segunda-feira, 11 de maio de 2020

Introdução ao Estudo do Método de Marx.


“...a teoria social de Marx vincula-se a um projeto revolucionário...”.
José Paulo Netto 

Esse texto é fruto do meu esforço para compreender mais profundamente o método de Marx. Não é o primeiro que escrevo e publico acerca dessa questão a partir da ótica do Prof. José Paulo Netto  (Doutor em Serviço Social, referência no pensamento Marxiano e autor de diversas obras). 

O texto anterior foi elaborado em cima de uma aula na UNB (gravada e publicada no YouTube). Esse foi elaborado a partir da leitura de um livreto publicado pela editora expressão popular com o título  “introdução ao estudo do método de Marx” (que se trata de uma versão revisada e simplificada do ensaio “introdução ao método da teoria social” publicado na coletânea: “Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais). 

Creio que ele nos ajuda a se aprofundar ainda mais no entendimento do método de Marx (pelo menos assim foi para mim) ainda que seja um texto introdutório. Espero que a minha leitura aqui compartilhada sirva de estímulo para que você leia tanto o texto do Professor José Paulo Netto, como também a obra de Marx – que diante da conjuntura atual no nosso país – governado pela extrema direita – se configura num ato de subversão – com seus ônus e bônus. 

Introdução 

E é para o ônus de ser marxista que José Paulo Netto nos chama atenção na introdução do seu “Introdução ao estudo do método de Marx”. Netto afirma que “durante o século XX, nas chamadas “sociedades democráticas”, ninguém teve seus direitos civis ou políticos limitados por ser durkheiminiano ou weberiano – mas milhares de homens e mulheres, cientistas sociais ou não, foram perseguidos, presos, torturados, desterrados e até mesmo assassinados por serem marxistas” (Netto, 2011, p. 10). 

Nessas primeiras décadas do século XXI, podemos dizer que as coisas não mudaram tanto, pelo contrário, voltamos a ver novamente uma ascensão de uma espécie de criminalização do estudo de Marx e dos marxistas.

José Paulo Netto (2011, p. 11) salienta que “Marx nunca foi um obediete servidor da ordem burguesa: foi um pensador que colocou, na sua vida e na sua obra, a pesquisa da verdade a serviço dos trabalhadores e da revolução socialista”. Ai está a chave para compreendermos toda a perseguição que ele e aqueles que defenderam e defendem suas ideais sofrem. Marx mesmo morto, continua sendo um perigo para ordem burguesa. Por isso ele deve ser satanizado, suas idéias distorcidas e aqueles que defende seus ideais criminalizados.

José Paulo Netto deixa claro que o seu objetivo nesse texto introdutório acerca do método de Marx, não é abordar esse aspecto ideopolitico do filósofo alemão. No entanto, ele ressalta que esse aspecto não pode ser desprezado pois “uma parcela considerável das polêmicas em torno do pensamento de Marx parte tanto de motivações científicas quanto de recusas ideológicas” (2011, p.11).

O livreto é dividido em cinco tópicos. No primeiro Netto aborda o que ele denomina de “interpretações equivocadas” da obra de Marx. Já no segundo é trabalhado “o método de Marx: uma longa elaboração teórica”. No terceiro o autor aborda  “Teoria, método e pesquisa”. No quarto é tratado “as formulações teórico-metodológicas” e por fim, no quinto, “o método de Marx”.

Interpretações equivocadas

José Paulo Netto defende que a obra de Marx é marcada por interpretações equivodas que levou a deformações, adulterações e até mesmo falsificação dos escritos do nosso filósofo. E isso ocorreu não só por parte dos adversários e detratores de Marx, como também pelos seu próprios seguidores. Por exemplo, Plekhanov e Kautsky, figuras da segunda Internacional,  que tinham por base influências positivistas. Influência que não foi superada, mas que se agravou com uma espécie de neopositivismo da terceira Internacional, “culminando na ideologia stalinista” (2011, p. 12).

A partir dai, Netto aponta para o surgimento de uma literatura manualesca, que reduzia o pensamento de Marx a dimensão económica. “Uma análise “econômica” da sociedade forneceria a “explicação” do sistema político, das formas culturais etc”. Além desse reducionismo, há também o aspecto fatoralista, ao se enfatizar que Marx “situou o “fator econômico” como determinante em relação aos “fatores” sociais, culturais etc” (2011, p. 13).

