sexta-feira, 15 de maio de 2020

Conto: Sem nadinha na boroca

Gaguinho estava animado para ir no forró que teria no povoado, naquela noite. Fazia um bom tempo que ele não ia num “rala coxa” – que colocava um copo de cachaça na boca, e muito menos, dormisse nos braços de uma moreninha. Aquele seria o dia que ele faria tudo isso e muito mais.

- E ai, vamos ou não vamos no forró hoje?

- Será se vai prestar? Lá só dá macho. 

- Vamo lá, pelo menos a gente toma cachaça e não dorme cedo.

Gaguinho queria convencer seu primo á lhe fazer companhia no forró, pois não gostava muito de sair sozinho.

- Ok. Então vamos. Eu passo às 22h na tua casa.

- Beleza, vou tá ti esperando.

E assim aconteceu.

- E ai, tá pronto? Vamos lá.

- Só se for agora. Eita que hoje eu quero tomar todas e me atracar com uma gatinha.

Quando eles chegaram ao lugar da festa a banda já havia começado a tocar. Não havia muita gente, mas o forró só estava começando. Mesmo assim, não teve como o Gaguinho não ficar um tanto decepcionado ao ver a quantidade de mulher para o tanto de homem presente (10 para 50).

- Só tem macho aqui. Comentou ele com seu primo que apenas sorriu.

- Só nos resta encher a cara, então. 

- Vamos sentar ali e mandar descer cerveja.

- É pra já. 

E tome cachaça, e desce cachaça. E os dois foram se animando, sobretudo ao ver que tinha chegado mais mulheres.

- Vou dançar.

- Vai lá.

Gaguinho já animado saiu para chamar as meninas para dançar. Mas em cada uma que chegava era um “toco” que levava. Enquanto isso seu primo tomando uma cerveja se divertia com os tocos que ele levava.

- Essas míseras não querem dançar não. Disse Gaguinho indignado.

- Olha lá, chega na Negona. Comentou seu primo, sorrindo.

- Tu tá doido rapaz. Respondeu o Gaguinho, enquanto seu primo não conseguia segurar a risada.

Negona não era uma mulher muito bela, aliás, beleza nela só se fosse interna mesma. Não havia uma festa que ela não estivesse. Sempre com uma cervejinha na mão. Dificilmente se via ela com um homem, sobretudo no inicio da festa. Mas o tempo ia passando, a noite ia passando, a festa ia acabando. As mulheres mais bonitas se arranjavam logo e assim só restavam às feias. Negona que no inicio da festa era desprezada por todos passava a ser bastante cobiçada. E ela como não era nenhuma imbecil sabia disso. E passava a fazer com os caras o mesmo que estes fizeram com ela. Portanto ao final da festa ela escolhia com quem queria ficar, não antes sem serrar umas boas cervejas dos trouxas.

Gaguinho conhecia muito bem Negona. Ele já tinha se atracado com ela outras vezes. Afinal de contas ele sabia, se nada mais desse certo, seria a Negona mesmo com que ele ficaria. O que estava fora de cogitação era ele dormir sozinho aquela noite. 

Para Gaguinho aquilo era uma espécie de pescada. Quando você vai numa pescada o objetivo é pegar os melhores peixes, mas se estiver difícil de correr qualquer coisa vai pro sal, inclusive um cuiucuiu. O objetivo do Gaguinho naquela noite era arranjar uma bela moreninha, mas se não desce certo ia a Negona mesmo.

- Só resta saber se quando você quiser, ela vai ti querer. Alertava o primo do Gaguinho.

A noite passou. Gaguinho continuava sozinho. Seu primo já tinha se arrumado – e que belo peixe ele havia pego aquela noite. Já Gaguinho viu que só lhe restava a Negona. Como mais nada havia dado certo, era ela que ele arrastaria. No entanto ele teve uma bela surpresa ao chegar nela.

- Quem sabe outro dia. Hoje não. Assim ela o respondeu e partiu nos braços de outro.

Pobre Gaguinho, aquela noite não tinha jeito. Voltaria para casa sem nadinha na boroca.

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular Tocantinense.

2 comentários:

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