domingo, 15 de setembro de 2024
Poema: Pedreira
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Breve análise das eleições em Lajeado
A priori, para quem não compreende a política, pode achar uma falta de caráter, ou como se diz popularmente: “uma cachorrada”. Mas isso nada mais é do que o reflexo da dinâmica da sociedade que vivemos - uma sociedade que não é estática. E se a sociedade não é estática, a política muito menos. Tanto que isso não é uma realidade só de Lajeado. Se formos para Miracema encontraremos uma disputa entre duas figuras que estiveram juntas na chapa majoritária na eleição passada (Camila x Aprijo). Em Palmas o candidato Júnior Geo que enfrentou Cintia Ribeiro no último pleito, conta atualmente com o seu apoio. A nível nacional temos Lula e Alckmin, outrora adversários, agora ocupando o cargo de Presidente e Vice respectivamente.
Os exemplos são muitos, mas fiquemos apenas nesses. O que nos interessa a partir desses exemplos é mostrar o que na filosofia política determinamos de realismo político. E quando falamos em realismo político a grande referência é certamente Maquiavel.
De acordo com Guimarães ( 2015, pág. 15): “O realismo de Maquiavel considera que na política não há uma resposta pronta, definitiva e adequada que possa dar conta de todas as situações em diferentes momentos. Como não há universais, cada momento é um momento particular, cada momento exige resposta adequada a partir das experiências modernas e o acúmulo das lições do passado, por isto é um conhecimento empírico. Neste pensamento destaca-se a atenção sobre o conhecimento do homem e suas relações. É decisivo para o realismo, tentar captar o que é o homem, ou no dizer de Maquiavel, “a natureza humana”, quais são seus desejos, seus anseios, suas mágoas, suas expectativas sobre si e os outros, seus limites e horizontes, sua vontade de poder.”
O trecho acima é bastante esclarecedor, e evidencia sobremaneira o que falamos anteriormente. Cada eleição é uma eleição diferente. E os grupos que visam chegar ao poder se organizam de acordo com as condições do momento. Desfazendo alianças e construindo outras que lhes deem maiores, e melhores, condições para vencer.
Voltando a eleição em Lajeado, é inegável o favoritismo do Dr° Tércio no pleito corrente. A campanha do candidato dos republicanos têm demonstrado mais força. Planejada há muito tempo, conseguiu mobilizar uma base de apoio que passa pelo Governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), o Senador Eduardo Gomes (PL) e vários parlamentares. Localmente possui o apoio da maioria dos vereadores com mandato e além do atual prefeito.
Essa força reflete na chapa de vereadores que certamente conseguirá a maioria dos votos. Elegendo entre 6 e 7 dos candidatos. Os candidatos que estão com Márcia terão que brigar pelas vagas restantes.
Aliás isso mostra que a eleição para ocupação das nove cadeiras no legislativo municipal lajeadense será disputadíssima. Há pelo menos 17 candidatos com condições de ser eleito entre os 44 na disputa.
Em relação à candidatura da Márcia não se pode subestimá-la. Ela é sem dúvida uma líder popular que tem uma grande estima por parte da população lajeadense. E mesmo que não tenha a seu favor uma grande estrutura pode surpreender. Até porque como manda a cartilha do realismo político, não podemos ver as coisas como dadas, prontas e acabadas.
Temos ainda a candidatura do Toninho da Brilho (PSB). Que é apenas para cumprir tabela. Não há nenhuma condição de se colocar como uma alternativa aos dois principais candidatos. Ainda que acontecesse algo que tirasse da disputa Tércio ou Márcia. Toninho continuaria sem nenhuma chance de ser eleito. Qual o sentido da sua candidatura então? O fundo eleitoral? Fazer um trabalho de base para as eleições futuras? Não sabemos.
Enfim, esse é o quadro das eleições em Lajeado. Referentes aos nomes e as forças políticas. Quanto a projetos não temos notado muitas propostas. De modo que a disputa parece estar mais relacionada a qual perfil de gestão o eleitor preferirá. Mas sabemos, sobretudo no interior, que não é só isso que define o voto.
Pedro Ferreira Nunes - É Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como professor na Rede Pública de Ensino do Tocantins.