Netto salienta que muitos críticos de Marx, entre eles Weber, equivocam-se na crítica justamente por não compreenderem que não foi Marx que defendeu uma visão monocausalista, isto é, uma visão que busca explicar tudo a partir de uma única causa. Pelo contrário, Marx tinha como ponto de vista a totalidade, como bem salientou Lukás. 

Além da incompreensão decorrente de uma visão reducionista da filosofia Marxiana. José Paulo Netto também chama atenção para dois eixos que concentram  na atualidade as críticas ao nosso filósofo:

1- “Uma suposta irrelevância das dimensões culturais e simbólicas no universo teórico de Marx, com todas as consequências daí derivadas para a sua perspetiva metodológica” (2011, p. 15);

2- “Um pretenso “determinismo” no pensamento Marxiano: a teoria social de Marx estaria comprometida por uma teleologia evolucionista” (2011, p. 15).

Para José Paulo Netto tais interpretações equivocadas podem ser facilmente superadas. Óbvio, desde que se tenha disposição para tanto. Tendo essa disposição, deve-se buscar referências fundamentadas em análises rigorosas e qualificadas da obra de Marx. Mas sobretudo ler os próprios textos do filósofo, pois é ai que teremos a fonte fundamental para compreendermos o seu método de pesquisa.

O método de Marx: uma longa elaboração teórica

Nesse tópico, José Paulo Netto chama atenção para a longa trajetória que Marx percorreu para desenvolver o seu método de pesquisa. Essa trajetória se iniciou aos 23 anos quando doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Jena. Porém é “quando se confronta polemicamente com a filosofia de Hegel, sob a influência materialista de Feuerbarch, que ele começa a revelar o seu perfil de pensador original” (2011, p. 16).

Para Netto (2011, p. 17) “pode-se circunscreve como o problema central da pesquisa Marxiana a gênese, a consolidação, o desenvolvimento e as condições de crise da sociedade burguesa, fundada no modo de produção capitalista”.  E o ponto de partida dessa pesquisa está nos Manuscritos econômico-filosóficos  (1844), já o ponto de chegada está nos materiais que constituem O Capital.

Trata-se de um projeto de pesquisa no qual Marx se dedicou por toda a vida. Tanto através das leituras dos clássicos, das discussões que travara com importantes pensadores e no seu engajamento nos processos políticos-revolucionários da sua época. 

De acordo com Netto (2011, p. 18) “A estruturação da teoria Marxiana socorreu-se especialmente de três linhas-de-força do pensamento moderno: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês”. Como se vê, Marx não partiu do zero, não menosprezou o conhecimento existente. Pelo contrário,  fez deste o seu ponto de partida, claro, de forma critica. 

“Avançando criticamente a partir do conhecimento acumulado, Marx empreendeu a análise da sociedade burguesa, com o objetivo de descobrir a sua estrutura e a sua dinâmica”.  E foi nesse processo que ele forjou seu método de pesquisa – Que não resultou “de descobertas abruptas ou de intuições geniais” mas de uma demorada investigação (2011, p. 19). Que tem como marco mais preciso o ano de 1857, quando ele redige “Elementos fundamentais para crítica da economia política. Rascunhos” onde vemos o filósofo apresentando com mais precisão seu método. 

Teoria, método e pesquisa

Nesse tópico, José Paulo Netto inicia falando do conceito de teoria para Marx. Mas antes de dizer o que é teoria, ele nos diz o que não é. De acordo com suas palavras, para Marx “a teoria não se reduz ao exame sistemático das formas dadas de um objeto, com o pesquisador descrevendo-o detalhadamente e construindo modelos explicativos para dar conta – à base de hipóteses que apontam para relações de causa/efeito – de seu movimento visível, tal como ocorre nos procedimentos da tradição empirista/positivista” (2011, p. 20). Para Marx, “a teoria é uma modalidade peculiar de conhecimento”. Assim como é a arte, o conhecimento prático da vida cotidiana e o conhecimento mágico-religioso. 

No entanto “a teoria se distingue de todas essas modalidades e tem especificidades: o conhecimento teórico é o conhecimento do objeto – de sua estrutura e dinâmica – tal como ele é em si mesmo, na sua existência real e efetiva, independentemente dos desejos, das aspirações e das representações do pesquisador” (2011, p. 20). Em suma, para Marx a teoria é a produção ideal do Movimento real do objeto pelo pesquisador. O que é possivel através do  método dialético – que Marx recolheu criticamente de Hegel.

