quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Raimundo Oliveira: Breves relatos de uma aula de campo e o ensino de Geografia

A prática docente no dia a dia da sala de aula exige muito do professor. É um esforço constante para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de forma satisfatória e os estudantes participem de forma efetiva das aulas. Nesse esforço  diário o professor busca minimamente prender a atenção dos estudantes com aulas dinâmicas e interativas. 

Não é rara as vezes que somos cobrados com a tal ‘’aula diferenciada’’, a sensação que se tem é que eles estão cansados de ficarem sentados em suas carteiras como sujeitos passivos ouvindo se falar sobre os mais diversos assuntos. No caso das aulas de geografia onde trabalhamos entre outras questões a formação do relevo, formação geológica, biomas, fauna, flora, rios e nascentes, desenvolvimento sustentável, a prática é fundamental. Sobretudo, num contexto onde a cidade que esses estudantes vivem proporcionam esse ambiente de investigação prática.

Na nossa experiência como docente de geografia na educação básica cheguei a conclusão que os estudantes tem razão de querer sair da rotina da sala de aula, aprender na prática, observando, ouvindo, coletando informações, fazendo perguntas. Além do mais, é uma experiência marcante para a vida estudantil. 

Uma das experiências que me fez chegar a essa conclusão foi uma aula de campo realizada na Semana do Meio Ambiente, como atividade de culminância do Projeto desenvolvido pela Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o qual detalharemos mais adiante. Por enquanto citamos essa atividade para exemplificar a importância da aula de campo no ensino de Geografia.

Solicitei aos estudantes que fizessem um relato da experiência vivenciada, e estive lendo, um por um dos relatos. Li com muita atenção e me surpreendi. Acompanho essa turma há algum tempo e hoje que estão na 3° série do ensino médio.  Posso afirmar que pude conhecer bem mais de cada um desses estudantes nessa aula. Para Viveiro e Diniz (2009), a aula de campo se propaga também como um aumento de afeto e confiança entre discentes e docentes. Isso pode se ser facilmente percebido. Vejamos a partir do relato dos estudantes abaixo, começando pelo do Rafael Sodré:

"O trabalho à campo desenvolvido pelos professores Raimundo, Pedro e Carlos da área de Humanas realizado no Sítio Arqueológico Kaititu no dia 03/06/2022. O trabalho à campo teve sua primeira parada no morro do leão para uma explicação do professor Raimundo sobre geologia e relevo. Logo após fomos a 1ª Usina Hidretrica de Lajeado, e o enfatizado nesta parada foi fontes energéticas, e desenvolvimento local após a construção e os impactos ambientais provocados. Já no Sitio Arqueológico tivemos a trilha conduzida pelo sue Luís até as pinturas.  Ao chegar tivemos a aula conduzida pelo professor Carlos, sobre a história das pinturas. Após o Sitio nos dirigimos até à Comunidade Pedreira, onde tivemos uma dinâmica realizada em uma chácara cujo a equipe campeã foi a Pequizinho. Logo depois conhecemos o colégio JK. O nosso momento do almoço e descanso foi realizado na pousada Recanto das Araras, cujo é um local ecológico e sustentável. A proprietária explicou que essa pousada surgiu após incentivo de amigos e familiares. Todo o local que ficamos trabalha a sustentabilidade, a reciclagem, uso de energia solar, fossa sustentável que trata a água e além do trabalho de arquitetura que usa madeira de demolição e objetos resgatados".



Para a estudante Maria Eduarda Alves: “a nossa aula campo foi muito legal, com todos reunidos, fomos ao Morro do Leão, fizemos várias fotos, depois disso fomos ao local da primeira usina hidrelétrica de Lajeado, com tudo lá organizado, com a turma reunida tiramos fotos para registro. Depois fomos ao um local que subimos uma escadaria bem alta que dar acesso as gravuras rupestres. Foi muito legal lá (..) depois a gente foi em uma chácara e lá com os grupos divididos fizemos uma dinâmica, e o grupo ‘’pequizin’’ ganhou. Depois disso a turma foi para a pousada pouso das araras, um lugar encantador, lugar de paz. Lá a gente descansou, se divertiu, almoçamos, tomamos banho de piscina,.. A proprietária de lá comentou sobre tudo daquele lugar lindo. Falou sobre os móveis que são de materiais recicláveis, sistema de fossas. Tinha uma galinhada maravilhosa, frutas e tudo de bom”. 

