sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Coleção Sentimento da Dialetica - Uma luz sobre as trevas da ignorância

Para nossa alegria e deleite foi disponibilizado em formato digital a obra dos Filósofos Paulo Eduardo Arantes e Otília Beatriz Fiori Arantes. Trata-se de um acervo riquíssimo, que perpassa por diversas áreas da Filosofia e das Ciências Sociais. No contexto que vivemos o projeto coordenado por Pedro Fiori Arantes chega como uma luz sobre as trevas da ignorância.  

Na apresentação da coleção, Pedro Fiori Arantes salienta a responsabilidade que os intelectuais tem, com a força das suas ideias, no entendimento e transformação do mundo. Diante dessa responsabilidade da qual Paulo e Otília já mais se omitiram é que nasce a Coleção que, segundo Pedro Fiori Arantes,  “é um lugar de encontro” com a obra desses intelectuais e de reafirmação do “sentido coletivo da sua produção intelectual, reunida e editada em livros digitais gratuitos, vídeos e outros documentos”.

Ainda nessa linha, Pedro Fiori Arantes salienta que é uma oportunidade para um público cada vez maior ter acesso a esse acervo. Ele também diz ser um encontro da obra desse autores “com o movimento contemporâneo em defesa do conhecimento livre e desmercantilizado, na produção do comum e de um outro mundo possível”.  

Tão logo descobri a coleção imediatamente acessei o site (https://sentimentodadialetica.org/dialetica) e fiquei maravilhado com o que vi. O projeto gráfico ilustrado com uma obra da Tarsila do Amaral é um primor – diria que a altura do legado que esses dois intelectuais produziram ao longo de 50 anos.

E o acervo então?! Encontramos clássicos como “Sentimento da dialética na experiência intelectual brasileira: Dialética e dualidade segundo Antonio Candido e Roberto Schwarz [1992]”. E “Um departamento francês de ultramar: Estudos sobre a formação da cultura filosófica uspiana (uma experiência dos anos 1960) [1994]”. Ambos do Paulo Arantes. Esse último, aliás, escrito numa prosa gostosa. Já de Otília temos “Cultura, poder e dinheiro na gestão das cidades [1993 a 2000]”.

Aos que já conhecem Paulo e Otília é uma ótima oportunidade para aprofundar esse conhecimento através da sua obra. Aqueles não os conhecem eis ai o caminho – a esses recomendaria começar pelas entrevistas (tanto escrita como em vídeo) antes de adentrar aos clássicos. 

A Coleção tem uma organização bem estruturada o que facilita a vida dos leitores e pesquisadores. Pedro Fiori Arantes ressalta que são “sete categorias e três subcoleções, com diferentes tipologias documentais e formatos de arquivos”. 

Na categoria principal encontramos Filosofia, Política, Estética, Arquitetura e Cidades entre outros. Aqui “cada categoria adota uma cor específica aplicada na capa do e-book”. 

Na Subcoleções temos os E-books de ensaios, entrevistas e inéditos (em formatos PDF para impressão, PDF para visualização em tela e livro digital-EPUB e em Kindle-Mobi (este último, em breve), apresentados com breves resenhas no site.

Em Mídia temos: vídeos e áudios de palestras, falas e debates, com breves resenhas do site e vinculados aos canais originais que o divulgaram. 

Em outros documentos temos: entrevistas, artigos e matérias em jornais e revistas, resenhas e documentos históricos (em formatos PDF). 

E por fim, além da pesquisa por categorias e subcoleções, você pode realizar no site a busca aberta por palavras, cuja pesquisa será remetidas aos metadados de cada e-book ou documento (título, resumo e palavras-chave).

Diante disso só nos resta agradecer e apreciar o rico acervo disponibilizado pela coleção Sentimento da Dialética. Certamente retiraremos desse acervo importante contribuição para tão necessária luta contra o obscurantismo em moda, e na busca por um outro mundo possível.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Sobre Cuba

 “Todos os inimigos podem ser vencidos...”.

Fidel Castro 

Eventos recente em Cuba voltaram a abalar o mundo. Isso, mesmo – digo sem nenhum exagero – abalar o mundo. É incrível como Cuba continua despertando paixões de amor e ódio em diversas criaturas. Foi só surgir a notícia de protestos massivos contra o regime político da ilha que começou os debates em todo o mundo entre os defensores e opositores do regime Cubano – inclusive com manifestações nas ruas.