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
Os afetos que circulam entre os muros das escolas IV
A cena descrita é do filme canadense The Trotsky (que no Brasil recebeu o título de “Trotsky: A revolução começa na escola”), de 2010, dirigido por Jacob Tierney. Que conta a história de um jovem que acredita ser a reencarnação do Leon Trotsky – um dos líderes da Revolução Russa de 1917 – e, portanto, deve reconstituir a sua vida. Após liderar uma greve fracassada na empresa do seu pai, ele é mandado para escola pública. Ali se depara com uma direção autoritária. Percebendo isso, o jovem vê um terreno fértil para que possa colocar seus planos em prática - o que ele não contava era com a apatia dos seus colegas. Ou seria tédio?
De acordo com Espinoza (2014) o tédio é um desejo que torna uma coisa apetecida em odiosa. Trata-se, portanto, de um afeto que limita ou diminuem a nossa potência de agir. Já a apatia é uma condição de indiferença, isto é, viver sem se afetar pelos afetos. Dito isso, fica claro a importância de Leon saber se o que limita os seus colegas de buscarem seus direitos é o tédio ou a apatia. Sendo o tédio há uma saída, é possível circular outros afetos, tal como defende o filósofo Vladimir Safatle (2015). Sendo a apatia o jeito é se conformar e aceitar as coisas tal como estão. Diante disso circular afetos que se oponham ao tédio é fundamental para que não nos tornemos apáticos.
Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins no CEMIL Santa Rita de Cássia.
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Crítica a sequência didática de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas elaborada pela Gerência de Formação Continuada do Tocantins
Comecei a refletir sobre essas coisas durante uma formação da Gerência de Formação Continuada do Tocantins sobre sequência didática para serem desenvolvidas pelos componentes curriculares da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A primeira coisa que me chamou atenção foi uma perspectiva unidimensional da sala de aula e consequentemente da educação.
Antes de aprofundarmos a esse respeito é importante conhecermos o conceito de unidimensional que tem origem no pensamento do filósofo frankfurtiano Herbert Marcuse - ao analisar a ideologia da sociedade industrial. Este filósofo chama atenção para uma imposição de uma racionalidade tecnológica que tem por objetivo a construção de uma sociedade sem oposição, que funciona a partir de uma única visão - a visão da classe dominante. Nesse contexto, dois elementos são fundamentais. A ausência da crítica, e consequentemente, as possibilidades de mudança. E de novas formas de controle, mais suaves. Desse modo, Marcuse irá denunciar o caráter autoritário dessa sociedade.
A educação não está alheia a esse processo, e quando vemos formações como essa, isso fica evidente. Ora, quando se elabora uma sequência didática de cima para baixo. Sem levar em consideração as diferentes realidades que encontramos, não podemos dizer outra coisa senão que é a imposição de uma perspectiva unidimensional à sala de aula.
Quem atua como professor sabe que encontramos diferentes realidades dentro de uma única sala de aula, imagina então de uma turma para outra, de uma escola para outra, de uma região para outra e daí por diante (sem falar nas condições estruturais). De modo, que qualquer fórmula elaborada fora da realidade em que se está tende ao fracasso. Obviamente esse é o caso da sequência didática em análise.
Um argumento que utilizaria para fundamentar minha crítica é a fala de professores que acabam de se formar e ingressam na docência na educação básica e tentam aplicar na sala de aula o que aprendeu na academia. Ou seja, percebem o distanciamento entre a teoria e a prática. Tendo portanto que enfrentar o desafio a partir da prática na sala de aula de desenvolver a sua didática e metodologia, assimilando o que Marx determina de práxis.
Dito isso não poderíamos, para quem não sabe, definir o conceito de práxis em Marx, a partir da leitura feita por Adolfo Sánchez Vázquez. Refere-se a relação intrínseca entre teoria e prática. Nas palavras de Vázquez (2011), ao falar da filosofia da práxis: “uma teoria que veja seu próprio âmbito como limite que deve ser transcendido mediante sua vinculação consciente com a prática”. Num movimento dialético da prática à teoria e da teoria à prática. Tendo no entanto a prática como validadora da teoria e não o contrário.
