Não estou falando de uma situação hipotética, mas de um processo em curso. O deputado Federal Glauber Braga (PSOL/RJ) está sendo investigado por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e corre o risco de perder o mandato. O seu crime? Questionar o Presidente daquela casa de leis (Deputado Arthur Lira) se ele não tinha vergonha de articular para colocar em votação um projeto que bota em risco a soberania nacional. A postura de Lira não poderia ser mais medíocre, ao invés de rebater os argumentos do Glauber, quis silencia-lo, não conseguindo articulou junto ao seu partido o processo em curso no Conselho de Ética.
Imagina se um episódio desses estivesse ocorrendo num país como China, Rússia, Cuba ou Venezuela. Certamente teríamos uma grande cobertura midiática e uma onda de repúdio. No entanto estamos falando do Brasil – onde nos últimos anos houve uma normalização de ataques aos valores democráticos.
Diante disso devemos ficar alerta e nos mobilizar em defesa do mandato do deputado Glauber Braga – o seu mandato é uma trincheira de resistência contra os ataques a classe trabalhadora – contra o governo Bolsonaro e seus lacaios.
Com um discurso firme e uma oratória brilhante, Glauber incorpora como ninguém a tradição combativa da esquerda revolucionária – um bom exemplo nesse sentido foi sua fala durante a votação do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff:
“Eu voto por aqueles que nunca escolheram o lado fácil da História. Eu voto por Mariguella; eu voto por Plínio de Arruda Sampaio; eu voto por Evandro Lins e Silva; eu voto por Arraes; eu voto por Luís Carlos Prestes; eu voto por Olga Benário; eu voto por Brizola e Darcy Ribeiro. Eu voto por Zumbi dos Palmares. Eu voto não!”
A contundência do seu discurso incomoda aqueles que preferem agir por baixo dos panos. No entanto, apesar da contundência, ele já mais baixou o nível dos seus argumentos – fundamentando-os em fatos. O questionamento ao deputado e Presidente da Câmara Arthur Lira mostra bem isso.
Glauber questionou se ele não tinha vergonha de manobrar para facilitar a privatização da Petrobrás pelo Governo Bolsonaro. Infelizmente esse tipo de gente não tem vergonha. E quando confrontado fica indignado. Mas quem deveria ficar indignado é àqueles que são vítimas dessas negociatas. No final, ao questionar se Lira não tinha vergonha da manobra, Glauber foi até benevolente.
Além da pluralidadede de ideias outra coisa que caracteriza a democracia é o conflito – que vem justamente dessa pluralidade. Mas esse conflito não pode ter como fim a eliminação do outro. E sim a busca por consenso. Não sendo este possível, vence quem tem a maioria. No entanto, ao tentar cassar o mandato do deputado Glauber Braga, por não ter gostado da sua forma contundente de questionar Arthur Lira, a lógica é outra. É a lógica de eliminação do inimigo – se não concordo com ele, elimino-o. Ora, isso não numa democracia.
Por tanto, salientamos que o que está em jogo nesse processo contra o deputado Glauber Braga é o regime democrático. Desse modo, independentemente de qual espectro político se é, não se pode aceitar essa cassação, sob pena de estar sendo conivente com o fim da nossa frágil democracia.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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