Enquanto para Hegel é o processo de pensamento que cria o real. Sendo assim o real é apenas a manifestação interna desse pensamento. Para Marx é o oposto – “A teoria é o movimento real do objeto transposto para o cérebro do pesquisador – é o real reproduzido e interpretado no plano ideal  (do pensamento)”. Tal processo tem como objetivo entender a estrutura e a dinâmica do objeto, e assim chegar a sua essência. 

Netto (2011, p. 22) enfatiza que o objeto da pesquisa tem uma existência objetiva, que independe da consciência do pesquisador. No entanto como no caso de Marx o objeto é a sociedade burguesa – “um sistema de relações construídos pelos homens” – não é possível uma relação de externalidade entre sujeito/objeto. Desse modo a teoria que daí advém não tem como ser neutra. O que não significa dizer que essa característica excluía a objetividade do conhecimento teórico pois “a teoria tem uma instância de verificação de sua verdade, instância que é a prática social e histórica” (2011, p. 23). 

Outro aspecto importante que José Paulo Netto nos chama atenção é para o papel do sujeito no processo de pesquisa. “O papel do sujeito é essencialmente ativo: precisamente para apreender não a aparência ou a forma dada ao objeto, mas a sua essência, a sua estrutura e a sua dinâmica” (2011, p. 25). Para tanto ele pode usar mão de diversos instrumentos e técnicas de pesquisa para fazer sua investigação. E tendo chegado ao fim da investigação pode então apresentar suas conclusões, ainda que essas sejam provisórias, pois no ambiente científico estão sujeitas a refutações.

Netto (2011, p. 27) referenciando-se em Lukás (1979) ressalta que “a orientação essencial do pensamento de Marx era de natureza ontológica e não epistemológica”, o que significa dizer que a sua busca não é por algo “abstrato “como conhecer”, mas sobre “como conhecer um objeto real e determinado””. No caso a sociedade burguesa da sua época. 

As formulações teórico-metodológicas

Nesse tópico, José Paulo Netto retoma um argumento anterior de que o método de Marx não nasceu da noite para o dia. Mas como fruto de um longo processo de estudos. E a partir daí o autor vai apresentando como esse método vai sendo forjado, sobretudo a partir de 1840, em textos como “crítica a filosofia do direito de Hegel”. Já nos “Manuscritos econômico-filosófico de 1844”, Netto afirma que as reflexões de Marx “ganham uma articulação claramente dialética” (2011, p. 29).

Em relação aos “Manuscritos...” é importante salientar que só se tornou público em 1932, portanto, não foram lidos por importantes figuras da tradição marxista como Lênin e Rosa Luxemburgo que já estavam mortos.

Em “a sagrada familia ou a critica da critica critica”, de 1845. Se inicia a colaboração intelectual entre Marx e Engels. Nessa obra segundo Netto (2011, p. 29) “em várias passagens, os dois jovens autores apontam a perspectiva teórica a partir da qual criticam filósofos com os quais, até pouco tempo antes, mantinham boas relações intelectuais”. Mas é na “ideologia alemã”, escrita entre 1845 e 1846, e publicado apenas em 1932, “que surge a primeira formulação mais precisa das suas concepções”. Como a centralidade do trabalho nas relações sociais.

“O ser social – e a sociabilidade resulta elementarmente do trabalho, que constituirá o modelo da práxis – é um processo, movimento que se dinamiza por contradições, cuja superação o conduz a patamares de crescente complexidade, nos quais novas contradições impulsionam a outras superações ” (2011, p. 31). Para Marx e Engels o mundo não pode ser visto como algo pronto e acabado, mas como um processo.

De acordo com Netto (2011, p. 32), “à medida que Marx se desloca da crítica da filosofia para a crítica da economia política, suas ideias ganham crescente elaboração”. O que pode ser visto no livro “Miséria da filosofia” (1847) no qual o nosso filósofo trava polêmica com Proudhon, que na sua obra “Filosofia da Miséria” demonstra, segundo Marx, não compreender a origem e o desenvolvimento das instituições sociais. Erro que ele procurará evitar.

