Tecnologia no Campo
No contexto atual falar em tecnologia no campo não é nenhuma novidade. Pelo contrário, o modelo agropecuário brasileiro tem se desenvolvido cada vez mais através do aumento da sua produção, utilizando recursos tecnológicos de ponta. No entanto, esses recursos são um tanto inacessíveis para média e pequena agricultura. De modo que a criatividade aliada ao conhecimento pode ser um fator importante para que isso seja mudado. Nesse sentido a educação ganha relevo especial, sobretudo as escolas que atendem o público campesino, seja elas no ou do campo, proporcionando experiências que desperte nos estudantes o interesse em se aprofundar nessa área.
Aula de campo na Extensão Pedreira
A extensão Pedreira do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência, atende estudantes nas modalidades de ensino médio e EJA-Terceiro Segmento. E funciona nas dependências da Escola Municipal JK, na Comunidade Pedreira. Atendendo estudantes que moram na zona rural – que teriam de deixar suas casas no campo para cursar o ensino médio num centro urbano mais próximo.
A aula ocorreu no dia 06 de Setembro de 2022, no contexto do Projeto Brasil200, onde a Comunidade Escolar trabalhou o bicentenário da independência do Brasil. Sendo que uma das temáticas propostas era justamente pensar o campo brasileiro a partir dos seus costumes, sem deixar de falar do processo modernizante trazido pela tecnologia. Um grande exemplo nesse sentido é que morando na Comunidade Pedreira o seu Lourenço possui um canal no youtube (https://www.youtube.com/channel/UCJYuL6RGFKG9ku_oRcENAIg) onde compartilha as suas criações com todo mundo que tem acesso a rede mundial de computadores. E pelo número de visualizações dos seus vídeos percebemos que há um público expressivo de admiradores do seu trabalho.
Entre os seus trabalhos está uma roçadeira, que segundo ele, foi produzida a partir de uma necessidade na labuta do dia a dia, e a falta de recursos para adquirir um equipamento disponível no comércio. E assim com R$ 100,00 ele foi até um ferro velho, adquiriu um motor e algumas sucatas, e sob o olhar incrédulo da sua esposa construiu a roçadeira.
O seu relato sobre o episódio da roçadeira é bem mais interessante do que as linhas anteriores. Pois além de inventor, seu Lourenço é um bom contador de estórias. Mas aqui o que nos interessa é mostrar como podemos usar a criatividade para resolver os problemas do cotidiano. Óbvio que para isso é necessário conhecimento. Mesmo que não seja formado em engenharia mecânica como ele próprio ressalta, certamente sem nenhum conhecimento nessa área, seria impossível que seu Lourenço fabricasse uma roçadeira elétrica.
Um aspecto importante que ressaltamos na fala do estudante é a respeito de que a atividade proporcionou-o conhecer melhor a sua comunidade. Esse é um ponto importante que uma aula-campo proporciona. Muitas vezes vivemos num determinado lugar, mas não o conhecemos verdadeiramente. Outro aspecto importante é a valorização das pessoas da comunidade, como também do seu conhecimento. Nas nossas comunidades, sobretudo as tradicionais, encontramos pessoas com notório saber que poderiam ter mais reconhecimento e por conseguinte ser mais aproveitadas no processo de ensino-aprendizagem. No entanto isso nem sempre acontece. Não que essas pessoas possuidoras de notório saber devam substituir o professor, que tem uma formação específica para isso, como possibilita o Novo Ensino Médio, mas certamente elas podem dar uma enorme contribuição.
A professora Francisca Fontes, uma das responsáveis pela atividade, falou do objetivo da ação, relatou um pouco de como se desenvolveu e fez uma avaliação da aula-campo na propriedade do seu Lourenço:
Continuando, a Professora ressaltou: “Fiquei encantada com a inteligência do senhor Agapite. Sem contar com a aula que nos ministrou sobre tecnologia e ainda deu uma lição de superação para todos ali presente. Após a demonstração de suas criações, fomos convidados a degustar um maravilhoso e saboroso lanche, com destaque para o caldo de cana, manipulado em uma engenhoca fabricado pelo mesmo.” E concluiu: “essa aula para mim foi de suma importância, pois além de despertar e estimular os alunos a desenvolver competências e habilidades que contribuíam com as suas formações, nos mostrou possibilidades de desenvolver o nosso processo de ensino-aprendizagem de forma mais criativa. Minha vontade é de voltar e explorar mais os conhecimentos desse senhor que nos impressionou”.
A partir do relato da Professora Francisca, percebemos que se a educação no campo trás enormes desafios, sobretudo quanto a permanência do estudante e um processo formativo que o mantenha na comunidade, há diversas possibilidades – possibilidades que foram exploradas muito bem nessa aula-campo. Imagina, o quanto o seu Lourenço conseguiu com suas invenções despertar o instinto inventor nos estudantes que participaram da aula – Estudantes que no dia a dia se deparam com os mesmos problemas do seu Agapite – e que agora passaram a olhar para esses problemas de outra forma – ao invés de cruzar os braços e ficar reclamando, buscaram soluções a partir dos recursos que estão ao seu alcance. Imagine também o tanto de senhores Lourenços não temos nas nossas comunidades rurais, com uma gama de conhecimentos práticos prontos para compartilhar. Faltando apenas um olhar mais sensível que reconheça a importância desses anciãos.
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Raimundo Oliveira – Licenciado em Geografia, Pós-Graduado em Educação Ambiental. E Coordenador da Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do CENSP-Lajeado.
Pedro Ferreira Nunes – Licenciado em Filosofia, Pós-Graduado em Filosofia e Direitos Humanos. E Professor da Educação Básica do CENSP-Lajeado.