sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Poemas da Quarentena

Hoje 

Não haverá feira,

esquece o caldo de chambari.

Nem a resenha no bar,

é melhor não insistir.


Não haverá futebol,

segura o gritou de gol.

Nem o jogo do Kawhi,

que você tanto esperou.


O show do RDP,

não vai mais acontecer.

Nem o festival de tatoo,

que tanto queria ver.


Esquece o rolê no shopping, 

com a turma da quebrada.

A praia está cancelada, 

E aquela pedalada.


Caminhar na praça,

Não é uma alternativa. 

Ir ao cinema?

desista minha amiga.


O que tem pra hoje?

é ficar em casa.

Quem sabe lendo um livro,

Ou vendo série enlatada. 


Por Pedro Ferreira Nunes -  In Antologia Ruas Vazias: O Corona Vírus em Prosa e Verso. Editora Veloso, 2020.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

As perspectivas políticas em Lajeado, Miracema e Tocantinia após o resultado das eleições

Se olharmos o resultado das eleições municipais (que ocorreram no último dia 15 de Novembro) nesses três municípios, podemos afirmar que a população está dividida – Nenhum dos três candidatos (para cargos majoritários) que saíram vitoriosos das urnas conseguiu uma vitória absoluta. O que não é ruim. Pois exigirá do gestor eleito uma maior habilidade política para lhe dar com os conflitos advindos dessa divisão. Ainda mais se enquanto grupo político pretendem ficar mais tempo no poder. 

Nesses três municípios prevaleceu os candidatos que eram tidos como favoritos. No caso de Lajeado, o atual prefeito Júnior Bandeira  (MDB). Em Miracema, a oposicionista Camila Fernandes  (MDB). E em Tocantinia, o atual prefeito Manoel Silvino (SD). Este último aliás, foi o que teve mais dificuldade se analisarmos o resultado do ponto de vista proporcional. Já do ponto de vista quantitativo, a maior dificuldade foi de Junior Bandeira. Camila Fernandes por sua vez, conseguiu um resultado expressivo (para os padrões de Miracema), tanto do ponto de vista proporcional como quantitativo. Mas não conseguiu eleger vereadores suficiente para ter maioria no legislativo municipal. 

Em Tocantinia Silvino foi eleito apenas com 38,22% dos votos. A sua vitória portanto pode ser creditada na divisão da oposição que dividiu mais de 60% do eleitorado em quatro candidaturas. Já Camila Fernandes obteve uma vitória mais tranquila, conquistando 53,10% do eleitorado. Mas não conseguiu a maioria no legislativo. De modo que se o seu grupo não conseguir deslocar pelo menos um  vereador eleito para situação, o controle da Câmara de Vereadores ficará com a oposição (5 candidatos a vereador eleitos pelo grupo da Camila Fernandes e 6 pelo grupo do Prefeito Saulo Milhomem). 

Esse problema Silvino não terá em Tocantinia, já que seu grupo conseguiu eleger a maioria dos vereadores – foram 5 candidatos eleitos pela chapa da situação e 4 pela oposição. Não é uma grande vantagem. Mas de inicio pelo menos garante a eleição de um presidente do legislativo aliado ao prefeito. 

Percentualmente a vitória de Júnior Bandeira em Lajeado foi a mais tranquila, pois conquistou 54,86% do eleitorado. Além do fato de ter conseguido fazer tranquilamente a maioria da Câmara de Vereadores  (elegeu 7 candidatos enquanto a oposição ficou com duas vagas). Mas levando em consideração que á menos de 1 ano – na eleição suplementar – obteve quase 80% dos votos do eleitorado. É claramente perceptivo que o seu grupo perdeu força. Isso fica mais evidente quando analisamos quantitativamente o resultado das eleições nesses três municípios. 

Camila Fernandes obteve 1.637 votos de diferença para o seu principal adversário. Silvino 340 e Bandeira 311. Isto é, Júnior Bandeira foi o que obteve a menor diferença em relação ao seu principal adversário. 