Para Netto (2011, p. 34) na “Miséria da filosofia” estão as ideias basilares para compreensão do método de Marx. Como por exemplo a questão das relações sociais e as forças produtivas. Nosso filósofo funda nos estudos históricos e nas análises da realidade suas ideias e concepções. Que apareceram de forma mais clara na “introdução” (1857) fruto de 15 anos de pesquisa.

Nessa obra, Marx parte da reflexão acerca da produção material. De acordo com Netto (2011, p. 37) “Marx considera que a “produção em geral” é uma abstração, que denota apenas um fenômeno comum a todas as épocas históricas: O fenômeno de, em qualquer época, a produção implicar sempre um mesmo sujeito (a humanidade, a sociedade) e um mesmo objeto (a natureza). E ao analisar especificamente a sociedade burguesa, Marx chega a conclusão que essa é bastante complexa. Ele então analisa as relações desiguais que existe nessa sociedade e de acordo com Netto  (2011) se convenci que,

“O passo necessário e indispensável para apreender a inteira riqueza dessas relações sociais consiste na plena compreensão da produção burguesa moderna. Sem essa compreensão, será impossível uma teoria social que permita oferecer um conhecimento verdadeiro da sociedade burguesa como totalidade (incluindo, pois, o conhecimento – para além da sua organização econômica – das suas instituições sociais e políticas e da cultura” (2011, p. 38-39).

E o seu ponto de partida é a compreensão da produção na sociedade burguesa ou seja, como se produz a riqueza material nessa sociedade. A análise da produção é importante pois ela engloba uma totalidade que envolve a distribuição, troca e consumo.  A partir dai Netto conclui que uma teoria social da sociedade burguesa só é possível através da “análise teórica da produção das condições materiais da vida social”. Nessa linha, “sua estrutura e dinâmica só serão reproduzidas com veracidade no plano ideal a partir desse fundamento” (2011, p. 40). E então temos o método de Marx.

O ponto de partida é a distinção no objeto, do que é da ordem do real do que é da ordem do pensamento. “Começa-se “pelo real e pelo concreto”, que aparecem como dados; pela análise, um e outro elemento são abstraídos e, progressivamente, com o avanço da análise, chega-se a conceitos, a abstrações que remetem a determinações as mais simples” (2011, p. 42).

Netto (2011, p. 44) salienta que o conhecimento teórico para Marx, é o conhecimento do concreto – que constitui a realidade, porém nosso pensamento não consegui alcança-lo de forma imediata. Daí a necessidade de um movimento inverso para podermos ter acesso a esse conhecimento. “Marx não hesita em qualificar este método como aquele “que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto, único modo pelo qual o cérebro pensante se apropria do mundo” (2011, p. 45).

Nessa linha é importante destacar o que Marx compreende por “determinações”. De acordo com Netto “determinações são traços pertinentes aos elementos constitutivos da realidade”. Desse modo, “o conhecimento concreto do objeto é o conhecimento das suas múltiplas determinações – tanto mais se reproduzem as determinações de um objeto, tanto mais o pensamento reproduz a sua riqueza (concreção) real” (2011, p. 45). 

Nessa linha, uma questão importante ressaltada por Netto, é que em Marx, ao contrário dos positivistas, o mais complexo pode explicar o mais simples. No entanto é preciso salientar que as categorias não são eternas – “São historicamente determinadas e esta determinação se verifica na articulação específica  que têm nas distintas formas de organização da produção  (2011, p. 49).

O método de Marx 

Chegamos enfim ao quinto e último tópico da “introdução ao estudo do método de Marx”. E o nosso autor, José Paulo Netto, inicia salientando que aqueles que esperavam encontrar nessa introdução um conjunto de regras para aplicar numa pesquisa, enganaram-se. Pois para Marx,

“o método não é um conjunto de regras formais que se “aplicam” a um objeto que foi recortado para uma investigação determinada nem, menos ainda, um conjunto de regras que o sujeito que pesquisa escolhe, conforme a sua vontade, para “enquadrar” o seu objeto de investigação” (2011, p. 52). 

Marx não elaborou um esquema lógico tal como Hegel, ele nos legou a lógica de um objeto específico (do capital). “Deu-nos a teoria do capital: a reprodução ideal do seu movimento real” (2011, p. 53). Para tanto ele teve que ser fiel ao reproduzir o objeto de pesquisa. Deixando se guiar pela estrutura e dinâmica do objeto em questão. 

