“É
preciso ver a obra de arte como se estivéssemos vendo o mundo diante
de nós. Vendo a obra de arte como o mundo e não como um objeto, ela
deixa de ser meramente perceptível para se tornar conhecimento”.
Gadamer
Foi
numa noite fria lajeadense tomando conhaque e fumando cachimbo que
tomei conhecimento do projeto do artista plástico Rogério Caldeira
intervindo na paisagem da capital – expondo suas obras de arte nos
bosques e praças. Peças feitas a partir de lixo eletrônico.
Se
comparado com outras grandes cidades Palmas é um tanto fria,
fragmentada, sem uma grande presença de arte urbana nos seus muros,
praças e bosques. Não que não exista arte urbana em Palmas, o
problema é que está muito guetizada, muito enclausurada em espaços
específicos. Rogério Caldeira que divide sua vida entre Palmas e
Lajeado tem subvertido isso – em vez de aceitar essa guetização,
tem exposto nas praças e nos bosques, ao alcance de tudo e de todos.
Seja
na praça dos girassóis, feira do bosque, espaço cultural,
rodoviária, prainha da UFT ou em Taquaruçu – se você ainda não
se deparou provavelmente irá se deparar com uma das obras de arte
desse artista plástico tocantinense – convidando-o a refletir e a
interagir já que a intenção de Rogério Caldeira é que o
espectador não permaneça passivo diante do seu trabalho. Mas que
também possa intervir modificando-os já que não se trata de algo
intocável como as obras de artes expostas em museus e galerias. E
com isso mesmo sem saber o artista está buscando aquilo que afirmou
o filósofo alemão Hans-Georg Gadamer de que “é preciso ver a
obra de arte como se estivéssemos vendo o mundo diante de nós.
Vendo a obra de arte como o mundo e não como um objeto, ela deixa de
ser meramente perceptível para se tornar conhecimento”.
O
projeto não tem nome, não tem patrocinadores, é ele (artista) por
ele mesmo. O que não é de se lamentar já que lhe garante total
liberdade de criação. E foi justamente isso que me encantou no
projeto e me fez escrever essas linhas. Pois precisamos de mais
iniciativas nesse sentido. Iniciativas que fortaleça a arte no
Tocantins, libertando-as das amarras do sistema hegemônico. Rogério
Caldeira no melhor estilo anticapitalista subverte a ordem
estabelecida expondo o seu trabalho na rua.
As
obras
Á
maioria das peças são feitas a partir de lixo eletrônico,
especialmente televisores, além de outras sucatas que o artista
recolhe pelas ruas da capital. Ele leva para seu atelier onde a
transformação acontece. O que antes seria lixo descartado na rua é
transformado em obra de arte. Muitos dirão que não se trata de uma
ideia original – transformar lixo em arte. E de fato não é. O que
não deixa de ser importante especialmente no contexto regional –
onde a arte e a cultura são extremamente desvalorizadas e a questão
ambiental completamente ignorada, pelo menos do ponto de vista
prático.
No
entanto ás obras de Rogério Caldeira vai muito além da questão
ambiental, em uma conjuntura de questionamento do papel dos meios de
comunicação, elas nos convida a refletir sobre esse domínio muitas
vezes invisível – determinando o que devemos vestir, o que devemos
comer, o que devemos beber, o que devemos ouvir, o que devemos fazer
e no que devemos crer. Em contraposição o artista nos chama atenção
para a possibilidade de construção de uma outra narrativa. Dai o
convite para interferirmos nas suas obras de arte.
Questão
política
Apesar
do artista negar uma intencionalidade política, o fato é que se
trata de um trabalho extremamente político. Mas compreendemos o seu
receio em assumir claramente uma postura política, sobretudo pelo
conceito equivocado que a palavra política tomou na sociedade atual,
no qual os meios de comunicação que ele crítica tem um papel
fundamental nessa desvirtuação. Geralmente quando ouvimos a palavra
política ligamos a partidos políticos institucionalizados e a
corrupção.
Mas
política de acordo com o pensamento grego clássico, o qual devemos
resgatar, trata-se segundo Japiassú (2001) de “tudo aquilo que diz
respeito aos cidadãos e ao governo da cidade, aos negócios
públicos”. Ainda de acordo com Japiassú (2001) “em sua
concepção e na tradição clássica em geral, a política como
ciência pertence ao domínio do conhecimento prático e é de
natureza normativa, estabelecendo os critérios da justiça e do bom
governo e examinando as condições sob as quais o homem pode atingir
a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência
coletiva”.
Não
dá, portanto para negar que o trabalho artístico de Rogério
Caldeira seja eminentemente político. No entanto o que cabe
questionar é se se trata de uma arte política engajada ou
militante. Quanto à diferença entre arte politica engajada e
militante recomendo a leitura do seguinte artigo “Resistir
é preciso! Arte popular no Tocantins”, de
minha autoria ou “O
sentido político da arte hoje”,
de autoria do Pedro Duarte. Para mim trata-se de uma arte política
engajada especialmente pelo fato de que Rogério Caldeira não faz
parte de nenhuma organização política, com uma proposta ideológica
contra-hegemônica. O que acaba o aproximando da arte politica em
geral que é feita no Tocantins.
Á
margem
Por
outro lado, Rogério se coloca á margem do modelo hegemônico no
Tocantins, ao contrário de muitos desses artistas. Por exemplo, ele
produz e expõe sua arte a revelia do poder público e dos espaços
de exposição artística monopolizados por uma pequena elite de
artistas. Também não é dependente de editais públicos, que muitas
vezes obriga o artista a abrir mão da sua liberdade. Com isso mostra
que é sim possível fazer uma arte comprometida com emancipação.
Uma arte que é um convite para que ocupemos as ruas e praças de
nossa cidade.
A
importância do trabalho
Quem
conhece minhas posições através dos meus artigos sabe que sou
extremamente crítico a questão artística e cultural no Tocantins.
Uma crítica que não é apenas ao governo e a falta de politicas
públicas voltadas para cultura, mas também aos artistas que não se
organizam e se contrapõe a essa realidade – preferem ficar
mendigando por migalhas na forma de edital. Dai a minha felicidade
diante desse projeto do artista plástico Rogério Caldeira, pois se
trata justamente de uma ação que vem de encontro com o que
defendemos para o fortalecimento das artes no Tocantins. E foi
justamente por isso que me propus a escrever essas breves linhas que
espero contribuir para que o seu trabalho tenha uma maior
visibilidade.
Por
fim, que iniciativas como essa possa inspirar mais artistas a
ocuparem os muros, as praças e os bosques da nossa capital e de todo
o estado. Criando um ambiente mais agradável, mais humano – onde
os outdoors e as propagandas do comercio não dominem a paisagem.
Pedro
Ferreira Nunes – É educador popular e estudante de Filosofia da
Universidade Federal do Tocantins.
Sim digo sim pra tudo que não for o tédio da popular capsula do tempo que meteram a gente onde depois de amanhã comemoram nosso funeral ideologico. Cade os meus antigos padrões felizes onde está esta Pasargada. Onde esta minha coisa e não dos outros, onde foi a morena do carnaval que nunca mais quiz me ajudar a kombi velha.
ResponderExcluirA empurrar aquela velha Kombi rs
ResponderExcluirOs dois comentários são meus, Rogério Caldeira. Gratidão pela materia "meu amigoPedro" sejamos as moscas na sopa do caldo padrão. Pra dar um caldo pelo menos,
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