Você camarada que ler essas linhas deve está pensando pragmaticamente – o que importa é ter ganho. Se ainda fosse com 1 voto de diferença não importava. Bom, o meu objetivo aqui ao trazer os números é fundamentar o que disse no início,  isto é, a divisão política que existe nesses municípios e o fato de que não há uma grande hegemonia por parte de nenhum dos grupos políticos que foram eleitos. Óbvio, que com a máquina pública na mão fica mais fácil buscar essa hegemonia. E isso implica no fato de que entre outras coisas, nem todos os vereadores que foram eleitos pela oposição, permaneceram na oposição. 

Aliás, falando em Vereadores, quando analisamos como será a composição das casas legislativas nesses três municípios, o perfil não é muito animador, sobretudo se falarmos em representatividade feminina e dos jovens. Houve mudanças? Sim. Por exemplo, em Miracema 7 das 11 cadeiras será ocupada por novatos. Em Tocantinia 5 das 9 será ocupada por novatos. E em Lajeado 4 das 9 será ocupada por novatos. Mas são mudanças só de nome e não de perfil. Em Miracema a representatividade feminina no legislativo continuará apenas com uma vereadora. Em Lajeado da mesma forma. Aliás, houve uma mudança em relação a atual legislatura que tem duas vereadoras. Já em Tocantinia permanecerá o quadro atual que é de nenhuma mulher ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores. Em relação a juventude o quadro é o mesmo. De modo que podemos dizer que os eleitores dessas três cidades foram na contramão da média geral das eleições em todo o país que apontou por exemplo a eleição de um maior número de candidaturas femininas.

Todo esse cenário nos aponta algumas questões.  Primeiro, temos um quadro de divisão política nesses municípios. Mas não é uma divisão que aponta para uma ruptura com o modelo político hegemônico e sim para uma estagnação. Segundo o papel submisso da mulher e da juventude  - revelando a força do patriarcalismo ainda dominante no interior – mesmo com a eleição de uma prefeita como no caso de Miracema. 

Diante disso, as perspectivas políticas, a curto prazo nesses três municípios, não são de mudanças. E com isso concluo com a sensação que já escrevi isso outras vezes. Fazer o quê? A realidade não me permite concluir de outra forma.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela UFT.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Resenha: Os Escravos - Castro Alves

Eu sou o homem negro

Vim pra cá acorrentado em navios negreiros

Como um animal

Como um animal...

Inocentes


Quem no ensino médio não viu numa aula de literatura sobre o Romantismo no Brasil o professor apresentar Castro Alves e ler alguns versos do seu célebre poema “O Navio Negreiro”?! Mas Castro Alves não é poeta de um único poema, e também não cantou apenas as dores da escravidão. De modo que quando falamos em Castro Alves não estamos falando de uma figura totalmente desconhecida da nossa história. Sobretudo quando nos remetemos a história da escravidão no Brasil ou sobre a literatura brasileira – mesmo tendo morrido muito jovem, o seu legado literário o coloca como um dos grandes símbolos da nossa literatura. 

Nascido Antônio Frederico de Castro Alves, no interior da Bahia, num mês de Março, no ano de 1847. Tornou-se conhecido como Castro Alves – o Poeta dos Escravos – por seus versos fervorosos denunciando os horrores da escravidão e mostrando as veias abertas daquela sociedade escravocrata. Representante da Terceira Geração Romântica no Brasil se imortalizaria ao se tornar patrono da cadeira n° 7 da Academia Brasileira de Letras. Morreu jovem vítima da tuberculose quando tinha apenas 24 anos. Mas viveu uma vida intensa tal como um desses Rockstars suicidas. Deixou uma obra que segundo Dilva Frazão  (2020) se caracteriza pela denúncia da crueldade da escravidão e o clamor a liberdade. Castro Alves deu ao Romantismo um sentido social e revolucionário. E a sua poesia era um grito explosivo a favor dos negros. É o que podemos conferir numa pequena coletânea (Os Escravos – Editora L&PM POCKET, 2013) composta por 34 poemas de sua autoria.