Antes de me posicionar sobre o problema, busquei absorver as informações sobre o acontecido e a partir daí fazer uma análise crítica. Foi então que me veio uma questão. Mais do que desestabilizar o Governo Cubano as manifestações foram uma ação orquestrada para sobrepor o feito histórico anunciado dois dias antes pelas autoridades da Ilha. Ora, imagine o incômodo que não é para a classe dominante mundial, e não só estadunidense, ver um pequeno país que sobrevive com um embargo econômico criminoso, ter a capacidade de produzir seu próprio imunizante com eficácia comprovada de mais de 90%. 

De acordo com  Vicente Vérez Bencomo, Doutor em Ciências e Diretor do Instituto Finlay de Vacinas (IFV), a combinação de duas doses do candidato de vacina Soberana 02 e uma da Soberana Plus no esquema de 0-28-56 dias tem uma eficácia de 91,2%. 

O anúncio é um soco no estômago dos obscurantistas, do imperialismo estadunidense e das farmacêuticas mundiais que lucram com a morte – afinal de contas é um país a menos do qual irão lucrar. Sem falar nos outros que poderão adquirir os imunizantes Cubano.  

É por isso que esse Governo é perigoso. Por contrariar os interesses dos poderosos. Não por que supostamente oprime a sua população e condena-a miséria. O fato é que esses humanistas de ocasião não olham para o próprio quintal. Para eles o ideal é que Cuba se torne o Haiti. Ou outra republiqueta onde possam mandar e desmandar.

O Mundo todo vem passando por uma crise decorrente das consequências da COVID-19 (Sem falar da crise ambiental). Por exemplo, de acordo com relatório da ONU 10% da população mundial sofreu com a fome em 2020. Só na América Latina são mais de 60 milhões passando fome. No Brasil nunca se viu tanta campanha da sociedade Civil contra a fome como agora.

Nesse contexto, Cuba não é uma exceção. Que além disso ainda é submetida a um bloqueio econômico criminoso por parte dos Estados Unidos. Bloqueio esse recrudescido no Governo Trump e mantido pelo Governo Biden.

Apesar disso não se vê em Cuba as cenas de miséria e violência vistas em outros países. Sobretudo nos ditos democráticos. Por exemplo, em relação a taxa de mortalidade por COVID-19, Cuba está entre aqueles que menos perderam vidas para esse vírus. Além do fato de sempre ter se posicionado a favor da ciência. 

Diante disso fica mais evidente ainda que as manifestações foram uma espécie de factoide para tirar a atenção do feito histórico dos cientistas Cubano. E conseguiram – a imprensa mundial deu toda ênfase as supostas manifestações “espontâneas” contra o regime político Cubano e ignorou o anúncio de comprovação da eficácia da vacina Soberana. 

Um fato interessante é que um dos argumentos utilizado pelos manifestantes é a cobrança por mais vacina devido o aumento de casos de COVID-19 na Ilha. Mas a preocupação do Governo em desenvolver imunizantes próprio, assim como o índice da População já imunizada, mostra que o governo não tem poupado esforço, mesmo sem muito recurso, com as questões de biossegurança. 

Para concluir, apesar de toda essa cortina de fumaça que tentou se fazer. O que não poderá ser apagado da história mundial será o feito da Ciência Cubana em conseguir desenvolver o primeiro imunizante Latino Americano contra a Covid-19. Que o povo cubano não se esqueça das palavras de Che Guevara – “sempre em frente, sempre contragolpeando, sempre respondendo a cada agressão com uma pressão ainda maior”, hasta la victoria sempre.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

sábado, 7 de agosto de 2021

Sobre a Privatização dos Parques Ecológicos do Tocantins

APA Serra do Lajeado 

O Governo Mauro Carlesse (PSL) encaminhou para a Assembleia Legislativa uma proposta de concessão dos Parques Ecológicos do Tocantins á iniciativa privada. Se o projeto for aprovado essas áreas passarão a ser controladas e exploradas comercialmente – dificultando o acesso da população em geral. Além dos impactos ambientais que certamente haverá com o aumento do fluxo de turistas. 

Óbvio que o discurso apresentado é diferente. De acordo com o governo o objetivo é, através do fomento do turismo, cultura e atividades ambientais, dar continuidade à preservação dos atrativos naturais do Tocantins. Nesse sentido as empresas concessionárias deverão coordenar atividades de visitação voltadas à educação ambiental, a preservação do meio ambiente, ao turismo ecológico e ao contato com a natureza. 

