A
experiência da URSS
PEDRO FERREIRA NUNES
GRADUANDO EM FILOSOFIA PELA UFT
De
acordo Zizek (2017) “Assombrados” com a experiência da Comuna de
Paris que não conseguiram sustentar o poder por muito tempo. Os
bolcheviques trataram de não cometer os mesmos erros cometidos pelos
comunados, apontados por Lênin em “O Estado e a Revolução”.
Por isso um partido que atuava na perspectiva do centralismo
democrático, não permitindo tendências internas. Além de uma
facção militar que teve um papel importante na organização da
luta armada e ainda na criação da guarda e posteriormente do
exercito vermelho. Que vai na linha do que ele defendia da
necessidade de armar o povo para resistir e destruir a resistência
da burguesia. Percebe-se também a sua preocupação em reconstruir o
Estado, a esse respeito Zizek aponta (2017):
Em
1917, em vez de esperar até que as condições fossem propicias,
Lenin organizou um ataque preventivo, em 1920, como líder do partido
da classe operária sem classe operária (a maior parte havia sido
dizimada na guerra civil), ele deu prosseguimento à organização de
um Estado, aceitando plenamente o paradoxo de um partido que tinha
que organizar – e até recriar – sua própria base, sua classe
operária.
Percebemos
ai a preocupação em reorganizar o Estado, mas um Estado que
funcione a partir de outra lógica, um Estado a serviço da revolução
proletária. Logo é preciso a radicalização da democracia – “paz
imediata, distribuição da terra e, é claro, todo poder aos
sovietes, ou seja, o desmantelamento do aparelho do Estado existente
e sua substituição por novas formas de administração social...”.
(Zizek, 2017). Isso mostra que Lênin de fato tentou levar a cabo o
que ele defendeu em “O Estado e a Revolução”. A destruição do
Estado burguês através de uma revolução violenta, substituindo-a
pela ditadura do proletariado.
No
entanto após a morte de Lênin, e sob a liderança de Stalin, o
Estado soviético caminhou por outro caminho. Tal fato aconteceu pela
questão histórica? Por que a revolução não estourou em outros
países mais economicamente desenvolvidos? Havia outro caminho a
seguir? Sob a liderança de Trotsky a URSS teria um destino
diferente? Não é nosso objetivo responder essas questões aqui. O
fato é que com Stalin a revolução caminhou a passos largos para
uma hierarquização e a ditadura do proletariado foi substituída
por uma burocracia. Em vez da radicalização da democracia
caminhou-se para o autoritarismo. O Estado, ainda que com diferenças,
continuou sendo um instrumento de dominação de uma minoria sobre a
maioria. E por fim o Estado soviético definhou, mas ao contrario do
que vimos em “O Estado e a Revolução”, o seu definhamento veio
acompanhado da restauração do sistema capitalista e, por
conseguinte, do Estado burguês – ainda mais forte do que outrora.
Uma tendência que vimos também em outros regimes
“anticapitalistas”.
A
questão do Estado e a Esquerda Hoje
Sempre
nos momentos de crise aguda do sistema capitalista entra em evidencia
como pano de fundo a discussão a cerca do papel do Estado. Logo não
seria diferente que essa questão voltasse à tona no momento que
estamos passando. Mas o debate acaba caindo numa superficialidade:
Estado mínimo (neoliberal) ou Estada forte (nacionalista).
Superficial pelo fato de que se discute a forma, mas não se discute
a essencial do Estado. E nos parece que o enfraquecimento da esquerda
no ultimo período se deu justamente por que caiu nessa armadilha –
por perder de vista a essência do Estado, isto é, como um produto
do antagonismo inconciliável de classes.
De
acordo com Zizek (2017) tentar subverter a dominação capitalista
através da democracia capitalista consiste na “negação da
negação” hegeliana: “primeiro a antiga ordem é negada dentro
de sua própria forma político-ideológica; depois é a própria
forma que deve ser negada. Aqueles titubeiam, aqueles que têm medo
de dar o segundo passo para superar a forma em si, são aqueles que
(parafraseando Robespierre) querem uma “revolução sem revolução”
– e Lênin mostra toda a força da sua “hermenêutica da
suspeita” ao explicar as diferentes formas desse recuo”.
Trazendo
para o contexto atual podemos exemplificar o Lulismo no Brasil que
terminou de forma dramática com o impeachment de Dilma Rousseff –
um governo que foi marcado pela política da conciliação de classes
e na crença de que era possível acabar com a dominação
capitalista através da democracia capitalista. Crença que, aliás,
continua, já que grande parte da esquerda jogam todas as esperanças
no próximo processo eleitoral. Não tendo, portanto a capacidade de
fazer uma autocritica bem como de caminhar no sentido de superar o
erro que foram cometidos no ultimo período. De modo que não é de
se admirar o fato da esquerda não ser vista como uma alternativa
real.
Insistem
no discurso do “golpe”, mas será que de fato houve um golpe ou
que ocorreu foi justamente à lógica da democracia burguesa? Isto é,
só funciona desde que os interesses das classes dominantes não
sejam contrariados. O Impeachment mostra de maneira cabal que a
democracia burguesa tal como Lênin apontou trata-se de uma farsa.
Acreditar num transformação da sociedade via democracia burguesa é
iludir-se ou pior, iludir os trabalhadores. E é nesse erro que a
esquerda persiste ao apostar todas as suas fichas na via eleitoral.
Nessa
linha é importante salientar o que aponta Gauchet (2017) “cedo ou
tarde, novos projetos de esquerda ressurgirão..., (...) mas o que
impressiona é o tamanho do buraco histórico... Tudo terá que ser
refeito. Será necessário redefinir três elementos ao mesmo tempo.
O primeiro será determinar o perímetro de uma transformação
social. A herança marxista nos levou a pensar do ponto de vista
mundial. Mas, o conceito de nação está de volta. (...) Entre o
mundial e o nacional, será necessário rever essa articulação.”
Outra questão apontada pelo filósofo francês é a cerca da gestão
do Estado. Para Gauchet (2017) “a esquerda vivia da ideia da
superioridade da gestão pública” o que na prática refletiu numa
burocratização e, por conseguinte na derrota da esquerda. Vimos que
na perspectiva leninista o papel dos revolucionários não é gerir o
Estado capitalista, mas sim destruí-lo.
Por
fim, ainda sobre a reconstrução da esquerda, o filósofo francês
Foessel (2017) aponta que “o papel da esquerda é propor uma nova
gramatica capaz de traduzir frustrações individuais em exigências
coletivas”. Tivemos exemplos recentes nos Estados Unidos, na França
e na Inglaterra, no entanto é preciso que a partir dessas
experiências a esquerda tenha ganhos organizativos que caminhe
concretamente para transformação da sociedade e não apenas na
perspectiva de atenuar as contradições antagônicas de classes.
Referencias
Bibliográficas
“A
dificuldade da esquerda é reconstruir o coletivo”, diz filósofo
francês. Disponível
em br.rfi.fr. Acesso em: 16 out. 2017.
Lênin,
Vladimir Ilitch. O
Estado e a Revolução: O que ensina o marxismo sobre o Estado e o
papel do proletariado na revolução. Tradução revista por
Aristides Lobo – 2º ed. rev. atual.--São Paulo: Expressão
Popular, 2010.
Zizek,
Slavoj. As “Teses de abril”, de Lênin.
Disponível em: blogdaboitempo.com.br. Acesso em: 20 Out. 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário