Nos últimos anos o agronegócio se fortaleceu tanto que mesmo num contexto do aumento dos preços dos alimentos, da desigualdade e da fome. A reforma agrária não aparece como alternativa nem nos programas dos Partidos de Esquerda. O aumento da violência e uma campanha de criminalização dos Movimentos de Camponeses Pobres enfraqueceu significativamente as jornadas de lutas, marchas e ocupações. De modo que a mística do abril vermelho, que após o massacre em El Dourado dos Carajás tornou-se um mês de luta em defesa da reforma agrária, está se perdendo. Com isso o sonho de Francisco Julião, João Pedro, José Porfirio, Dom Tomás Balduino, Plínio de Arruda Sampaio entre outros, parece que não é mais possível.
Chegamos ao ponto que parece ser proibido falar em reforma agrária. E aqueles que desafiam essa proibição corre o risco de ser taxado de ultrapassado. Por isso, mesmo aqueles que se posicionam contra as consequências nocivas do modelo agropecuário hegemônico, não falam em reforma agrária. No máximo apoiam uma agricultura familiar dentro da lógica de mercado.
Nesse contexto, são poucos os que resistem – mais por necessidade do que por convicção. Para estes, mesmo sob ameaças diárias, resistir não é uma alternativa, mas uma questão de sobrevivência. E não tem sido fácil, como aponta o levantamento dos Conflitos no Campo 2021, realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que aponta um crescimento no número de conflitos e de mortes decorrentes destes.
Tais conflitos são alimentados pelo discurso de desprezo aos direitos humanos por parte do Governo Bolsonaro, sobretudo em relação as populações campensinas. Encorajados por esse discurso, verdadeiras milícias rurais foram montadas não só para proteger propriedades mas para atacar e expulsar populações tradicionais de seus territórios. Um exemplo disso foi um episódio que aconteceu em 2021 envolvendo grileiros e a Comunidade Quilombola Claro, Prata e Ouro Fino, no município de Paranã (TO). Analisando a denúncia da Comunidade Quilombola, podemos afirmar que houve uma espécie de terrorismo psicológico, onde homens armados ameaçou de morte as famílias locais, com um objetivo claramente de causar pânico e por consequência o abandono do território.
Essa questão nos remete ao que o Geógrafo Ariovaldo Umbelino (2014) chama atenção para o fenômeno que ocorre na agricultura – a monopolização do território, por parte do capital financeirizado. Uma das consequências desse processo é certamente a repressão as comunidades que resiste a essa monopolização.
Tal questão é importante para compreendermos que não se trata de uma mera disputa entre comunidades tradicionais, camponeses pobres e latifundiários, tal como tínhamos outrora. Daí um ponto fundamental é perguntar por quem financia esses conflitos.
Sempre me incomoda as notícias que dão conta dos conflitos entre garimpeiros e índios na Amazônia. Por que nunca se faz um questionamento básico: quem está financiando esses garimpeiros? Por que uma coisa é óbvia. O aparato utilizado no garimpo requer um aporte financeiro significativo, assim como na agropecuária de grande porte.
Para finalizar, trazemos a memória o Plínio de Arruda Sampaio, que em um debate interno do PSOL em 2010, onde se decidia quem seria o candidato do partido a Presidência da República. Dirigindo-se a um grupo que defendia a moderação do discurso. Ele pediu para que tivessemos ousadia e não aceitassemos o discurso do proibido. Desse modo dizemos, não aceitemos que nos proibam de falar em reforma agrária, de lutar contra a violência e a desigualdade no campo. Não deixemos a mística do abril vermelho se perder.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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