Exemplos nesse sentido não nos falta. Talvez o maior deles seja a figura medíocre que chegou a presidência da República – que por sua vez teve como mestre o não menos medíocre – Olavo de Carvalho. A partir daí se percebeu que é mais fácil ganhar os holofotes criando factoides do que um argumento inteligente. A receita é sempre a mesma. Pega um alvo popular e ataque-o gratuitamente. Logo aqueles que tem esse alvo como referência viram em sua defesa. E com isso ajudam a ecoar discursos de figuras medíocres que deveriam ser ignoradas.
Isso tem acontecido sobretudo no campo das Artes. Um artista medíocre, ressentido por nunca ter feito um grande sucesso começa a atacar nomes de artistas mais populares. Logo a reação é imediata como vimos recentemente no caso envolvendo o nome do icônico Raul Seixas. E assim quando você acessa as redes sociais e canais de notícias não se repercute outra coisa.
Se se analisasse racionalmente o caso, se chegaria a conclusão de que determinadas declarações não merecem ser repercutidas e muito menos respondidas. Porém pela relação de fã, o que se vê é um comportamento passional. Essa passionalidade não os deixa ver que é justamente essa reação que “o agressor” espera. É como numa cena de um dos filmes da franquia Piratas do Caribe. Comodoro Norrington (personagem de Jack Davenport) diz a Jack Sparrow (personagem de Johnny Deep): - Você sem dúvida é o pior pirata de quem já ouvi falar. E este responde: - Mas ouviu falar de mim.
Quanto mais se fala de algo ou alguém, maior é o alcance. Mesmo que a maioria das falas não sejam favoráveis, não importa. O importa é que estão falando, estão dando audiência, estão repercutindo. Afinal de contas estamos falando da Sociedade do Espetáculo, e na Sociedade do Espetáculo tudo é aparência. Como destacou o Filósofo Guy Debord. O problema é que quando vivemos de aparência estamos negando a vida. Estamos deixando de viver. Temos cada vez menos compreensão da nossa própria existência e dos nossos próprios desejos. É em suma, a alienação tornando-se algo concreto, diz Debord.
Nesse sentido, quando nos deixamos levar por essa lógica, acabamos contribuindo para que a alienação se perpetue. Aliás, nos comportamos inclusive como alienados quando tomamos parte no espetáculo. No final das contas estamos sendo usados e achando que estamos combatendo “o lado negro da força”.
Há nas redes sociais uma espécie de pressão para que você reproduza o comportamento dos demais. Se todo mundo está postando, você também tem que postar: o alvo da vez, a polêmica da vez, a catástrofe da vez. Estamos reproduzindo nas redes um comportamento de massa. No seu “Psicologia das massas e análise do Eu”, Freud (1927), a partir de Le Bon, nos traça um perfil do que é a massa:
- É impulsiva, volúvel e excitáve
- É guiada pelo inconsciente;
- Os impulsos a que obedece podem ser, conforme as circunstâncias, nobres ou cruéis, heróicos ou covardes;
- Nada nela é premeditado. Embora deseje as coisas apaixonadamente, nunca o faz por muito tempo, é incapaz de uma vontade persistente;
- É extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela;
- Os sentimentos são sempre muito simples e muito exaltados;
- Vai prontamente a extremos;
- A suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem.
Há outras, mas creio que as características acima são suficientes para evidenciar o que dissemos acerca do nosso comportamento nas redes sociais. Sobretudo diante de episódios que mexe com a paixão dos indivíduos. Atacar um ídolo é atacar a sua massa de fãs – é atrair contra si o ódio da massa. Aparentemente pode ser ruim, mas por outro lado se consegue a atenção que se quer. É por isso que cada vez mais se utiliza essa estratégia. E a falta de crítica da nossa parte alimenta esse movimento.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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