“Tenho vontade de escrever, e tenho uma necessidade ainda maior de tirar todo tipo de coisas de dentro de meu peito”.
Anne Frank
É importante destacar que nós que já éramos ansiosos nos tornamos mais ansiosos ainda diante de uma pandemia que nos mostrou a fragilidade humana. Essa ansiedade tem afetado como nunca a nossa saúde mental. Sobretudo pelo fato de não termos sido educados para controlar nossas emoções. Pelo contrário, desde a infância somos expostos a coisas que nos tornam frágeis emocionalmente. Com isso nos tornamos presas fáceis para a indústria dos antidepressivos.
Não quero aqui fazer pré-julgamento de ninguém. A questão é que agindo assim a tendência é transformar um problema num problemão. Algo que poderia se resolver com uma mudança de hábitos acaba sendo encarado como um problema mais grave.
A ansiedade é sim um problema, que se não enfrentada pode inclusive evoluir para uma depressão – essa sim é uma patologia que como diz o Filósofo Vladimir Safatle, faz o sujeito acreditar que não tem mais força, não tem mais potência, não consegue mais fazer. Quando se chega nesse ponto é difícil sair sem um tratamento com profissionais da área da Saúde, inclusive com a necessidade do uso de medicação. Já a ansiedade pode ser controlada com a mudança de hábitos. Por exemplo, leitura e escrita. Nessa linha podemos pegar o exemplo de Anne Frank.
Anne – uma adolescente judia – teve que se refugiar com sua família (e outros conhecidos) num esconderijo, fugindo do regime Nazista. Durante dois anos tiveram que conviver entre o medo e a esperança provocado pelas incertezas dos acontecimentos da 2° Guerra Mundial. Se isso já não bastasse, temos os conflitos provocados pela convivência no isolamento forçado. Isolamento mesmo – pois qualquer vacilo significava cair nas mãos Nazistas.
Imagine, o quão angustiante e desesperador não era para aquelas 8 pessoas: Anne, seu Pai (Otto), sua Mãe (Edith) e sua irmã (Margot). Hermann, Petronella e Peter (Família Van Daan). E Fritz Pfeffer. Imagine a ansiedade diante de um quadro de incertezas – o único contato deles com o mundo exterior era o rádio e alguns amigos que os auxiliavam nas suas necessidades como alimentação.
Podemos ter uma ideia de como eles sobreviveram nesse esconderijo por um pouco mais de 2 anos (até serem descobertos, presos e enviados para campos de concentração Nazistas) através da leitura do Diário de Anne Frank – um relato de uma adolescente que se tornou um clássico da literatura mundial por nos mostrar o espírito daqueles tempos.
Lendo o diário de Anne percebi que ele pode nos ensinar mais coisas do que a necessidade de resistirmos contra qualquer regime político que fira a dignidade humana. Anne através do seu relato também nos mostra o quanto a leitura e a escrita são importantes não só para aquisição de conhecimento, mas também como um exercício para manter nossa sanidade.
Em um dos trechos do seu diário, Anne diz o seguinte: “tenho necessidade de escrever, e tenho uma necessidade ainda maior de tirar todo tipo de coisas de dentro de meu peito. “O papel tem mais paciência do que as pessoas”. Pensei nesse ditado nu daqueles dias em que me sentia meio deprimida...”.
A leitura e a escrita fizeram parte da vida de Anne no esconderijo, tornando aquele isolamento forçado menos tragável possível. Manter o diário, onde ela registrava suas alegrias e tristezas, amores e ódios, esperanças e medos – foi um exercício para manter a sanidade. Já a leitura era algo comum a todos os habitantes do esconderijo. Inclusive eles trocavam entre si impressões sobre os livros lidos.
A partir do exemplo de Anne Frank defendemos a literatura como um exercício importante para controlarmos a ansiedade e evitarmos um quadro depressivo mais grave. Somando a isso uma caminhada, corrida ou pedalada, ajuda ainda mais. Por isso encerramos dizendo – mais leitura e escrita, menos antidepressivos.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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