Seguindo essa linha, se quem pensa as ações pedagógicas da educação pública no Tocantins (sobretudo para a sala de aula) estão seriamente preocupados com a melhoria do ensino. Deveriam ouvir quem está (que é bem diferente de quem já esteve) no chão da sala de aula. Ninguém melhor de quem está enfrentando diariamente os desafios de uma sala de aula, com metodologias e didáticas exitosas (e outras nem tanto) para apontar novas possibilidades. Óbvio que com a carga-horária de trabalho em sala de aula poucos irão se dispor. De modo que deve se pensar uma redução dessa carga-horária para que o professor possa pesquisar e planejar. E consequentemente desenvolver o seu fazer profissional com mais qualidade.
Acredito que os colegas que elaboraram essa sequência didática fizeram com a melhor das intenções - ajudar quem está no chão da sala de aula (sobretudo os novos professores que iniciaram a carreira agora e estão um tanto perdidos). Mas ao fazer isso não estão resolvendo o problema. Pior, estão contribuindo para imposição de uma perspectiva unidimensional à sala de aula. E assim estão, talvez de forma inconsciente, contribuindo para a manutenção da ordem vigente. Que as outras áreas engulam isso sem questionar, compreendo. Mas nós da área de humanidades de forma alguma.
Pedro Ferreira Nunes - É Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. E atua como Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.
domingo, 25 de agosto de 2024
Conto: - Deixa rolar.
- E então, é sério com o Lucas?
- Não sei ainda. Estamos nos conhecendo.
- Tá certa. Tem que ir com calma mesmo para não se decepcionar depois.
- Então, né?! Já não sou tão jovem. Tenho duas filhas. Quero um relacionamento sério. Quero uma família.
- É difícil encontrar alguém de confiança. Já quebrei muito a cara. Perdi a confiança nos homens. Não quero mais isso para mim. Pelo menos não por enquanto.
- Nossa. O que aconteceu?
- Traição, enganação, perda de confiança, desrespeito. Enfim, deixa para lá. É melhor nem lembrar.
- Eu conheci uma pessoa muito especial. Acho que seria um excelente companheiro. Mas...
- O que aconteceu?
- Eu enxergava ele como amigo. Pelo menos foi isso que disse para ele. No fundo acho que era medo.
- Que merda, ein?!
- Era praticamente o sonho de toda mulher. Não era feio. Era Inteligente, trabalhador, cuidadoso, muito respeitador.
- E você nem tentou? Nem deu uma chance? Quem sabe a amizade não se traformaria em amor. Acho que é mais fácil um relacionamento em que a gente vai se envolvendo aos poucos, ao invés desses que a gente se entrega de cara.
- Eu fiquei muito balançada. Ele se declarou para mim. Me pediu em namoro. Mas...
- E não é possível voltar atrás? Pelo jeito que você fala dele teus olhos brilham mais do que quando você fala no Lucas.
- Não. Ficou no passado. Na minha vida anterior.
- Ah. Lá de onde você morava.
- Sim. Não passava na minha cabeça que ele pudesse se interessar por mim. Sempre foi muito atencioso. Mas era assim com todo mundo. Não me acho bonita, mãe de duas filhas. Todos os caras que se aproximavam de mim era interessado em aventura, em sexo. Ele não. Me pediu em namoro sem que tivéssemos qualquer tipo de intimidade. Muito cavalheiro.
- Talvez fosse uma espécie de Dom Juan. Queria apenas ti conquistar. Depois de ti conquistar perderia o interesse.
- Não!!! Será?
- Talvez você deu foi sorte. Escapou de uma boa. Ia Sofrer horrores por ele.
- Será? Prefiro achar que não. De qualquer forma já era.
- É a vida. Não era para ser. Quem sabe você é o Lucas dão certo.
- É. Mas não tô criando expectativa. Deixa rolar.
- É o melhor a fazer.
Terminaram de tomar a cerveja, pediram a conta, se despediram e seguiram cada uma para sua casa.
Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.
terça-feira, 20 de agosto de 2024
O triunfo de Camila
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
Olimpíada Nacional de Filosofia e o fortalecimento do seu Ensino
Anualmente diversas áreas promovem olimpíadas escolares, as mais tradicionais são a de Matemática e Língua Portuguesa. E o que nós percebemos no chão da escola é que são iniciativas importantes para o fortalecimento desses componentes curriculares na educação básica. Além de reconhecer e premiar estudantes destaques - o que também traz reconhecimento para professores e toda a comunidade escolar.
