Após as eleições de 2018 escrevi um artigo no qual colocava o recém eleito Senador da República – Eduardo Gomes, como o maior vencedor do processo eleitoral no Tocantins. Além disso apontava que pelo seu perfil, ele logo se tornaria a principal figura política do Tocantins a nível nacional. Dito e feito. Ao assumir sua cadeira no senado, Eduardo Gomes se transferiu do Solidariedade (SD) para o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi eleito para a mesa diretora do Senado e tornou-se o líder do governo Bolsonaro no Congresso Nacional.
Alguns comentaristas políticos avaliavam como um erro a troca de legenda feita por Eduardo Gomes. Sobretudo após o que havia acontecido com a senadora Kátia Abreu – que entrara no MDB bancada pela direção nacional do partido, mas que a nível regional nunca fora totalmente aceita e acabou sendo expulsa. Esqueceram no entanto que há uma diferença significativa entre Kátia Abreu e Eduardo Gomes. Enquanto a primeira é mais da linha do conflito, o segundo é do consenso.
Foi por esse perfil que ele chegou a liderança do governo Bolsonaro no Congresso Nacional em substituição a Joice Hasselmann (PSL) que era mais da linha do conflito. Sem dúvida chegar a liderança de governo é uma posição privilegiada e aumeijada por muitos parlamentares – e Eduardo Gomes no seu primeiro mandato como senador conseguiu isso. O seu perfil conciliador também ajuda para que ele não entre em conflito com os emidebistas históricos do Tocantins.
No Congresso Nacional, Gomes tem desempenhado o seu papel de líder do governo com discrição – o que não é algo fácil pelo fato de que os maiores obstáculos que enfrenta como lider é criado pelo seu próprio governo. Com isso ele tem que atuar como uma espécie de bombeiro apagando incendios criado por aqueles que deveriam evitá-los. Ao fazer isso sem chamar os holofotes para si, o deixa fora da linha de fogo de um presidente que não aceita que ninguém no seu governo apareça mais do que a si próprio.
Muito provavelmente, a sua militância na extinta União do Tocantins (UT) ao lado do velho Siqueira Campos – uma figura que politicamente não é muito diferente do Bolsonaro – contribua para que ele consiga desempenhar o papel que vem desempenhando. Mas isso, não sem ônus. Sobretudo na medida que ele tem que relativizar a postura do presidente no combate as crises como a pandemia de COVID-19 ou das atitudes antidemocraticas contra o parlamento e o judiciário. Ao fazer isso Eduardo Gomes caminha de mãos dadas com Bolsonaro e demais integrantes desse governo para a lata de lixo da história.
Gomes não chega ao nivel de mediocridade que caracteriza figuras do governo como os parlamentares Eduardo Bolsonaro e o Major Vitor Hugo. Ou dos ministros Abrahm Weintraub, Ricardo Salles, Ernesto Araújo, Paulo Guedes e o General Augusto Heleno. Mas ultimamente tem dado declarações com repercussão nacional como “é uma injustiça colocar nas costa do presidente as polêmicas do isolamento” (Jornal A tarde). Em outras declarações, Gomes também fortalece o discurso de vitimismo do presidente ao dizer, segundo Andrade e Brant (Uol), “que ninguém foi tão atacado ou precisou se defender como o presidente Bolsonaro” e ainda salienta que a carreira política do presidente foi interpretada de modo injusto”. Para encerrar, recentemente declarou que na sua visão o governo Bolsonaro é um “governo corajoso e bem intencionado” (Jornal A tarde).
São declarações que não condizem com a realidade e não me darei o trabalho de desmontar uma a uma. Você camarada que lê essas linhas busque as declarações do presidente, analise-as e conclua por conta própria se o discurso do senador se sustenta ou não. Sei que alguns dirão que ele está apenas fazendo o seu trabalho de líder do governo que se resume em exaltar os feitos e ignorar os problemas.
Bom, se ele se dispôs a fazer esse papel no jogo político atual, é bom que esteja preparado a arcar com as consequências. O que não pode é se iludir achando que ao fazer parte desse desgoverno conseguirá sair dele integro. Pois todas e todos que tem contribuído de alguma forma para sua sustentação tem a sua cota de responsabilidade pelo que está acontecendo e pelo que acontecerá. Pode até acontecer das urnas os absolverem, mas a história certamente não o fará.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.
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