Entre os 34 poemas que compõem a coletânea “Os Escravos” estão aqueles mais conhecidos como O Navio Negreiro e Vozes d’África. No entanto eu chamaria atenção para outros poemas não tão conhecidos, mas que não deixam a desejar. Entre estes eu destacaria: Ao Romper d’alva, A canção do Africano, Bandido Negro, Saudação a Palmares e Adeus, meu canto. 

Senhor, não deixes que se manche a tela 

Onde traçaste a criação mais bela

De tua inspiração. 

O sol de tua glória foi toldado...

Teu poema da América manchado,

Manchou-o a escravidão. 

Acima temos um trecho do poema “Ao Romper d’alva” (1865), onde o Poeta chama atenção para anomalia que é a escravidão sobretudo quando olhamos para natureza como uma perfeição Divina. De início o poema parece um canto de amor a natureza, mas no final o Poeta nos mostra que enquanto persistir a escravidão aquela beleza está contaminada. Esse poema me lembrou Rousseau quando disse que “tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera entre as mãos do homem” (Emílio ou Da Educação, 1762).

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão, 

Entoa o escravo seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão...

Assim inicia A canção do Africano onde o Poeta nos pega no braço e nos leva para conhecer a realidade de uma senzala. Ali um casal de Escravos e seu filhinho. A noite ao pé da fogueira o Escravo começa a entoar um canto melancólico de saudades da sua terra. A escrava com o filho no colo também canta as saudades do seu torrão. E assim por alguns minutos eles se libertam da condição em que estão. Mas só por alguns minutos.

O escravo então foi deitar-se,

Pois tinha de levantar-se

Bem antes do sol nascer,

E se tardasse, coitado,

Teria de ser surrado, 

Pois bastava escravo ser.

Imagine a força desses versos num contexto em que as ideias abolicionistas cada vez mais ganhavam força, sobretudo ali no meio acadêmico, na faculdade de Direito, do Recife, que Castro Alves frequentava.

Cai, orvalho de sangue do escravo,

Cai, orvalho, na face do algoz.

Cresce, cresce, seara Vermelha,

Cresce, cresce, vingança feroz.

Esses versos poderiam muito bem ser o refrão de um punk rock, mas são do poema Bandido Negro. Onde o Poeta deixa de lamentar a condição do escravo e passa a exaltar aqueles que se rebelam contra tal situação. Sendo também essa mesma linha que  ele segue no poema Saudações a Palmares.

Palmares! a ti meu grito!

A ti barca de granito,

Que no soçobro infinito

Abriste a vela ao trovão. 

E provocaste a rajada,

Solta a Flâmula agitada

Aos uivos da Marujada 

Nas ondas da escravidão.

Aqui nosso Poeta exalta o exemplo daqueles que decidiram se rebelar  contra a escravidão e construíram um território onde vivem em liberdade. Servindo de exemplo e inspiração a tantos outros que permanecem nas garras dos escravocratas. E por fim temos Adeus, meu canto – uma espécie de manifesto do poeta em defesa da sua poesia.

Eu sei que ao longe na praça, 

Ferve a onda popular,

Que as vezes é pelourinho 

Mas pouca vezes – altar.

Que zombam do bardo atento

Curvo aos murmúrios do vento

Nas florestas do existir,

Que babam fel e ironia

Sobre o ovo da utopia 

Que Guarda a ave do porvir.

Em Adeus, meu canto o nosso Poeta responde as críticas que recebia. E se estamos falando de um contexto onde prevalecia o poder de senhores escravocratas. Essas críticas não eram poucas. Mas que ao contrário de faze-lo recuar, lhe dava mais força para que continuasse defendendo o fim da escravidão. Mesmo depois de morto os seus versos continuaram, e até hoje nos inspiram, a condenar essa mancha na nossa história. 

