quarta-feira, 23 de junho de 2021

Por mais afetos alegres na Escola: Alguns pontos

Banksy
1- A Escola não é um espaço deslocado do resto da sociedade. De modo que várias expressões da questão social na sociedade são reproduzidas no ambiente escolar, o que faz com que as relações nesse ambiente sejam atravessadas por conflitos – conflitos políticos, conflitos de interesses, conflitos pessoais e conflitos emocionais;

2- Nesse contexto pandêmico os conflitos tendem a se intensificar pelo fato de que as emoções estão a flor da pele. As pessoas estão tão saturadas de tudo que uma gota qualquer faz o copo transbordar;


3- A carga de trabalho que os profissionais da educação estão tendo que suportar, não pode ser classificada de outra coisa se não de desumana – que, portanto, a médio e longo prazo é humanamente insuportável;


4- Quem atua na educação dificilmente não tem um exemplo de alguém que se afastou do trabalho ou preferiu se aventurar em outra área, por não suportar a carga de trabalho, as exigências burocráticas e, ainda mais, a falta de reconhecimento por parte da sociedade que propagou a ideia que não tendo aulas presenciais os profissionais da educação estavam recebendo sem trabalhar;


5- Entre os profissionais que atuam na educação há um grupo que merece uma atenção especial. Trata-se do pessoal que permaneceu na escola mesmo não tendo aulas presenciais. Sobretudo os que trabalham na higienização, garantindo que o ambiente escolar seja um ambiente seguro;


6- Em algumas escolas esses profissionais tiveram que se desdobrar para dá conta do serviço devido o afastamento de servidores do grupo de risco. E passado pouco mais de 1 ano de pandemia no Brasil e mais de 500 mil vidas perdidas. Esses servidores estão esgotados tanto físico como mentalmente;


7- O acolhimento socioemocional dos estudantes tornou-se uma prioridade. E de fato é algo essencial. Mas quem está fazendo o acolhimento socioemocional dos servidores? 


8- Precisamos fazer circular afetos alegres no ambiente escolar. Isso não quer dizer que tenhamos que negar os conflitos. Pelo contrário. Eles fazem parte da dinâmica das relações. No entanto devem ocorrer num ambiente de respeito;


9- Empatia e Cooperação não podem ser palavras vazias no currículo. Elas devem ser vivenciadas na escola. Por que se não virá demagogia. Ora, como eu vou falar em “exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza” (Competência 09 da BNCC). Se na relação com o meu colega de trabalho eu não prático isso?!


10- No contexto atual não há ninguém 100% bem mentalmente no ambiente escolar. Por tanto é preciso cuidado com cada gesto, ações e palavras – uma mensagem intempestiva, um comentário desnecessário. São coisas que fazem circular afetos com a capacidade de tornar o ambiente escolar insalubre, tóxico. E se temos a capacidade de fazer circular afetos, por que não fazermos circular afetos alegres? 


Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

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