Após completar os 100 primeiros dias á frente do Governo do Tocantins, Mauro Carlesse (PHS) enfrenta o primeiro movimento grevista no serviço público estadual. Trata-se da greve dos trabalhadores da Agência de Defesa Agropecuária (ADAPEC) que reivindicam melhores condições de trabalho bem como o pagamento de despesas. Qual a postura do Governo diante da Greve? Qual a sua importância para outros movimentos grevistas que virão? São questões importante que merecem nossa atenção.
A deflagração da greve dos trabalhadores da ADAPEC foi decidida em assembleia geral da categoria realizada no dia 20 de Março. Mas só a partir do dia 16 de abril é que os trabalhadores cruzaram os braços nos 139 municípios tocantinenses por tempo indeterminado – o que só se deu por que não houve abertura de diálogo por parte do governo. Os trabalhadores até que tentaram, mas diante da intransigência do governo Mauro Carlesse, em pelo menos ouvir as demandas da categoria, os trabalhadores não tiveram alternativa se não cruzar os braços.
Só então é que o governo decidiu soltar uma nota afirmando que os serviços prestados pela ADAPEC ao público não serão afetados e que as reivindicações da categoria serão atendidas ou melhor, já estão sendo atendidas. Como por exemplo o pagamento das despesas, que esta em atraso, meses de janeiro e fevereiro. A nota afirma que “a quitação do primeiro mês já foi autorizado pelo grupo executivo e será pago na próxima semana” e o mês de fevereiro também será quitado em breve.
Já em relação a melhoria das condições de trabalho, a nota afirma que vários equipamentos como cadeiras, impressoras e computadores já foram adquiridos e logo, logo chegaram as sedes no interior. E também destaca que a Secretária de Infraestrutura está fazendo um levantamento a partir da demanda da Agência de Defesa Agropecuária para fazer melhorias nos locais de trabalho.
Em suma, a nota do governo comprova a denúncia feita pelos trabalhadores acerca da falta de condições de trabalho bem como o atraso no pagamento das despesas. E também é uma prova de que não houve diálogo com a categoria. Pois se tivesse tido diálogo a greve não seria necessária. A não ser que o diálogo não apontasse para resolução dos problemas denunciado pelos trabalhadores. Mas pelo que diz o Governo, não é para isso que se está caminhando. Basta saber se o que foi dito de fato será cumprido ou é apenas uma tentativa de desmobilizar o movimento diante da repercussão negativa para o Governo.
Afinal de contas não está se falando de qualquer categoria, mas de fiscais agropecuários, que em um Estado que tem como base da sua economia o agronegócio, desempenham um papel fundamental, como por exemplo, fortalecer barreiras sanitárias para que animais infectados com alguma doença não adentre no Tocantins – se isso acontecesse imagine o estrago para uma economia que exporta carne para outros países. Pior ainda é para nós consumidores que já comemos tanto veneno devido ao uso abusivo de agrotóxico nas lavouras.
O Governo através da ADAPEC insiste que mesmo com a greve a população não sofrerá prejuízos pois o atendimento de suas demandas está garantido. Não duvidamos disse. Mas não podemos deixar de perguntar como isso é possível? Se o próprio governo reconhece que a infraestrutura não é das melhores e se os trabalhadores estão em greve.
É claro que essa afirmação do governo não passa de um engodo. É óbvio que com a greve os serviços são afetados, pois se com todo o efetivo trabalhando os serviços não são dos melhores imagine com uma categoria importante em greve.
Dito isso, a partir da greve dos trabalhadores da ADAPEC podemos vislumbrar qual é a postura do Governo Carlesse diante dos movimentos grevistas. O primeiro ponto é a indisposição para o diálogo, o segundo é a tentativa de desmobilizar o movimento prometendo atender as reivindicações por meio de nota a impressa (e não dialogando com a categoria). Se isso não alcançar êxito não é difícil prever o terceiro ponto, a criminalização através de um processo de judicialização, reivindicando a ilegalidade da greve. Isso no entanto não pode servir para nos desmobilizar, pelo contrário, reafirma a necessidade da luta para garantir direitos, melhores condições de trabalho bem como a oferta de serviços de qualidade a população como um todo.
Ainda que a pauta da greve é em cima de demandas da categoria, o movimento grevista ganha importância para a classe trabalhadora tocantinense como um todo, especialmente os servidores públicos, pois aponta para a necessidade de resistir aos ataques do governo Carlesse aos direitos dessas categorias bem como ao sucateamento dos órgãos governamentais e a prestação de serviços públicos sem qualidade. Pois como já estamos alertando há algum tempo a agenda neoliberal do governo se aprofundada fará muito mais estragos do que temos acompanhado até agora, nesses quase quatro meses de gestão.
Por fim, cabe ressaltar que numa conjuntura um tanto difícil para a classe trabalhadora – que reivindicar parece um crime, os trabalhadores da ADAPEC dão um ótimo exemplo, mostrando que diante da intransigência dos governos em não querer dialogar, a greve contínua sendo uma importante ferramenta, da qual não podemos abrir mão. Ou depois da aprovação pela Assembleia Legislativa do Tocantins da Medida Provisória 02 que retira direitos dos Servidores, alguém ainda tem alguma ilusão sobre quais interesses os deputados estaduais do Tocantins defende?
Pedro Ferreira Nunes – é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior “.
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