Caso o projeto seja aprovado as áreas em questão serão o Parque Estadual do Jalapão, o Parque Estadual do Cantão, o Parque Estadual do Lajeado e o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas (com exceção dos territórios indígenas e quilombolas que estão nessas áreas). 

Um ponto a se ressaltar é que o projeto segue a linha do Projeto do Governo Federal, que através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico Social (BNDES) irá financiar 26 projetos de parceria público-privado em todo o Brasil. Entre esses projetos estão o do Parque Estadual do Jalapão  e do Parque Estadual do Cantão. Por tanto trata-se de uma ação articulada nacionalmente pelo Governo de Jair Bolsonaro. 

Bem, é aí que aumenta a nossa preocupação, sobretudo por que estamos falando de um Governo que desde o primeiro momento declarou guerra as políticas de proteção ambiental e que tem patrocinado o desmantelamento dos órgãos de proteção ambiental. 

Os defensores do Projeto de Concessão dos Parques Ecológicos á iniciativa privada dizem que se trata de um modelo de sucesso seguido em todo mundo. O problema que o Brasil não é todo o mundo. A forma como os governos enxergam a questão ambiental no nosso país é uma evidência inquestionável.

Quem garante que os órgãos de fiscalização ambiental conseguiram acompanhar as ações coordenadas por essas empresas?! Pois um ponto fundamental em projetos como esse é a fiscalização para que não ocorra ações que prejudique a biodiversidade com o aumento do fluxo de pessoas nesses espaços. 

Outro ponto de preocupação deve ser a elitização dessas áreas como ocorre no Jalapão – onde o turismo tem como foco o lucro e não a preservação ambiental – lucro que não é revertido em investimentos que melhore a qualidade de vida da população local, mas para engordar as contas das agências de viagem.

Aliás,  encontramos ai uma contradição entre o discurso de preservação do Governo através do fomento do turismo em área de proteção ambiental pela iniciativa privada. Ora, não é possível conciliar os interesses do capital com preservação ambiental. Em última análise permanecerá os interesses do capital. 

Nessa linha destacamos o que diz Nathália Bastos do Vale Brito (2017): “O capitalismo, portanto, baseado na busca incessante pelo lucro, pela valorização monetária da riqueza, pela lógica do acúmulo e exploração gera um nível de degradação ambiental e humana sem precedentes... Nesses moldes, é difícil se pensar em sustentabilidade dentro do paradigma ideológico do capitalismo”.

Diante disso, finalizamos nos colocando contrário ao Projeto de Lei que pretende passar para iniciativa privada a exploração dos Parques Ecológicos do Jalapão, Cantão, Lajeado e o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas. O Patrimônio Natural do Povo Tocantinense não pode ser entregue nas mãos de algumas empresas – que tem como interesse tudo, menos a preservação ambiental. Esperamos que os movimentos sociais, especialmente os ambientalistas e povos do campo se rebelem contra o mesmo.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

domingo, 1 de agosto de 2021

Pandemia, ansiedade e desempenho escolar

Avaliando as atividades escolares desenvolvidas remotamente pelos estudantes me chamou atenção, não o que conseguiram produzir, mas sim o que deixaram de produzir. Creio, que em grande medida, por falta de planejamento e organização. Essa falta de planejamento e organização é agravada pela ansiedade causada pela pandemia de COVID-19. E isso reflete no desempenho escolar. 

A pandemia e uma nova dinâmica de exploração 

Se já vivíamos na “Sociedade do cansaço” como defende Byung Chu Han. Com a pandemia então isso ficou evidente. A pandemia nos impôs uma nova dinâmica de vida. Seja em relação ao trabalho, ao estudo e até mesmo ao lazer. Num primeiro momento há a necessidade de uma desaceleração, mas logo a autoexploração é intensificada através das atividades remotas. Do dia para noite é dinamitado a barreira entre horário de serviço e horário de descanso. Na educação então nem se fala. A qualquer hora temos que está a postos para atender o estudante. O estudante por sua vez deve se virar, na maioria dos casos com material impresso, sem um professor para auxiliá-lo diretamente.