Já o relato do estudante Davi Vinhal foi o seguinte: ‘’Saímos sexta-feira a tarde e nos dirigimos, eu e minha turma rumo a comunidade Pedreira, para o local responsável pelas pinturas rupestre, Sitio Caititu. Pudemos observar como é rica a beleza e a diversidade da nossa região, assim como foi muito importante saber da existência e da historia dessas pinturas, focar os incríveis momentos fraternos. Logo depois, para uma usininha, a usina hidrelétrica a qual abastece (abasteceu) algumas regiões da cidade de Lajeado. Por fim, como destino final, chegamos ao Recanto das Araras, um lugar com belezas exuberante, que pudemos ter momentos diversos e inesquecíveis, em que aprendemos muito sobre como bem cuidar do meio ambiente e utiliza-lo para sustenta-lo, além de podermos nos tornar mais unidos, com a sala e com a natureza. Conclui-se que a aprendizagem não se resume apenas em sala de aula, mas em nossa vivencia diária, uns com os outros e com a própria natureza’’.

Eles cobram muito das aulas de Geografia por que é um componente curricular que de fato permite esse momento, essa integração entre a teoria e a prática sem maiores esforços, sem um laboratório sofisticado e de ultima geração, o próprio campo se torna o verdadeiro laboratório. 

A estudante Railane Oliveira relatou: ‘’ Nessa aula à campo iniciou com a gente saindo da escola. Tivemos a nossa primeira parada que foi no morro do leão, descemos e tiramos fotos individuais e em conjunto, o professor Raimundo explicou um pouco da historia do morro do Leão, depois da explicação voltamos para o ônibus e continuamos o percurso, logo em seguida paramos na primeira usina hidrelétrica de Lajeado. O professor Pedro, explicou como que a usina foi fundada aqui, que na época era Goiás, depois da explicação tiramos mais fotos e vídeos, fomos para o ônibus para continuar a aula, andamos mais um pouco e chegamos no Sitio Arqueológico do Caititu, esperamos o guia chegar para iniciar a caminhada, quando o guia chegou, nos preparamos, enchemos as garrafinhas de água e passamos protetor solar e repelente. Logo em seguida iniciamos a cainhada, andamos, até que chegou no primeiro ponto de parada, que foi lá em uma placa que a gente descansou, pois a caminhada foi muito longa (mentira, foi só o nosso sedentarismo mesmo achando que estávamos chegando no morro, mal sabíamos  nós que tinha uma longa caminhada pela frente, descansamos e tiramos mais fotos). Começou a caminhada novamente, andamos e andamos.., até que chegou ao tão esperado lugar. Vimos as gravuras rupestres que foi feita pelo pessoal da pré-história (sic), e ainda teve a explicação do professor Carlos sobre como era naquela época e como como foi desenvolvida as gravuras. Eu e alguns colegas de sala voltamos na frente enquanto os outros ficaram para trás tirando fotos. Nessa volta foi muito engraçado, pois o medo de cair era grande, chegamos até o local onde estava o ônibus, aí do nada começamos a dançar forró até os outros que ainda não tinha vindo chegar, depois de uns minutos eles chegaram e a gente foi embora em direção a comunidade Pedreira. Chegamos lá e fizemos uma dinâmica muito legal chamada caça ao tesouro, na qual tínhamos que procurar os itens e o grupo ’pequizin’ ganhou. Depois da caça ao tesouro a gente foi visitar a escola municipal JK, que inclusive é muito bonita, passamos alguns minutos lá, tiramos mais fotos e em seguida a gente foi para o nosso destino final. Pousada da Araras, chegando lá a dona que se chama Tãnia foi muito fofa e atenciosa com a gente e nos tratou muito bem.  Tiramos fotos com a proprietária e com a turma, depois das fotos entramos e nos acomodamos nos quartos e conhecemos a pousada, alguns minutos. Após a nossa chegada na pousada a diretora Alzirene e o Walber chegaram para o almoço. Almoçamos e logo fomos descansar um pouco e aproveitar a pousada. Na volta o professor Carlos tocou violão e nós cantamos e chegamos na escola, infelizmente nosso dia terminou. Tenho certeza que tudo que a gente viu passou, sorriu, cantou e etc,. vai ficar marcado em nossas vidas, foi a melhor experiência das nossas vidas’’. 

O relato da estudante Dayelle foi o seguinte: “A aula de campo na pousada recanto das araras ,localizada na comunidade pedreira, nos trouxe  uma experiência magnifica, mostrando o valor, riqueza e a diversidade da natureza. No decorrer do passeio, visitamos e observamos pinturas rupestres incríveis. A Pousada das Araras, tivemos o privilegio de presenciar de perto, o modo como a proprietária da pousada, utiliza meios de prevenção do meio ambiente, sobretudo, o cuidado e a proteção. Uma das coisas mais interessantes foi a fossa ecológica, que vai direto para a plantação de bananas. Tivemos muitas experiências marcantes no passeio de campo. A natureza e tudo que há nela, traz a certeza que a diversidade da natureza nos proporciona saúde e  paz”. 