Enfim, são apenas alguns dos belos poemas, que encontramos nessa pequena coletânea  (Os Escravos) de poemas do Castro Alves. Para além da beleza poética dos seus versos, são poemas que nos ajuda e nos inspira a lutar contra o racismo e toda forma de opressão. Aos que quiserem, gravei um vídeo falando dessa obra para o Festival Virtual de Arte e Literatura do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. Segue o link: https://youtu.be/9Swv54kzWV4.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Castro Alves e as Vozes d’África – Festival Virtual de Arte e Literatura do CENSP-LAJEADO

“O povo é como o sol! Da treva escura

Rompe um dia co’a destra iluminada...”.

Castro Alves 


Castro Alves e as Vozes d’África – eis aí o tema do Festival de Arte e Literatura do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência (Munícipio de Lajeado)  que ocorrerá na Semana de 16 á 20 de Novembro – onde se celebra o dia da Consciência Negra – uma data que ganha relevo este ano devido ao Movimento Black Lives Matter – que sacudiu os Estados Unidos da América e que tem inspirado manifestações no mundo todo contra o racismo.

No Brasil essa luta vem ocorrendo há séculos, quando a escravidão ainda era permitida oficialmente. De modo que se hoje á luta dos Negros por cidadania plena é difícil, imagina naquela época então. Mas foi nesse contexto que o jovem Castro Alves,  aspirante a advogado, levantou sua voz através da poesia para denunciar os horrores e imoralidade da escravidão – Não teve medo de mostrar na Casa Grande a condição desumana imposta nas senzalas. Tornou-se conhecido como o Poeta dos Escravos – o que dava voz aqueles que não tinham direito a palavra. 

No poema O sol e o povo (1865) ele escreveu: “O povo é como o sol! Da treva escura. Rompe um dia co’a destra iluminada. Como o Lázaro estala a sepultura”. Certamente ele estaria feliz vendo o levante de movimentos como Black Lives Matter. Pois como mostra os versos citados, ele sempre acreditou na capacidade do povo negro despertar e lutar por sua libertação. Como também podemos perceber em poemas como “A criança”, “Antítese” e “Saudação a Palmares”.

Desse modo o Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência não poderia escolher melhor nome para homenagear no seu festival de Arte e Literatura. Castro Alves foi um grande humanista, defensor da liberdade, amante das artes e da literatura. Aliás, fez dessa a sua arma em defesa de uma sociedade melhor. Em tempos onde a arte e a literatura, e também as ciências estão sobre ataque, celebrá-lo consiste num ato de subversão. E precisamos cada vez mais de atos de subversão para que as trevas não prevaleçam sobre a luz.

Não é a primeira vez que o Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência realiza um festival de Arte e Literatura e muito menos promove a Consciência Negra – tais ações estão no Projeto Político Pedagógico da Escola que está em consonância com as dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre elas a valorização e utilização dos “conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”. 

Essa edição se dará no formato virtual devido a suspensão das aulas presenciais como medida de prevenção á COVID-19. Será mais uma experiência das muitas que estamos vivendo nesse contexto de pandemia. Se exitosa ou não, não sabemos. Mas se tem algo que temos aprendido nesse período é não ter medo de tentar – agir ao invés de se acomodar. Quando isso é assumido pelo coletivo então, a probabilidade de acerto aumenta significativamente. 

Sendo de forma virtual o alcance do evento é muito maior – qualquer pessoa com acesso a internet poderá apreciar as produções artísticas e literárias dos estudantes do CENSP-Lajeado. Além de acompanhar importantes reflexões dos nossos professores, através de videos-entrevistas, sobre temas relevantes como o racismo, a cultura quilombola, o papel da educação, entre outros. Além disso também haverá lives através do Google Meet. Sendo que numa dessas teremos uma roda de conversa sobre o nosso Poeta, a sua obra e o seu legado.