Afetos, insegurança e Ansiedade

A pandemia nos trouxe um ambiente de insegurança. E a medida que não se vislumbra uma superação imediata dela, essa insegurança aumenta. Vamos do Medo a Esperança e da Esperança ao Medo a cada nova notícia que surge. Por exemplo, quando vemos o número de infectados e de mortes aumentarem, sobretudo a nossa volta somos afetados pelo Medo. Já quando vemos a população ser imunizada somos afetados pela Esperança. A questão é que quando somos afetados pelo medo não deixamos de ter esperança. E da mesma forma quando somos afetados pela esperança. E ai vem a ansiedade – considerada por alguns especialistas como o mau do século – E que é agravada pelo contexto de insegurança trazido pela pandemia.

Como controlar a ansiedade?

A resposta para essa pergunta depende de cada um. De modo que não há uma receita milagrosa – uma resposta única. O desafio, por tanto, é sairmos do comodismo e imediatismo. E a partir daí procurarmos o que nos faz bem. Ou como diria Espinoza, o que aumenta a nossa potência de agir. A Filosofia pode ser o nosso ponto de partida sobretudo ao nos fazermos uma pergunta clássica: O que é a vida? Uma coisa eu posso afirmar. A vida não é um romance que você se envolve tanto com a estória e fica ansioso para saber como termina. E então é só acelerar a leitura ou ir para as últimas páginas. A vida também não é uma série que você pode maratonar num final de semana todos os episódios e assim chegar ao fim. A gente não tem nenhum controle sobre o futuro. Então para que tanta ansiedade? Vivamos o presente da melhor forma possível. 

Desempenho Escolar 

A maioria dos estudantes não tem acesso a um serviço de internet de qualidade e aparelhos adequados. De modo que as atividades remotas são desenvolvidas a partir de material impresso. Se na sala de aula com a presença de um professor especialista na área o aprendizado já se dava de forma limitada, imagine agora. Soma-se a isso a falta de um ambiente adequado, a falta de organização e planejamento. Isso reflete em atividades feitas pela metade ou pouco desenvolvidas. Ou ainda entregue em branco. Se o estudante tem 15 dias para desenvolver as atividades propostas. Ele deixa para resolver tudo em algumas horas. Ai o resultado já viu, né?! Todos esperam ansiosos o retorno “a normalidade” e não percebem que enquanto isso estão perdendo um tempo precioso na sua formação – o que, dificilmente, será recuperado.

Organização e Planejamento 

São fatores primordiais em qualquer contexto. Mas nesse marcado por mudanças ainda mais. O estudante não tem mais a estrutura controladora da escola para que pelo menos durante um pouco mais de 4h diárias desenvolva suas atividades. Ele deve, com o auxílio da família (óbvio, da Escola, de forma remota), estabelecer a sua rotina de estudo. Tal como horário diário para desenvolver as atividades, num ambiente propício. O que preciso fazer? Enquanto tempo? Quais as atividades que tenho mais dificuldade? Quais materiais preciso? Isso são alguns pontos básico para organizar e planejar uma rotina de estudo.

Conclusão 

O estudante ganhou autonomia, mas por não saber utilizá-la perde-se, e clama por controle. Por que isso ocorre? Por que o modelo de educação dominante caminha justamente nessa perspectiva – um modelo de educação que castra a curiosidade e a criatividade do estudante – não forma cidadãos livres, mas submissos. Diante disso é compreensivo que não consigam ter um desempenho escolar melhor nesse contexto ou em outro qualquer. Se quisermos mudar isso, devemos romper com esse modelo de educação. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Punkadas













E com alguns devaneios poéticos encerramos o primeiro semestre de 2021. Voltamos a nos encontrar em Agosto.


segunda-feira, 28 de junho de 2021

Muhammad Saeed al-Sahhaf ou “Onyx, o cômico”

A entrevista do Secretário Geral da Presidência da República do Governo Bolsonaro – o desprezível Onyx Lorenzoni – no episódio referente a Covaxin me fez lembrar de uma figura marcante na invasão do Iraque pelo exército estadunidense em 2003. O então Ministro da Informação de Sadan Hussein – Muhammad Saeed al-Sahhaf.

Eu, um estudante do ensino médio no interior tocantinense, acompanhava com interesse, através dos meios de comunicação, o conflito. Desde o atentado as torres gêmeas em 11 de Setembro que passei a acompanhar com maior interesse questões políticas internacionais. Cursava o ensino médio a noite e quando chegava ligava a televisão e ia assistir o Jornal da Globo.

