“Esta estrada acaba num abismo,
Mas pelo visto nós vamos todos cair com orgulho e cinismo...”
Matanza
Quais as lições podemos aprender com a pandemia de COVID-19? Eis a questão que perpassa a obra organizada pelo Escritor Antônio César Martins Lopes – COVID: Reflexão com o diabo (Kelps, 2021). Os escritos nos remete a um contexto já superado em grande medida. No entanto, nos trás importantes questionamentos que nos ajuda a pensar não só o contexto pandêmico, mas as perspectivas futuras.
Antônio César Martins Lopes além de se dedicar a escrita, é Professor, Filósofo, Mestre em Serviço Social e Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Sem medo da polêmica (começando já no título da obra) e provocador, o nosso autor, juntamente com os demais que compõem essa coletânea (salvo exceções), dão um grito de alerta para que não sigamos rumo ao abismo que nos espreita.
Alguns usam um estilo acadêmico, outros a poesia. É uma obra diversa, onde encontramos de relatos pessoais a artigos científicos. É diverso também os olhares, tem gente do Jornalismo, do Serviço Social, da História, do Direito, da Psicologia, das Artes. E o que une esses olhares diversos? A esperança. Isso mesmo, mesmo diante de um contexto onde tudo nos leva ao pessimismo (E não só por causa da pandemia, como também pelo Desgoverno Bolsonaro), nos é dado motivos para acreditar que as coisas podem mudar para melhor.
Entre os textos que compõem a coletânea alguns, na minha visão, merecem destaque. “O universo: Roda-gigante social ecológica” e “O mundo não acaba na era pós-coronavírus”, ambos de autoria do Antônio Lopes. No primeiro o nosso autor faz uma analogia entre a personagem bíblica Rute com o contexto político-social que estamos vivendo. Já no segundo, que é na verdade a continuidade do primeiro, somos chamados a refletir sobre a nossa relação com o Meio Ambiente.
O conto realista “A era dos estúpidos” do jornalista e músico Giuliano Cabral, é, na minha opinião uma obra prima. Só mesmo a ficção para dar conta do contexto que estamos vivendo. O Professor José Reinaldo F. Martins Filho busca fazer isso também, mas num artigo numa linha cientifica (Ambiguidades pandêmicas: pensar a morte e a vida, repensar as relações). É a linha adotada também pelo Professor Douglas Oliveira dos Santos (Ele respeitou, por que não devemos respeitar) onde ele crítica, a partir do estudo da bíblia, a postura negacionista de líderes religiosos. Como docente, não poderia deixar de destacar o texto do Professor Romualdo Pessoa sobre o desafio diante de mudanças que vieram para ficar no âmbito educacional (Os desafios dos docentes em tempos de pandemia e de novas tecnologias de ensino).
Menciono também o texto do Henrique Dantas de Oliveira (Vidas Pretas Importam) onde ele faz uma análise pertinente sobre como as crises no nosso país são bastante seletivas. A “crônica da pandemia” de autoria do Marcus Vinícius Beck também merece menção, assim como todos os poemas, em especial o da Sandra Maria (O Jardim em tempo de vírus).
Já os textos do Luiz Humberto Carrião in memoria (Gerotranscedência e COVID-19) e do João José de Sousa Jr (A arqueologia do COVID-19), me pareceu uma viagem de maconha. Ou talvez seja pelo fato deu ainda não ter alcançado o nível de transcendência deles. De qualquer forma, me pareceu destoar dos demais. Ainda que no fim, apontem para necessidade de se cultivar a esperança.
Enfim, podemos dizer que as reflexões conseguem responder ao que se propõe: dizer o que podemos aprender com a pandemia de COVID-19. Agora o que faremos com esse aprendizado é o problema. No final o livro COVID: Reflexão com o Diabo é na verdade um clamor por Esperança. No entanto, é preciso lembrar com Espinoza, que não existe esperança sem medo e vice-versa – o que nos leva a uma aporia.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.
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