Na área da Filosofia temos a nível mundial a olimpíada internacional (IPO) que em 2024 chega a sua 33ª edição. E é dessa competição que se origina a Olimpíada Nacional de Filosofia (ONFIL) - que inclusive funciona nos mesmos moldes. O estudante deve elaborar um ensaio filosófico a partir de um tópico, escolhido entre quatro (que ele irá conhecer apenas no momento de realizar a prova num local específico) digitada num computador sem internet cedido pela organização.
Ou seja, uma prova extremamente desafiadora, onde o estudante sem nenhum auxílio, a não ser do seu conhecimento, deverá compreender o tópico e elaborar um texto acerca do mesmo.
Os idealizadores da ONFIL são os professores Gustavo Coelho (CIB) e Mitieli Seixas (UFSM). Tendo como instituição promotora a Universidade Federal de Santa Maria em colaboração com dezenas de instituições de todas as Unidades da Federação. E conta com o apoio do MCTI e do CNPq. O objetivo segundo os organizadores é fortalecer o ensino de Filosofia, que por sua vez promove a tolerância, grandes ideias, argumentação e oportunidades - pois “Olimpíadas do conhecimento promovem experiências únicas e abrem portas nas maiores universidades do Brasil e do mundo”.
É diante disso que nós que atuamos com o ensino de Filosofia no chão da escola recebemos com muita alegria essa iniciativa. E fizemos todo o esforço para promovê-la como também no incentivo para que nossos estudantes participassem.
A primeira etapa das olimpíadas ocorreu no mês de junho e contou com mais de 500 estudantes inscritos. A priori pode parecer um número reduzido, mas por questões estruturais a organização limitou o número de vagas por unidades da federação e unidades escolares. Por exemplo, para o Estado do Tocantins, que é onde estamos, foram 16 vagas, sendo que cada escola só poderia inscrever no máximo dois estudantes.
Acreditamos que essa limitação no número de vagas foi importante também para garantir uma seleção criteriosa da nossa parte. Ou seja, tivemos que escolher os estudantes mais qualificados para enfrentar o desafio proposto. No meu caso, convidei dois estudantes (Ádilla e Gabriel, 1ª e 2ª série do ensino médio respectivamente), a partir da observação do desempenho deles nas aulas de filosofia. O passo seguinte foi fazer uma breve preparação com foco na leitura de textos filosóficos e exercícios de escrita de ensaios filosóficos. Durante esse processo mais estudantes se juntaram a nós, mesmo não estando inscritos na ONFIL.
Apesar da preparação, para nós o mais importante era a participação, a experiência que esses estudantes teriam em sair da sua escola na periferia até o campus da universidade federal (que eles nunca haviam ido), conhecer pessoas novas e vivenciar algo novo - que certamente marcará suas vidas. Mas não podemos deixar de falar da nossa felicidade ao receber o resultado de que a Ádilla teve o seu ensaio como um dos premiados com uma menção honrosa e a classificação para seletiva da Olimpíada Internacional de Filosofia.
Enfim, acredito que as Olimpíadas de Filosofia contribuirá sobremaneira para o fortalecimento do ensino de Filosofia na educação básica. Essa primeira edição já mostrou que apesar dos ataques sofridos nos últimos anos o ensino de Filosofia resiste e sobrevive, mobilizando professores e estudantes de escolas públicas e privadas espalhadas por todo o Brasil - que compreendem a importância do pensamento filosófico para vislumbrarmos novas possibilidades em diferentes âmbitos da vida.
Pedro Ferreira Nunes - Professor de Filosofia na Rede Estadual de Educação do Tocantins.
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Por Pedro Ferreira Nunes Em “Como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino – licenciado em filosofia pela Univ...
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Lá no céu eu vi a lua, lá no céu eu vi o sol. Não existe sol sem lua, não existe lua sem sol. Assim sou eu e v...
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O sonho de muitos que nascem no sertão, no interior do país é ver o mar. Não são raras as historias de pessoas que se emocionam ...