Em política um elemento importante para o governante é ter resiliência. Sobretudo diante do fato de que nem sempre terá a sua frente um cenário favorável. Nesse sentido a contribuição de Maquiavel é fundamental para qualquer um que queira se enveredar nessa seara. Saber como agir em determinado momento, ainda que não agradando a todos, mas assegurando o poder. Não sei se Camila - Prefeita de Miracema (TO) - ou se seus conselheiros conhecem Maquiavel. Mas o fato é que ela mostrou compreender como deve agir um governante. Demonstrou ter resiliência para superar momentos difíceis e chegar ao final do mandato em condições de se reeleger.
Camila assumiu a gestão da primeira capital num contexto em que a política miracemense estava marcada pelo ressentimento. Sem experiência ocupando um cargo político sua missão não seria fácil. Sobretudo com uma oposição dura na Câmara de Vereadores - disposta a fazer o mesmo que o grupo da prefeita fez com a gestão do ex-prefeito Saulo. Num primeiro momento seu grupo político até consegue eleger um aliado para presidência do legislativo municipal. Mas nada que mudasse o cenário de instabilidade - alguns momentos que comprovam isso foi o episódio de provocação da oposição com o senador Irajá Abreu e posteriormente o rompimento com o seu vice (Aprijio) e a perda da maioria na Câmara de Vereadores com a eleição de um vereador oposicionista para presidência do legislativo municipal no segundo biênio.
Em todos esses episódios a prefeita demonstrou ter bastante resiliência. Resistindo aos ataques focando no seu ponto forte - o papel de administradora. Deixando de lado o de líder política - coisa que ela nunca foi. É daí que vem as críticas da falta de diálogo. Mas enquanto ela era acusada de falta de diálogo a oposição não se colocava como uma alternativa. E ao invés de enfraquecer ela foi se fortalecendo. Enquanto a oposição foi enfraquecendo.
Camila está longe de ter feito uma gestão de encher os olhos - quem anda pelas ruas da cidade sente isso. Mas está longe de ser a catástrofe que foi a gestão da Magna Borba ou do Giordani ou mesmo do gestor anterior, Saulo. E isso a coloca como favorita para ser reeleita. Sobretudo diante do fracasso da oposição em se colocar como alternativa através de um candidato competitivo.
A prefeita parece ter seguido outra lição de Maquiavel para que sua gestão seja vista positivamente por parte significativa da população de Miracema - a lição de que o bom governante deve escolher bem os seus auxiliares. Pois é a partir desses auxiliares que podemos inferir se esse governante é competente ou não. Para Maquiavel o bom governante deve se cercar de pessoas competentes. Ou senão, trabalhará em dobro.
A realidade é dinâmica para que a gente faça qualquer afirmação quanto a eleição de alguém. Mas a conjuntura mostra que dificilmente teremos outro resultado nas eleições municipais em Miracema se não a vitória da atual prefeita - a verdade é que ela já é vitoriosa por ter superado um contexto de instabilidade política e liderar o processo político eleitoral.
Por outro lado, a oposição que chegou a vislumbrar uma candidatura de peso com o Deputado Estadual Ivory, terá que se contentar com Aprijio. Nesse contexto, a tendência não é só a eleição de Camila como também de uma bancada forte da situação na Câmara de Vereadores, o que a fará sair mais fortalecida ainda para um segundo mandato.
Ainda que não tenha feito a gestão, Camila não é odiada pelo povo de Miracema. Ao contrário de outras figuras que pertencem aos grupos tradicionais que saquearam os cofres da cidade por muitos anos. Maquiavel diz que “a melhor fortaleza que existe é não ser odiado pelo povo, pois mesmo que possuas fortalezas, se o povo lhe odiar, elas não te salvarão.”
O que percebemos por enquanto é um certo desespero da oposição criando factoides nas redes sociais para tentar minar a popularidade da gestora. Por outro lado, Camila tenta dar um tom mais propositivo mostrando os feitos da gestão - bastante aquém do que a cidade precisa, é verdade.
E essa será a tônica da campanha. A oposição em torno da candidatura do Aprijio tentando minar a credibilidade da candidata à reeleição. E a prefeita tentando fazer uma campanha mais voltada a mostrar os feitos de sua gestão. A não ser que ocorra a intervenção de um deus ex machina, o resultado é bastante previsível.
Pedro Ferreira Nunes - Professor da Rede Estadual de Ensino do Tocantins.
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