quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Breve reflexão sobre as eleições no Tocantins: A derrota.

A maior derrota no processo eleitoral no Tocantins não foi de Carlos Amastha (PSB) que não conseguiu levar a disputa pelo governo do Estado ao segundo turno. Também não foi de Vicentinho que se destacava nas pesquisas como o favorito para ocupar uma das duas vagas ao senado. Ou da esquerda representada pela candidatura do PSOL que não conseguiu se quer alcançar o voto de 1% do eleitorado. Sem dúvida a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Por quê? Vejamos.

De todos os candidatos que se apresentavam para disputa ao Palácio Araguaia, Marlon Reis era a novidade. Afinal de contas, oriundo do judiciário, seria a primeira vez que disputaria um cargo eletivo. E apostando na possibilidade de crescimento diante do desgaste de representantes da política tradicional no Tocantins ele se lançou. No entanto nós já alertávamos para o fato de que “se fosse uma eleição municipal numa disputa pela prefeitura da capital ou de uma grande cidade do interior como Araguaína, Gurupi, Porto Nacional ou Paraiso. Sem duvidas Marlon Reis seria um nome com condições reais de pelo menos incomodar”. Mas também pontuamos que sua candidatura poderia “desempenhar um papel importante” tanto pelo fato de qualificaria o debate bem como apontaria “formas alternativas de fazer política”. (CONJUNTURA POLÍTICA NO TOCANTINS, 2018).

Veio então à eleição suplementar e Reis surpreendeu com uma votação expressiva alcançando quase 10% do eleitorado (56 mil votos). E a surpresa maior foi ter conseguido derrotar candidaturas tradicionais em vários colégios eleitorais – isso sem aliança com grandes partidos, sem tempo de TV e pouca estrutura. De modo que Marlon Reis saia fortalecido do processo eleitoral suplementar – inclusive mais fortalecido que nomes que haviam ficado a sua frente na disputa. O que fez com que ele e seu grupo político logo passassem a vislumbrar algo maior nas eleições regulares.

Até ai tudo bem. De fato o resultado apontava que havia espaço para construção de uma terceira via. Mas o problema é quando Marlon Reis e seu grupo político na busca por alçar voos maiores se alia a grupos da política tradicional tocantinense. Com isso ele ganha mais tempo de TV e maior estrutura. Mas perde aquilo que fazia de sua candidatura uma novidade – autonomia das grandes legendas e uma forma alternativa de fazer política. Perde também a credibilidade diante do eleitorado que passa a vê-lo como mais do mesmo. É o que reflete a sua votação na eleição regular que alcançou apenas 6,68% do eleitorado (47.046). Como se vê, de 56 mil nas eleições suplementares, que inclusive foi mais disputada que a eleição regular e teve menos votantes, o candidato da Rede caiu para pouco mais de 47 mil votos.

Mas a grande derrota de Marlon Reis, não foi ter tirado menos voto e não ter sido eleito. Isso era previsível. A sua derrota foi ter abrido mão dos princípios que dizia defender. Se mantivesse a coerência construiria uma base solida para as próximas disputas eleitorais. Já que a base que se formou em torno da sua candidatura foi única e exclusivamente por oportunismo. Muitos dos partidos que se aliaram com o candidato da Rede só o fizeram por que tiveram as portas fechadas nas coligações comandadas por Carlesse e Amastha.

Marlon Reis foi um tanto ingênuo ao achar que podia contar com o engajamento dos grupos da politica tradicional em torno da sua candidatura – estes quase sempre estavam em palanques dos seus adversários. E assim, em vez de usa-los, Marlon Reis foi usado por eles, e bem usado. Pois afinal de contas à coligação encabeçada por Marlon Reis elegeu o senador Irajá Abreu (PSD) além de deputados federais e estaduais. Porém nenhum é da Rede Sustentabilidade – que sai da eleição como entrou, sem nenhum representante no parlamento.

E como esses que foram eleitos na chapa encabeçada por Marlon Reis não tem uma aliança programática com a Rede Sustentabilidade. É óbvio que mudaram de lado – irão para o lado de quem está com a máquina pública na mão.

É diante de tudo isso que para nós fica evidente que a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Pois no final das contas mesmo sendo derrotado – Carlos Amastha conseguiu uma votação expressiva, inclusive aumentado a sua votação em relação à eleição suplementar. A derrota de Vicentinho também não foi a pior dessas eleições. Afinal de contas desde o inicio do pleito apontávamos que a disputa pelas duas vagas do senado seria a mais concorrida da história do Tocantins.  Não dá para negar que surpreendeu muita gente, inclusive as pesquisas. Porém se olharmos para o cenário nacional perceberemos que Vicentinho não foi o único cacique da política a perder o mandato no senado nacional. Já quanto à votação do PSOL, também não vemos como uma derrota – derrota seria não ter uma candidatura própria e se aliar com um partido da ordem – como defendiam alguns no PSOL Tocantins.

Sendo assim é de fato Marlon Reis e seu grupo político que saem com a maior derrota e a grande frustração dessas eleições no Tocantins. Resta saber se terão força para tentar reverter essa derrota nas disputas eleitorais futuras – uma tarefa que não é impossível. Afinal de contas em política os derrotados de hoje, poderão ser os vencedores de amanhã. Para tanto é preciso tirar lições das derrotas para não repeti-las. Se estão dispostos a isso, saberemos futuramente.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio. Cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.

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