos creio termos conseguido responder como se explica a violência contra a mulher – isto é, a partir de uma cultura patriarcal que vê a mulher como inferior ao homem, como um objeto. Em relação ao combate a essa violência acreditamos que a educação tem um papel primordial. Mas uma educação que rompa com a lógica dominante. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.

sábado, 5 de março de 2022

Poema: Três doses



Três doses 

A primeira desse queimando.

A segunda e a terceira,

não é diferente.

Pronto,

agora é deitar e dormir,

enquanto o som do Motorhead, 

ecoa nos meus ouvidos.

Por Pedro Ferreira Nunes - um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 


 

terça-feira, 1 de março de 2022

Redes Sociais e Comportamento de Massa: Quando aprenderemos?

Tornou-se bastante popular uma fala do Filósofo e Escritor Italiano Umberto Eco sobre a internet ter dado voz a uma legião de imbecis. Quem navega por esse mundo não pode dizer o contrário. Mas eu diria que o pior não foi a internet ter dado voz aos imbecis, mas o eco que nós damos a essas vozes. 

Exemplos nesse sentido não nos falta. Talvez o maior deles seja a figura medíocre que chegou a presidência da República – que por sua vez teve como mestre o não menos medíocre – Olavo de Carvalho. A partir daí se percebeu que é mais fácil ganhar os holofotes criando factoides do que um argumento inteligente. A receita é sempre a mesma. Pega um alvo popular e ataque-o gratuitamente. Logo aqueles que tem esse alvo como referência viram em sua defesa. E com isso ajudam a ecoar discursos de figuras medíocres que deveriam ser ignoradas.

Isso tem acontecido sobretudo no campo das Artes. Um artista medíocre, ressentido por nunca ter feito um grande sucesso começa a atacar nomes de artistas mais populares. Logo a reação é imediata como vimos recentemente no caso envolvendo o nome do icônico Raul Seixas. E assim quando você acessa as redes sociais e canais de notícias não se repercute outra coisa. 

Se se analisasse racionalmente o caso, se chegaria a conclusão de que determinadas declarações não merecem ser repercutidas e muito menos respondidas. Porém pela relação de fã, o que se vê é um comportamento passional. Essa passionalidade não os deixa ver que é justamente essa reação que “o agressor” espera. É como numa cena de um dos filmes da franquia Piratas do Caribe. Comodoro Norrington (personagem de Jack Davenport) diz a Jack Sparrow (personagem de Johnny Deep): - Você sem dúvida é o pior pirata de quem já ouvi falar. E este responde: - Mas ouviu falar de mim.

Quanto mais se fala de algo ou alguém, maior é o alcance. Mesmo que a maioria das falas não sejam favoráveis, não importa. O importa é que estão falando, estão dando audiência, estão repercutindo. Afinal de contas estamos falando da Sociedade do Espetáculo, e na Sociedade do Espetáculo tudo é aparência. Como destacou o Filósofo Guy Debord. O problema é que quando vivemos de aparência estamos negando a vida. Estamos deixando de viver. Temos cada vez menos compreensão da nossa própria existência e dos nossos próprios desejos. É em suma, a alienação tornando-se algo concreto, diz Debord.

Nesse sentido, quando nos deixamos levar por essa lógica, acabamos contribuindo para que a alienação se perpetue. Aliás, nos comportamos inclusive como alienados quando tomamos parte no espetáculo. No final das contas estamos sendo usados e achando que estamos combatendo “o lado negro da força”.

Há nas redes sociais uma espécie de pressão para que você reproduza o comportamento dos demais. Se todo mundo está postando, você também tem que postar: o alvo da vez, a polêmica da vez, a catástrofe da vez. Estamos reproduzindo nas redes um comportamento de massa. No seu “Psicologia das massas e análise do Eu”, Freud (1927), a partir de Le Bon, nos traça um perfil do que é a massa:

  • É impulsiva, volúvel e excitáve
  • É guiada pelo inconsciente;
  • Os impulsos a que obedece podem ser, conforme as circunstâncias, nobres ou cruéis, heróicos ou covardes;
  • Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente;
  • É extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela;
  • Os sentimentos são sempre muito simples e muito exaltados;
  • Vai prontamente a extremos;
  • A suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.

Há outras, mas creio que as características acima são suficientes para evidenciar o que dissemos acerca do nosso comportamento nas redes sociais. Sobretudo diante de episódios que mexe com a paixão dos indivíduos. Atacar um ídolo é atacar a sua massa de fãs – é atrair contra si o ódio da massa. Aparentemente pode ser ruim, mas por outro lado se consegue a atenção que se quer. É por isso que cada vez mais se utiliza essa estratégia. E a falta de crítica da nossa parte alimenta esse movimento.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Resenha - COVID: Reflexão com o diabo

 “Esta estrada acaba num abismo,

Mas pelo visto nós vamos todos cair com orgulho e cinismo...”

Matanza


Quais as lições podemos aprender com a pandemia de COVID-19? Eis a questão que perpassa a obra organizada pelo Escritor Antônio César Martins Lopes – COVID: Reflexão com  o diabo (Kelps, 2021). Os escritos nos remete a um contexto já superado em grande medida. No entanto, nos trás importantes questionamentos que nos ajuda a pensar não só o contexto pandêmico, mas as perspectivas futuras.

Antônio César Martins Lopes além de se dedicar a escrita, é Professor, Filósofo, Mestre em Serviço Social e Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás  (PUC-GO). Sem medo da polêmica (começando já no título da obra) e provocador, o nosso autor, juntamente com os demais que compõem essa coletânea (salvo exceções), dão um grito de alerta para que não sigamos rumo ao abismo que nos espreita. 

Alguns usam um estilo acadêmico, outros a poesia. É uma obra diversa, onde encontramos de relatos pessoais a artigos científicos. É diverso também os olhares, tem gente do Jornalismo, do Serviço Social, da História, do Direito, da Psicologia, das Artes. E o que une esses olhares diversos? A esperança. Isso mesmo, mesmo diante de um contexto onde tudo nos leva ao pessimismo (E não só por causa da pandemia, como também pelo Desgoverno Bolsonaro), nos é dado motivos para acreditar que as coisas podem mudar para melhor.

Entre os textos que compõem a coletânea alguns, na minha visão, merecem destaque. “O universo: Roda-gigante social ecológica” e “O mundo não acaba na era pós-coronavírus”, ambos de autoria do Antônio Lopes. No primeiro o nosso autor faz uma analogia entre a personagem bíblica Rute com o contexto político-social que estamos vivendo. Já no segundo, que é na verdade a continuidade do primeiro, somos chamados a refletir sobre a nossa relação com o Meio Ambiente. 

O conto realista “A era dos estúpidos” do jornalista e músico Giuliano Cabral, é, na minha opinião uma obra prima. Só mesmo a ficção para dar conta do contexto que estamos vivendo. O Professor José Reinaldo F. Martins Filho  busca fazer isso também, mas num artigo numa linha cientifica (Ambiguidades pandêmicas: pensar a morte e a vida, repensar as relações). É a linha adotada também pelo Professor Douglas Oliveira dos Santos (Ele respeitou, por que não devemos respeitar) onde ele crítica, a partir do estudo da bíblia, a postura negacionista de líderes religiosos. Como docente, não poderia deixar de destacar o texto do Professor Romualdo Pessoa sobre o desafio diante de mudanças que vieram para ficar no âmbito educacional (Os desafios dos docentes em tempos de pandemia e de novas tecnologias de ensino).

Menciono também o texto do Henrique Dantas de Oliveira (Vidas Pretas Importam) onde ele faz uma análise pertinente sobre como as crises no nosso país são bastante seletivas. A “crônica da pandemia” de autoria do Marcus Vinícius Beck também merece menção, assim como todos os poemas, em especial o da Sandra Maria (O Jardim em tempo de vírus).

Já os textos do Luiz Humberto Carrião in memoria (Gerotranscedência e COVID-19) e do João José de Sousa Jr (A arqueologia do COVID-19), me pareceu uma viagem de maconha. Ou talvez seja pelo fato deu ainda não ter alcançado o nível de transcendência deles. De qualquer forma, me pareceu destoar dos demais. Ainda que no fim, apontem para necessidade de se cultivar a esperança. 

Enfim, podemos dizer que as reflexões conseguem responder ao que se propõe: dizer o que podemos aprender com a pandemia de COVID-19. Agora o que faremos com esse aprendizado é o problema. No final o livro COVID: Reflexão com o Diabo é na verdade um clamor por Esperança. No entanto, é preciso lembrar com Espinoza, que não existe esperança sem medo e vice-versa – o que nos leva a uma aporia.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.


domingo, 20 de fevereiro de 2022

10 anos “das barrancas do Rio Tocantins” – Textos mais visualizados

Foi no dia 22 de fevereiro de 2012 que nascia esse blog com a publicação do meu primeiro texto – Entre o espeto e a brasa – um texto sobre as eleições para Governador do Tocantins de 2010. O texto havia sido escrito no período eleitoral, mas até então não havia sido publicado. Desde então mantive uma certa regularidade de publicação. Em 2012 (40 textos publicados), 2013 (47 textos publicados), 2014 (59 textos publicados), 2015 (61 textos publicados), 2016 (66 textos publicados), 2017 (66 textos publicados), 2018 (59 textos publicados), 2019 (63 textos publicados), 2020 (59 textos publicados), 2021 (60 textos publicados). A temática das publicações perpassa pela Filosofia, Política, Educação, Cultura e Literatura. 

Não é um blog muito lido. Apesar de que ao longo dos anos houve um aumento significativo no número de visualização ultrapassando a marca de 160.000. Para um blog independente, periférico, sem apelação, com uma perspectiva crítica. Não é nada mau. Sem falar que a grande maioria é de uma leitura qualificada, isto é, de leitores que utilizaram a leitura em atividades de docência e pesquisa. No entanto o que me motiva é o prazer de escrever – escrever sobre o que me afeta. E nesse processo estou sempre aprendendo e me desafiando a aprender mais. Creio que é por isso que alcançamos a marca de 10 anos com publicações regulares. E com disposição para continuar. 

Enfim, para celebrar esse momento compartilho alguns dos Textos mais lidos ao longo desses dez anos de existência do blog “Das barrancas do rio Tocantins” (que já teve outros nomes). Creio que são textos que representam bem o que é o perfil desse canal. Além das postagens principais o blog tem algumas páginas. Entre elas, a “Meus contos” se destaca como a mais vista com cerca de 2,63 mil.

Textos mais visualizados nesses 10 anos

Resenha: “Como ler um texto de filosofia”, de Antônio Joaquim Severino - 3,27 mil

Cultura popular tocantinense - A contribuição dos negros e indígenas na musica e na dança - 2,29 mil

Pelos Becos de Natividade: Notas de uma Viagem ao Passado! - 2,24 mil

Reflexão sobre a educação do povo surdo a partir do filme "E seu nome é Jonas" – 1,83 mil

A questão da meritocracia no serviço público: Uma Questão ética? – 1,79 mil

Conto: Um certo barbudo – 1,72 mil

Disse me disse – 1,54 mil

Ética e Moral – A Contribuição de Adolfo Sánchez Vázquez – 1,53 mil

Estado mínimo para quem? – 1,5 mil

Poema: Vai chover! – 1,44 mil

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.