segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Economia solidária em Lajeado?!

Parque Aquícola Miracema-Lajeado
O serviço público é o setor que mais dinamiza o comércio local – um comércio de pequeno porte focado sobretudo no ramo da alimentação e bebidas. É também o que mais emprega. No entanto o serviço público não tem condição de absolver toda a mão de obra existente no município. 

Diante disso a saída para muitos é ir para outras cidades em busca de serviço ou investir num negócio próprio – é a partir dessa segunda opção que observamos o potencial de criação de um movimento de economia solidária em Lajeado - trazendo empoderamento e melhor qualidade de vida. Dito isso, o desafio é a formação e criação de uma rede que fortaleça iniciativas que já existem localmente. 

Antes de adentrarmos mais profundamente nessa questão,  vamos compreender o conceito de economia solidária. Para tanto ninguém melhor do que o Economista Paul Singer – uma das grandes referências quando falamos em Economia solidária. 

De acordo com Singer  (2002) “a economia solidária é outro modo de produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual”. São esses princípios que une os trabalhadores que são possuidores de capital em pé de igualdade. Eis ai portanto duas palavras fundamentais ao nos referir a economia solidária – União e igualdade. União por que estamos falando de um empreendimento coletivo e igualdade por que dentro dessa coletividade não pode haver relações hierárquicas.

A partir daí percebemos uma diferença fundamental entre a economia solidária e a economia de mercado. Enquanto a união e igualdade são os pilares de sustentação da primeira. A outra tem como pilar a concentração e a exploração. Quanto mais concentração, mais exploração. Quanto mais exploração mais lucros. E ai temos como motor propulsor a competição. Nessa linha, Singer (2002) salienta o seguinte:

“para que tivéssemos uma sociedade em que predominasse a igualdade entre todos os seus membros, seria preciso que a economia fosse solidária em vez de competitiva. Isso significa que os participantes na atividade econômica deveriam cooperar entre si em vez de competir”.

Quando falamos em Economia Solidária não estamos nos referindo há algo novo. De acordo com Singer  (2002) ela “nasceu pouco depois do capitalismo industrial, como reação ao espantoso empobrecimento dos artesãos provocado pela difusão das máquinas e da organização fabril da produção”.

No Brasil os imigrantes Europeus, no início do Século XX, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da economia solidária através da criação de cooperativas. E desde então podemos perceber importantes iniciativas que buscam promover esse modelo de economia. De acordo com Singer (2002), demonstrando “grande vigor e notável criatividade institucional”.

Perspectivas para Economia Solidária em Lajeado 

Loja da AMAE

Para enfrentar a pobreza que ronda parte significativa da população lajeadense, as pessoas tem investido em empreendimentos comerciais que lhes garantam o mínimo de qualidade de vida. Sobretudo no ramo da alimentação, do artesanato, do turismo e setor de serviços. 

A maioria desses empreendimentos parte de iniciativas individuais. No entanto há também associações como é o caso da AMAE (Associação das Mulheres Artesãs e Empreendedoras) e a Associação de Pescadores. Apesar de percebermos elementos da economia solidária nessas iniciativas, a lógica de mercado é o que permanece, sobretudo pela influência do SEBRAE. A maior consequência disso é que há uma competição onde deveria haver cooperação. A competição leva consequentemente a derrota de alguém. E geralmente essa derrota é dos mais fracos. 

Diante disso o ponto de partida para criação de uma economia solidária em Lajeado é formação. Os trabalhadores que estão a frente desses empreendimentos precisam compreender os princípios desse modelo de economia. A partir daí perceberam a necessidade de se fortalecerem a partir de uma perspectiva coletiva. Inclusive, envolvendo o consumidor no processo. Para tanto este não pode ser visto como um consumidor meramente. Mas como um colaborador. Na linha que se faz, por exemplo, entre fãs de uma banda de Rock Alternativo – comprando ingresso, discos, camisetas e até mesmo participando de iniciativas de financiamento coletivo para gravar um novo trabalho. 

O objetivo, portanto, deve ser buscar com que o consumidor compreenda que ao adquirir um produto das Artesãs e artesãos, dos pescadores e pescadoras,  os legumes do Seu Luiz, o Cheiro Verde do Seu Mano, as plantas da Dona Maria, os jarros da Dona Arlete, a Farinha do Tuta, entre outros. Não está apenas adquirindo um produto, mas está contribuindo para que as famílias de trabalhadores do município tenham uma fonte de renda e uma melhor qualidade de vida.  

Dito isso, ao defender a construção de uma economia solidária em Lajeado – que fortaleça e dê maior autonomia aos cidadãos locais. Não estamos eximindo o poder público municipal de garantir uma renda mínima as famílias de trabalhadores que estão numa situação de vulnerabilidade social. A esse respeito cabe descartar o que diz Paul Singer (2002): 

“mesmo que toda comunidade econômica fosse organizada em empreendimentos solidários, sempre haveria necessidade de um poder público com a missão de captar parte dos ganhos acima do considerado socialmente necessário para redistribuir essa receita entre os que ganham abaixo do mínimo considerado indispensável”.

Com mais autonomia do poder público (fruto de um movimento de economia solidária), os cidadãos certamente terão mais força para exigir  tais medidas – o que certamente contribuirá para que aja profundas transformações na sociedade lajeandense.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado. 

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