Para Marx o método é “uma determinada posição (perspectiva) do sujeito que pesquisa: aquela em que se põe o pesquisador para, na sua relação com o objeto, extrair dele as suas múltiplas determinações”. Marx não opera com definições, mas a partir das determinações concretas do objeto pesquisado. “Na viagem em sentido inverso, as abstrações mais tênues, e as determinações mais simples vão sendo carregadas das relações e das dimensões que objetivamente possuem e devem adquirir para reproduzir (no plano do pensamento) as múltiplas determinações que constituem o concreto real” (2011, p. 53-54).

José Paulo Netto (2011, p. 54) enfatiza que em Marx elaboração teórica e formulação metodológica estão conectados de forma indissociável. E na medida que ele vai avançando devido às suas formulações metodológicas mais precisas há um ganho inquestionável na sua elaboração teórica, e isso por sua vez contribuí  para que ele busque ainda mais avançar nas formulações teóricas. 

Ainda nessa linha, é importante salientar  que essa conexão indissociável entre elaboração teórica e formulação  metodológica “impede uma abordagem que, na obra de Marx, autonomize o método em face da teoria”. Logo para Netto “não é possível, senão ao preço de uma adulteração do pensamento marxiano, analisar o método sem a necessária referência teórica e, igualmente, a teoria social de Marx torna-se ininteligível sem a consideração do seu método” (2011, p. 57).

Caminhando para o final da sua dissertação, José Paulo Netto nos chama atenção para a presença de três categorias fundamentais na concepção teórico-metodológica de Marx, a saber: totalidade, contradição, e mediação. A partir daí Netto irá mostrar como nosso filósofo opera essas categorias na sua análise da sociedade burguesa – que é uma totalidade concreta e dinâmica pela sua complexidade. Que se movimenta pelas contradições que existem no seu interior (pois sem essas contradições seria inerte). E nesse processo há o estabelecimento de relações que se dão através de mediações. 

Para Netto (2011, p. 58) foi “articulando estas três categorias nucleares – a totalidade, a contradição e a mediação” que “Marx descobriu a perspectiva metodológica que lhe propiciou o erguimento do seu edifício teórico”. Nos deixando um importante legado ainda em construção. 

Considerações 

Bem camaradas, ouso dizer que José Paulo Netto seja talvez o maior especialista em Marx que temos no Brasil – e sem dúvida uma referência primordial para qualquer pessoa em qualquer parte do mundo que queira compreender verdadeiramente a concepção teórico-metodológica de Karl Marx. 

Nesse pequeno livro (em volume mas gigante em conteúdo) ele nos apresenta de uma forma clara, e diria bastante didática, as ideias não tão simples (ao contrário do que alguns reducionistas tenta nos passar) de um pensador fundamental para compreensão da sociedade burguesa fundada no modo de produção capitalista – um pensador que nos instiga a não refletir apenas, mas a agir – muitos o fizeram e pagaram um preço alto. E outros tantos continuam a fazer mesmo sabendo que terão que arcar com determinados ônus. 

Alguns (dos seus seguidores) mais prejudicam do que contribui para que as ideias de Marx avance e o projeto revolucionário ao qual ele se dedicou seja fortalecido. É o que aponta José Paulo Netto ao falar das interpretações equivocadas que leve a uma visão reducinista de Marx. E esse desserviço ao marxismo continua hoje, diria mais do que em qualquer outra época. Desserviço por que contribuí para o fortalecimento dos ataques e distorções das verdadeiras concepções teóricos-metodológicas de Marx. 

Uma concepção que não foi construída da noite para o dia, mas como fruto de uma longa trajetória de pesquisa. E é o processo de construção dessa concepção teórico-metodológica que José Paulo Netto nos mostra a partir da leitura das obras do próprio Karl Marx e fundamentado em referências como Lukás e Lênin. 

O resultado é um livro sem esquematismos, sem fórmulas ou manuais – você camarada que espera qualquer coisa desse gênero não se dê ao trabalho de lê-lo. Mas se o que procura é de fato ter uma ideia inicial de como Marx forjou a sua concepção teórica-metodológica, ti garanto que não irá se decepcionar. Além disso a leitura dessa obra  contribuí para que consigamos avançar para além das aparências das coisas (assim como fez Marx), pois só assim poderemos compreende-las de fato e a partir daí vislumbrar a sua transformação.

Por Pedro Ferreira Nunes - Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

NETTO, José Paulo. Introdução ao estudo do método de Marx. 1° ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

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