Fica então o convite a quem possa interessar (link do evento:https://sites.google.com/view/fal-censplajeado/in%C3%ADcio?authuser=0). Para mais detalhes e informações é só acompanhar as redes sociais do CENSP-LAJEADO.  E para concluir, citemos mais uma vez Castro Alves:

Parte, pois, solta livre aos quatro ventos

A alma cheia das crenças do poeta!...

Ergue-te, ó luz! – Estrela para o povo,

Para os tiranos – lúgubre cometa. 

                         Adeus, meu canto. 1865.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.



terça-feira, 10 de novembro de 2020

Alguns comentários sobre a reta final das eleições no Tocantins

Caminhamos para reta final das eleições no Tocantins, pois ao contrário de outros Estados, independente da distância entre o primeiro e segundo colocado não teremos segundo turno, já que nenhum município tocantinense possuí mais de 200 mil eleitores. Até agora nenhuma grande surpresa que contrarie as análises que venho fazendo desde 2019 sobre o cenário político-partidário tocantinense. O que não é nada bom pois significa um cenário de estagnação – de mais do mesmo.

Em Palmas

Cinthia Ribeiro (PSDB) caminha para sua reeleição com apoio de forças tradicionais da política tocantinense e figuras como o Ex-Governador Siqueira Campos. Nenhum candidato da oposição tem conseguido mostrar força suficiente para derrota-la. Alguns analistas creditam isso no fato de haver muita fragmentação na oposição. De modo, que se houvesse unidade da oposição em torno de uma única candidatura a eleição de Cinthia Ribeiro não seria tão fácil assim. Sinceramente não vejo sentido numa unidade da oposição unicamente para derrotar a atual prefeita. Essa unidade só teria sentido se fosse  construída em torno de um projeto comum de cidade e não unicamente pelo poder. Esse projeto comum não existe, de modo que seria forçoso colocar num mesmo palanque grupos com discursos contrários. O PSB do Andrino/Amastha fez isso com Vicentinho e Katia Abreu e deu um belo tiro no pé. 

Em Araguaína e Gurupi

Na segunda e terceira maior cidade do Tocantins os candidatos apoiados pelas atuais gestões caminham para triunfar. É aquela história, uma gestão bem avaliada pela população,  é um poderoso cabo eleitoral que dificilmente deixa de eleger um sucessor aliado da gestão. E esse é o caso de Dimas (Podemos) em Araguaína e de Laurez (PSDB) em Gurupi – duas gestões bem avaliadas pelos seus munícipes. Nesses municípios são os pupilos políticos desses atuais gestores que lideram – Wagner Rodrigues (SD) e Gutierres Torquato (PSB). A lógica seguida pela população é que esses candidatos vão dar continuidade ao projeto de governo em curso nesses municípios. Mas não é isso que geralmente acontece. E o que não faltam são exemplos na política tocantinense que corroboram com o que estou falando. Só para pegar um exemplo mais recente Amastha e Cinthia Ribeiro. O fato é que se Wagner e Gutierres (se eleitos) pretendem ter uma vida longa como gestores precisaram mostrar personalidade própria e se afastarem dos seus padrinhos políticos. Até mesmo se opor dependendo das circunstâncias. 

Em Porto Nacional e Paraíso 

Juntamente com Palmas, Araguaína e Gurupi. Porto Nacional e Paraíso formam as cinco cidades com maior eleitorado no Tocantins. Na velha Porto a família Andrade tenta retornar ao poder, para tanto terá que derrotar o atual prefeito Joaquim Maia (MDB) – candidato a reeleição. Um ponto interessante nessa disputa é o apoio de figuras do MDB ao candidato da família Andrade. Justamente o que falamos que aconteceria, sobretudo se falando do Senador Eduardo Gomes. De todo modo, a população de Porto caminha para eleger um projeto que todos conhecem bem. Já em Paraíso o cenário é o mesmo de Araguaína e Gurupi. Isto é,  o candidato favorito é o candidato apoiado pelo atual prefeito – Moisés Avelino (MDB) que é bem avaliado pela população local.