A estudante Maguiane relatou: “no dia 03 de Junho de 2022 fizemos uma aula a campo onde se teve inicio as 08ꓽ00 hs da manhã, saindo da escola com a primeira parada no morro do leão, onde tiramos fotos e registramos o momento com o professor Raimundo, professor de Geografa e coordenador do projeto, explicou sobre as rochas da base que sustenta a forma do morro do leão, logo em seguida seguimos para a usina onde vimos um pouco de sua estrutura, fotografamos, conversamos e esclarecemos duvidas. Logo depois fomos ao Sitio Arqueológico Caititu, onde fomos guiados por uma trilha até as pinturas rupestres, o local é encantador. Logo em seguida seguimos para a comunidade Pedreira, onde fizemos uma primeira parada na chácara do senhor Juca, lá foi realizado uma dinâmica. Por volta das 11h30hs fomos para a pousada, local de descanso e almoço.. Chegando na pousada fomos recebidos pela proprietária do local, dona Tânia, que também é professora de Geografia, que mantém o local de forma sustentável. Guiados pela proprietária fizemos um tour pelo local, onde ela explicou cada detalhe do ambiente, começando pelo sistema de fossa que é totalmente ecológica, com uma estrutura feita para não contaminar o solo e nem o riacho, que passa pela propriedade. Vimos ainda um processo de compostagem de folhas, resto de comidas e etc’’.  



A realização de uma aula de campo não é tão simples como pensa os estudantes. Requer todo um processo de planejamento que precisa ser feito com antecipação, prevendo todos os passos a serem seguidos e executados. Ou seja, um projeto. E a partir dai buscar parcerias. 

No caso da realização e culminância da aula de campo realizada no dia 03 /06 de 2022 pela área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do colégio Estadual Nossa Senhora da Providência. Primeiro se pensou em o que fazer ou que ação trabalhar na Semana Nacional do Meio Ambiente. Durante o planejamento de área no ambiente escolar, juntamente com meus colegas professores surgiu a ideia a partir da busca no livro Projetos Integradores (2021), que propunha a seguinte temática ‘’Sustentabilidade? que ideias contribuem?’’. A partir dessa temática, combinamos trabalhar a questão da sustentabilidade com foco na educação ambiental ainda em sala de aula, onde os estudantes produziram textos e trabalhos maravilhosos sobre o assunto. A ideia era, depois de preparar os estudantes, levar uma turma para o campo e aula prática, e assim aconteceu. Decidimos levar a turma mais velha da unidade escolar pelo fato de estarem concluindo o ciclo da educação básica e muitos ali conheciam bem pouco sobre o entorno da cidade, mesmo morando muito tempo na mesma. E também o fato de ser a turma mais madura (isso também contou muito, tendo em vista que sair com estudante do ambiente escolar é uma responsabilidade muito grande). 

Foi muito positivo a realização da ação, tendo em vista que os estudantes puderam sair dos muros do colégio. Contaram com a participação de professores com formação distinta nas Ciências Humanas: Filosofia, Geografia e Historia. Em relação as parcerias – elas foram fundamentais para o sucesso da ação. Se não fosse todo o apoio de todos os envolvidos, a ação muito provavelmente não seria realizada. Os professores de Humanas, Carlos e Pedro. A diretora Alzirene, as meninas do lanche e financeiro, a professora Tânia, Francisca, Liliana e os estudantes.  Muito mais pessoas estiveram envolvidas e fizerem acontecer. 

A aula de campo na pousada das araras, localizada na comunidade Pedreira, nos trouxeram uma experiência magnifica, mostrando o valor, riqueza e a diversidade da natureza. No decorrer do passeio, visitamos o sitio ecológico, onde tivemos a oportunidade de observar gravuras rupestres em um paredão arenítico. Na Pousada Pouso das Arraras, tivemos o privilegio de presenciar de perto, o modo como a proprietária da pousada utiliza meios de preservar o meio ambiente, sobretudo, o cuidado e a proteção . Uma das coisas mais interessantes foi a fossa ecológica, que vai direto para os pés de banana. 

Tivemos muitas experiências marcantes no passeio de campo. A natureza e tudo que há nela, nos traz a certeza que toda essa diversidade nos propícia saúde e qualidade de vida. E em relação ao ensino de geografia especificamente, mostrou ser uma metodologia acertada.

Por Raimundo de Oliveira – Professor da Educação Básica do CENSP-LAJEADO. Licenciado em Geografia e Especialista em Educação ambiental. 

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Referência: VIVEIRO, A. A.; DINIZ, R. E. da S. Atividades de campo no ensino das Ciências e na Educação Ambiental: refletindo sobre as potencialidades dessa estratégia na prática escolar. Ciência em tela, São Paulo, v. 2, n. 1, 2009.


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