Entre os personagens daquele episódio Al-Sahhaf – o então Ministro da Informação Iraquiano e Porta-Voz do Governo Sadan Hussein – me chamou atenção. Aliás, de todos que acompanhavam a cobertura da mídia. Primeiro por que ele era o único do Governo que dava as caras. Mas sobretudo pelo fato de que suas declarações iam totalmente contra os fatos. Isso fazia dele uma figura um tanto cômica mesmo diante do seu ar sério e uma fala sempre em tom ameaçador.

Diante disso lhe deram a alcunha de “Ali, o cômico”. O porta-Voz de um Governo em queda livre. Mas que ele insistia em dizer ser uma fortaleza.

Brasil, 2021. Olha só, temos o nosso Al-Sahhaf. Das tantas figuras medíocres que compõem esse governo. Onyx é o que mais se assemelha a figura de Al-Sahhaf, sobretudo quando analisamos a sua atuação na entrevista coletiva para tentar negar as acusações envolvendo o caso Covaxin. Ou suas declarações no Twitter como: “Sobre a covaxin: Pra atacar o Presidente vale qualquer coisa, vindo de qualquer um. Mais uma vez a verdade acaba com as narrativas e mentiras. Vamos entrar no 31° mês de governo sem corrupção. Isso incomoda demais.”

Não meus caros, não riam, não é uma piada. É uma declaração do Secretário Geral da Presidência da República do Governo Bolsonaro. Tal como Al-Sahhaf, as declarações de “Onyx, o cômico” não condiz com os fatos. Ele, assim como os seus pares vivem numa realidade paralela. Tenta mostrar força de um Governo que cheira a cadáver. Aí de nós, aí de nós. Seria cômico se não fosse trágico.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 


quarta-feira, 23 de junho de 2021

Por mais afetos alegres na Escola: Alguns pontos

Banksy
1- A Escola não é um espaço deslocado do resto da sociedade. De modo que várias expressões da questão social na sociedade são reproduzidas no ambiente escolar, o que faz com que as relações nesse ambiente sejam atravessadas por conflitos – conflitos políticos, conflitos de interesses, conflitos pessoais e conflitos emocionais;

2- Nesse contexto pandêmico os conflitos tendem a se intensificar pelo fato de que as emoções estão a flor da pele. As pessoas estão tão saturadas de tudo que uma gota qualquer faz o copo transbordar;


3- A carga de trabalho que os profissionais da educação estão tendo que suportar, não pode ser classificada de outra coisa se não de desumana – que, portanto, a médio e longo prazo é humanamente insuportável;


4- Quem atua na educação dificilmente não tem um exemplo de alguém que se afastou do trabalho ou preferiu se aventurar em outra área, por não suportar a carga de trabalho, as exigências burocráticas e, ainda mais, a falta de reconhecimento por parte da sociedade que propagou a ideia que não tendo aulas presenciais os profissionais da educação estavam recebendo sem trabalhar;


5- Entre os profissionais que atuam na educação há um grupo que merece uma atenção especial. Trata-se do pessoal que permaneceu na escola mesmo não tendo aulas presenciais. Sobretudo os que trabalham na higienização, garantindo que o ambiente escolar seja um ambiente seguro;


6- Em algumas escolas esses profissionais tiveram que se desdobrar para dá conta do serviço devido o afastamento de servidores do grupo de risco. E passado pouco mais de 1 ano de pandemia no Brasil e mais de 500 mil vidas perdidas. Esses servidores estão esgotados tanto físico como mentalmente;


7- O acolhimento socioemocional dos estudantes tornou-se uma prioridade. E de fato é algo essencial. Mas quem está fazendo o acolhimento socioemocional dos servidores? 


8- Precisamos fazer circular afetos alegres no ambiente escolar. Isso não quer dizer que tenhamos que negar os conflitos. Pelo contrário. Eles fazem parte da dinâmica das relações. No entanto devem ocorrer num ambiente de respeito;


9- Empatia e Cooperação não podem ser palavras vazias no currículo. Elas devem ser vivenciadas na escola. Por que se não virá demagogia. Ora, como eu vou falar em “exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza” (Competência 09 da BNCC). Se na relação com o meu colega de trabalho eu não prático isso?!


10- No contexto atual não há ninguém 100% bem mentalmente no ambiente escolar. Por tanto é preciso cuidado com cada gesto, ações e palavras – uma mensagem intempestiva, um comentário desnecessário. São coisas que fazem circular afetos com a capacidade de tornar o ambiente escolar insalubre, tóxico. E se temos a capacidade de fazer circular afetos, por que não fazermos circular afetos alegres? 


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.