Há um tempo participei de um evento onde ouvi uma arqueóloga (Dra. Júlia Berra) falando das características daquelas pinturas. De acordo com ela foram feitas em períodos diferentes e por povos diferentes, é daí que vem a explicação para diversidade de gravuras. Na oportunidade ela fizera um alerta sobre o risco de extinção das pinturas rupestres em decorrência das queimadas e da falta de políticas públicas de preservação e conservação desse patrimônio.
Lembro que naquele período fiquei me questionando como eu vivendo nessa região há tanto tempo não tinha noção de toda essa riqueza pré-histórica que o município possuia. E como eu, muitos outros. Ora, como vamos preservar e conservar algo que não conhecemos?
Creio que desde então essa situação mudou, ainda que muito aquém do que deveria. Por exemplo, não temos uma lei municipal que garanta recursos para proteção desse patrimônio histórico. Também ainda não temos um museu que possa receber as peças pré-históricas retiradas no período da construção da Usina Hidrelétrica (UHE – Luiz Eduardo Magalhães) que hoje se encontram no Núcleo Tocantinense de Arqueologia (NUTA) em Porto Nacional.
Porém quem visita o sítio arqueológico Caititu conta com uma estrutura mínima que facilita o acesso – por exemplo, para subir foi construído uma escada com cordas de apoio e uma passarela para observação dos desenhos.
Isso certamente contribuiu para que aumentasse o número de visitação ao local (sobretudo por parte de instituições educacionais). Essa maior visibilidade trás mais conhecimento acerca dos sítios arqueológicos. E a medida que mais pessoas tiverem a oportunidade de conhecer locais como esse, mais fácil será sensibiliza-las para protege-los. Por outro lado, o poder público precisa também investir para que locais como o sítio arqueológico Caititu desenvolva plenamente o seu potencial.
Conversando com o Seu Luiz (o guardião do local), ele nos falou do Projeto de construir um espaço na entrada do sítio para receber adequadamente os visitantes. Esse espaço poderia também servir para aulas e pesquisas. Outro elemento importante é a formação de guias não só para levar o visitante ao local, mas também com a capacidade de falar sobre a história do lugar e das riquezas que ali se encontra.
Para mim a sensação de estar ali era de estar num lugar sagrado – imaginar quem há milhares de anos andou por aquelas paragens deixando aquelas marcas e buscar entender o que eles queriam, e como viviam, é especial. Creio que tudo isso só foi possível com a experiência vivida ir in loco. Pois nada substitui estar ali e sentir aquela energia.
Dito isso, é bom deixar claro que não quero estimular a transformação dos sítios arqueológicos, em especial o Caititu, em um lugar de peregrinação. O sagrado a que me refiro não é no sentido religioso do termo, isto é, um lugar de adoração. Seria mais como um ambiente para apreciação e aprendizado. Que inclusive, prezando por sua conservação, não é recomendado uma quantidade excessiva de visitantes ao mesmo tempo.
Enfim, estar ali foi uma experiência marcante. E parti com a sensação de que preciso voltar para apreciar aquela riqueza com mais calma. Sai também com a sensação de que, mesmo a passos lentos, o desenvolvimento do turismo sustentável tem avançado. Como já dissemos aqui, muito aquém do possível. No entanto, quem sabe isso não possa se modificar com as novas gerações que estão sendo formadas com esse olhar mais sensível para o meio ambiente e suas riquezas.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário