quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Relato de Experiência: Escrita como exercício de reflexão e criação

- Será que ninguém conseguiu? Observava um tanto encabulado as atividades devolvidas. O que teria acontecido? Não acredito que tenha sido falta de compreensão. Por outro lado, eu reconhecia que não era uma atividade fácil, exigia reflexão e criatividade por meio da escrita. No entanto era impossível que ninguém ao menos tivesse tentado – pensava comigo. Bem, a atividade consistia no seguinte: Os estudantes deveriam criar uma cena em torno da temática da Biossegurança.

A ideia da atividade me veio ao elaborar um Roteiro de Estudo do Componente Curricular de Arte para a 2° Serie do Ensino Médio. No roteiro o objeto do Conhecimento era o Teatro. A partir daí pensei que mais interessante de falar do Teatro era entender como se faz o Teatro. E nesse sentido um ponto de partida interessante seria a escrita. Levando em consideração que a escola estava discutindo com a comunidade escolar, através de um projeto, a questão da biossegurança. Decidi que esse seria um tema interessante para se pensar uma cena.

Por parte do estudante seria necessário sobretudo, criatividade. E como produto final algo que sensibiliza-se o público para o problema.

Quando eu já acretiva que nenhum estudante havia ousado fazer a atividade proposta, foi que me deparei com duas pérolas. Por um acaso, era as últimas a corrigir. Uma delas não era uma cena, mas praticamente uma peça curta. De todo modo a criatividade das duas estudantes me deixou sem palavras. E imediatamente entrei em contato com elas para parabeniza-las e incentivar a cultivar aquele talento. Também propus fazer uma revisão de um dos textos para publicar no Blog da Escola – o que foi feito (https://censprolaj.blogspot.com/2021/09/juntos-combatendo-leishmaniose.html)

Os dois trabalhos me empolgaram tanto que decidi trabalhar o mesmo exercício em outras turmas com temas diferentes. Nas primeiras séries a questão da Saúde Mental. E no 8° Ano do Ensino Fundamental a violência contra a mulher.  Nessas outras turmas busquei fazer com que compreendessem melhor o que eu queria. Inclusive apresentando alguns exemplos. No entanto não criei muita expectativa. Se eu conseguisse encontrar uma outra Dayelle ou Maria Clara já estava ótimo. 

Com essas turmas a metodologia que utilizei mostrou-se mais acertada – quase 100% dos estudantes tentaram criar uma cena teatral – ainda que algumas era recriação de cenas do cinema ou de seriados. Isso foi importante para que eu percebece que na experiência com a segunda série, o fato da maioria dos Estudantes não terem feito conforme pedi, foi consequência da metodologia que utilizei.

Entre as cenas escrita, uma de um estudante do 8° Ano me chamou atenção e fiz questão de lê-la em sala para mostrar o que eu queria que eles fizessem. A reação da turma após a leitura foi impagável. Fiz uma leitura dramática para que eles fossem arrebatados para dentro da cena. E um dos comentários que mostra que conseguimos foi: - Nossa, parece que eu tava vendo acontecer aqui na minha frente. Todos aplaudiram espontaneamente.

Fiquei pensando comigo o quanto seria rico produzir e representar algumas daquelas cenas. Eis ai algo a se pensar para uma próxima etapa. De todo modo,  só esse exercício já foi algo enriquecedor. O envolvimento deles, as discussões, as trocas de ideia, mostrou que foi uma estratégia pedagógica acertada.

Além da satisfação em proporcionar isso, também assumi, comigo mesmo, o compromisso de não deixar morrer essa força criadora e o talento para escrita que alguns demonstraram. Como? Incentivando e os ajudando a aprimora-lo.

Quanto à o objetivo inicial do plano de aula,  que era trabalhar o Teatro a partir de uma perspectiva prática. Creio ter alcançado. Sobretudo o Teatro a partir da compreensão do Augusto Boal – que salientava a importância dessa expressão artística na  busca pela cidadania plena. O que podemos perceber por exemplo em uma das suas frases célebres: “Atores somos todos nós, e cidadão não é quem vive em cidade: mas quem a transforma.”

Ao quebrar a barreira entre artista e platéia,  entre ator e espectador, o Teatro do oprimido proporciona a empatia, o diálogo e a cooperação. E é a partir daí  que podemos vislumbrar a transformação das relações opressiva e por conseguinte da Sociedade que sustenta essas relações de opressão. A partir de um exercício de escrita criativa, toda essa reflexão foi possível.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.


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