Miracema e Lajeado

Não são duas cidades que tem um grande peso no cenário político tocantinense. Mas não poderia deixar de falar delas: por uma questão afetiva em relação a Miracema. E por Lajeado ser o lugar onde moro. Em Miracema o cenário é o que apresentamos num artigo “Conjuntura política em Miracema: Rupturas, Realinhamentos e Ressentimentos”. Quando olhamos a disputa eleitoral entre Saulo Milhomem (PP) e Camila Fernandes (MDB) vemos como o ressentimento tem dado o tom da campanha. Não é de hoje que esse afeto tem tomado conta da política miracemense. Talvez o resultado das eleições possa contribuir para que isso diminua, já que enquanto não houver uma resposta oficial acerca do assassinato do Prefeito Moisés Costa, isso não será totalmente superado. Em Lajeado tem se confirmado o que apontamos no artigo “Lajeado: Análise do resultado da eleição suplementar e perspectiva para 2020”. O resultado dessa eleição dependeria do sucesso da atual gestão e da capacidade de manter as alianças construídas no pleito suplementar. Como isso não aconteceu temos uma eleição bastante disputada entre o atual prefeito Júnior Bandeira  (MDB) e o Vereador José Edival (PSC). Ao contrário do que dizem, a eleição de José Edival não significa uma renovação,  mas o retorno de um grupo que comandou o município até a cassação do mandato do ex-prefeito Tércio Neto. Se a opção for pelo Júnior Bandeira a opção é pela continuidade da gestão iniciada em Dezembro de 2019. E também por um estilo de governo bastante conhecido já que o Bandeira administrou a cidade entre 2000 e 2008.

Alguma conclusão 

Apresentamos aqui o cenário apenas em alguns municípios Tocantinenses.  Nos demais a situação não é muito diferente. A população escolherá entre continuar ou retornar a um projeto de governo conhecido – pois é preciso ter claro que eleger um nome diferente não é eleger um grupo político diferente e muito menos um projeto de governo.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Perguntas a se fazer para definir em quem votar para compor a Câmara de Vereadores da sua cidade

 “Ele apenas se recusou,
antes que fosse tarde de mais.
Pois sabia se aceitasse,
não poderia voltar atrás. 
Em seu olhar estava a resposta,
mas ninguém conseguiu entender.
E ficaram a se perguntar,
Por que?”
Inocentes 

Votar ou não votar? Eis a questão com que milhares de eleitores se deperam em anos eleitorais. A opção não votar tem ganhado mais adepto a cada ano (vide o aumento significativo do número de abstenções, votos nulos e brancos). Mas a grande maioria opta por votar mesmo sabendo da enorme probabilidade de se decepcionar com o seu ou sua elegida. Alguns desses, na próxima eleição, aumentarão as estatísticas das abstenções, votos nulos e brancos. Outros buscam justificar dizendo: - Como eu poderia saber?! Ninguém tem estrela na testa. É como se dissessem: - Nessa errei, na próxima acerto. Ou então acabam se deslocando para uma posição totalmente pragmática: - Ele rouba, mas faz.

Quanto a esses últimos não há muito o que  fazer. Mas os outros sim – esses poderão buscar diminuir a probabilidade de elegerem candidatos que depois os decepcionaram. E creio que um dos caminhos para diminuir essa probabilidade é fazendo algumas perguntas que lhes ajudaram a escolher melhor.


Qual a história do candidato ou candidata? 

Você deve minimamente saber em quem está votando. Qual a trajetória dessa pessoa. De onde veio. Qual a sua formação. A sua experiência. O que já fez. O que deixou de fazer. Como se posicionou diante de determinadas questões. São informações importantes que lhe ajudará a compor o perfil de um determinado candidato ou candidata e a partir daí vê se este é o perfil que você busca como sendo o melhor para ocupar uma cadeira no legislativo da sua cidade. Saber o perfil da sua candidata ou do seu candidato é o primeiro passo para que você não se decepcione quando ele ou ela se posicionar de determinada forma. O que não tem sentido é você votar em alguém com um perfil conservador e esperar que ele ou ela tenha uma postura progressista. Nesses casos o equívoco não é dele ou dela, mas seu.


