segunda-feira, 9 de maio de 2016

Tragédias gregas e o processo de impeachment contra Dilma Rousseff no senado.

Á professora Andreia Leão

Acompanhando o processo de impeachment contra Dilma Rousseff no senado me lembrei das maravilhosas aulas nas manhãs de sábado na UFT na disciplina de seminários interdisciplinares II do curso de filosofia e Teatro. Onde temos nos deliciados nos estudos das tragédias gregas.

Uma das características dessas obras primas da literatura mundial é o fato de que desde o inicio já sabemos como terminará a história e qual será o destino dos personagens – seja em Ion de Eurípedes, em Édipo Rei de Sófocles, Coéforas de Ésquilo. Mesmo assim não deixamos de acompanhar com empolgação o desenvolvimento do enredo.

E atentos buscamos perceber quando se dará a peripécia, isto é, quando ocorrerá uma ação no sentido contrario do enredo. Ou também como se dará a cena de reconhecimento. Que é, aliás, quando o debate pega fogo e quase sempre discordamos de Aristóteles. Que na sua obra “A poética” teorizou sobre a cena de reconhecimento, isto é, o momento de passagem da ignorância para o conhecimento.

Segundo Aristóteles existe quatro espécies de reconhecimento –forjado pelo poeta, recordação, raciocínio ou dedução logica, e decorrente dos próprios fatos. Este último, que, aliás, é para Aristóteles o mais engenhoso. O problema é que quase sempre há um pouco de cada nas cenas de reconhecimento. Definir qual o preponderante é onde a “porca torce o rabo”. E onde então quase sempre discordamos do sábio grego, utilizando-se do seu próprio método para tanto.

Eu sei que nesse exato momento você meu camarada que não tem nenhuma familiaridade com essa discussão de tragédia grega, a não ser através do cinema hollywoodiano  deve está pensando: - Esse cara esta falando grego. Aonde diabos ele quer chegar. Calma, calma. Voltemos então a nossa discussão inicial – a comparação do processo de impeachment de Dilma no senado com uma tragédia grega.

Ora, tal como numa tragédia grega onde sabemos o fim da historia antes mesmo de começar a leitura do enredo, também já sabemos muito bem qual será o resultado do processo de impeachment. Mesmo assim acompanhamos com atenção para ver o momento da peripécia e a cena de reconhecimento. A única diferença é que a qualidade dessa tragédia brasileira é bem inferior tanto artisticamente como politicamente as tragédias gregas. E também, ao final não será os personagens principais dessa tragédia que pagaram o pato, mas sim o povo.


Pedro Ferreira Nunes é estudante de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

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