Acompanhando o processo de impeachment contra Dilma
Rousseff no senado me lembrei das maravilhosas aulas nas manhãs de sábado na
UFT na disciplina de seminários interdisciplinares II do curso de filosofia e
Teatro. Onde temos nos deliciados nos estudos das tragédias gregas.
Uma das características dessas obras primas da
literatura mundial é o fato de que desde o inicio já sabemos como terminará a
história e qual será o destino dos personagens – seja em Ion de Eurípedes, em
Édipo Rei de Sófocles, Coéforas de Ésquilo. Mesmo assim não deixamos de
acompanhar com empolgação o desenvolvimento do enredo.
E atentos buscamos perceber quando se dará a
peripécia, isto é, quando ocorrerá uma ação no sentido contrario do enredo. Ou
também como se dará a cena de reconhecimento. Que é, aliás, quando o debate
pega fogo e quase sempre discordamos de Aristóteles. Que na sua obra “A
poética” teorizou sobre a cena de reconhecimento, isto é, o momento de passagem
da ignorância para o conhecimento.
Segundo Aristóteles existe quatro espécies de
reconhecimento –forjado pelo poeta, recordação, raciocínio ou dedução logica, e
decorrente dos próprios fatos. Este último, que, aliás, é para Aristóteles o
mais engenhoso. O problema é que quase sempre há um pouco de cada nas cenas de
reconhecimento. Definir qual o preponderante é onde a “porca torce o rabo”. E
onde então quase sempre discordamos do sábio grego, utilizando-se do seu
próprio método para tanto.
Eu sei que nesse exato momento você meu camarada que
não tem nenhuma familiaridade com essa discussão de tragédia grega, a não ser
através do cinema hollywoodiano deve está pensando: - Esse cara esta falando grego.
Aonde diabos ele quer chegar. Calma, calma. Voltemos então a nossa discussão
inicial – a comparação do processo de impeachment de Dilma no senado com uma
tragédia grega.
Ora, tal como numa tragédia grega onde sabemos o fim
da historia antes mesmo de começar a leitura do enredo, também já sabemos muito
bem qual será o resultado do processo de impeachment. Mesmo assim acompanhamos
com atenção para ver o momento da peripécia e a cena de reconhecimento. A única
diferença é que a qualidade dessa tragédia brasileira é bem inferior tanto
artisticamente como politicamente as tragédias gregas. E também, ao final não
será os personagens principais dessa tragédia que pagaram o pato, mas sim o
povo.
Pedro
Ferreira Nunes é estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.
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