Qual a relação da candidata ou candidato com a cidade?

Essa pergunta é importante por que não necessariamente você tem que votar em alguém que nasceu na sua cidade (um filho da terra como dizem). Mas essa candidata ou candidato deve conhecer a realidade socioeconômica do local da qual pretende ser um representante político. E esse conhecimento depende da relação que se estabelece na e com a comunidade. Alguns querem apenas explorar – sugar os parcos recursos do local – e quando se enchem batem as asas e vão embora. Já outros buscam contribuir para melhoria das condições de vida local – e ainda que as coisas não estão fáceis, não abandonam o barco. Votar em alguém natural do lugar poderia ser a solução, mas não necessariamente. O fato da pessoa ser um filho ou filha da terra não significa que ela tem uma relação diferente na e com a comunidade das que falamos anteriormente. Por tanto também se faz necessário, se você optar em votar em alguém nascido no local, saber a relação dessa pessoa na e com a comunidade – é uma relação de exploração ou uma relação de busca da melhoria das condições de vida de todas e todos? Esse questionamento é importante pois possibilita ao eleitor fazer um recorte de classe na hora de escolher em quem votar.


A candidata ou candidato sabe o que faz um vereador?

Si alguém se candidata a um determinado cargo o mínimo que se espera é que essa pessoa saiba os deveres e direitos desse cargo.  O problema é que muitos eleitores não sabem qual é o papel dos legisladores – de modo que fica difícil saber se o candidato ou candidata a vereador sabe qual será o seu papel se caso for eleito. Isso exige portanto que o eleitor se informe quanto ao que faz um vereador para que tenha condição de identificar se o candidato ou candidata a esse cargo também tem esse conhecimento. Sabendo o que faz um vereador, o eleitor irá eliminar muitos candidatos que se apresentam prometendo aquilo que não é da sua alçada, mas sim do executivo (no caso da prefeita ou prefeito). O que não dá é se votar em alguém que não sabe o que faz um vereador e esperar um bom desempenho desse. Não significa que a candidata ou candidato deva ser um especialista – que não possa no decorrer do mandato ir aprendendo e melhorando. Mas se não procura ter o mínimo de informação acerca do cargo que se propõem desempenhar (para não prometer o que não irá cumprir) é bom você pensar melhor antes de votar numa figura assim.


O que o candidato ou candidata pode fazer pela cidade?

Essa, na minha visão, é a principal pergunta a se fazer. A partir dela podemos compreender tanto o candidato ou candidata, como o eleitor e a eleitora. É uma pergunta que geralmente não se faz – o que refleti a visão individualista hegemônica – onde as pessoas estão mais preocupadas consigo mesma do que com o coletivo. Nesse contexto o que prevalece é a pergunta: - o que você pode fazer por mim? Óbvio, o candidato ou candidata, que não é idiota responderá exatamente aquilo que você espera ouvir. Mas assim como promete pra você, prometerá também para muitos outros. E por mais honesto que seja não conseguirá satisfazer a todos – pois é humanamente impossível agradar o que cada um, num universo de milhares, deseja. Quando isso acontece vem então a decepção: “- Ah, fulano de tal me enganou, me prometeu isso e não cumpriu”. Me desculpe, você quis ser enganado. Você mereceu ser enganado ao pensar em si e não no coletivo. Quando fores votar em alguém busque saber o que esse alguém pode fazer pela cidade – pois fazendo para cidade estará fazendo por todos, incluindo você. Se o candidato ou candidata não tem projetos para cidade, mas apenas promessas para conquistar seu voto, não reclame se depois de eleito ele ou ela virar as costas para ti.

Creio que essas quatro perguntas – que não precisam serem feitas para um determinado candidato ou candidata – e nem encaradas como uma receita de “Como votar bem”. São apenas pontos de reflexão para que você faça uma escolha consciente na hora de definir em quem votar.  São perguntas que mostram como a política conduzida a partir de uma ótica racional é o caminho para que façamos boas escolhas acerca dos rumos que a cidade irá tomar e de quem melhor pode conduzi-la nessa jornada. Óbvio, não é necessário você seguir essa lógica, mas não se iluda esperando um resultado adverso do que que tem colhido – não vai achando que ao votar numa figura medíocre terá outra coisa se não mandatos medíocres. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Crônica: A morte d’um limoeiro

Baruch Espinosa
 “Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.” 
Baruch Espinosa

No meu quintal havia um limoeiro que produzia bastante limões. Mas de repente suas folhas e frutos secaram, e ele morreu. O que teria ocorrido? Alguma praga? Para algumas pessoas não. O diagnóstico seria mão ruim. Mão ruim? Isso mesmo. No interior há uma crença de que algumas pessoas tem a mão ruim ao ponto de que quando colhe alguma fruta no quintal alheio a árvore da qual essa fruta fora colhida, morre.

Não sei bem se esse fenômeno tem algum fundamento racional ou se é apenas uma infeliz coincidência. De todo modo não pude deixar de pensar comigo no tipo de energia que essa pessoa carrega consigo – uma energia capaz de matar uma árvore não deve ser coisa boa. No entanto me disseram que ter uma “mão ruim” não significa que se é uma pessoa ruim. O que seria então e por que? Como toda crença não há uma explicação. É assim e ponto – ou você acredita ou você não acredita.

Que exista pessoas que não são boas companhias, certamente. Pessoas que parecem capaz de sugar nossas energias e nos deixar para baixo, não há dúvida – ou como diria Baruch Espinosa – pessoas que diminuem a nossa potência de agir. Mas daí dizer que há pessoas que tem uma espécie de maldição que quando tocam numa planta condenam-na á morte, me parece um tanto de loucura.

O fato é que o limoeiro no nosso quintal morreu. Aparentemente não foi nenhuma praga – o que reforça a tese de que teria sido mão ruim. Prefiro ficar com Espinosa e dizer: Ele teve um mau encontro – isto é, um encontro com algo ou alguém que lhe afetou com um afeto triste – que diminuiu a sua potência de agir.

Taí, talvez a filosofia do Espinosa pode nos ajudar a explicar tudo isso. Para Espinosa tudo que existe (incluindo nós humanos e as árvores) faz parte de uma única substância. Essa substância é entendida como “o que existe em si e por si é concebido” (Ética, p. 78). Por tanto, algo perfeito. E se somos parte dessa substância também carregamos essa atribuição. Desse modo não teríamos conosco uma energia capaz de destruição. O que pode acontecer é termos ideias inadequada das coisas – sobretudo quando nos  deixamos guiar por superstições – que por sua vez nos leva a cultivar paixões tristes – que diminuem a nossa potência de agir.

Entre as paixões tristes que diminuem a nossa potência de agir estão o ódio, o ressentimento, o desespero e a inveja. Desse modo quando agimos afetado por uma dessas afecções não só estamos causando dano ao outro, mas também a nós mesmos. E esse outro que causamos dano não necessariamente precisa ser outra pessoa. Pode ser, por exemplo, uma árvore.

A partir dessa perspectiva digamos então que o nosso limoeiro não morreu por causa de uma mão ruim (olhos, talvez). Mas que tenha sido afetado por um afeto como a inveja. E isso diminuiu a sua potência de agir ao ponto de leva-lo á morte – o que talvez não tenha sido ruim. Dizem que algumas coisas precisam morrer para renascer mais forte – quem sabe esse não seja o caso do nosso limoeiro. Já quem ou que fez isso com ele pagará uma pena maior. Aliás,  já está pagando, pois viver com esse tipo de afecção não deve ser fácil. “Que a terra lhe seja leve”.

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.