quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Conto: Uma aventura

“Put a candle in the window,/'Cause I feel I've got to move./Though I'm going, going,/I'll be coming home soon,/Long as I can see the light...”. Essa canção fez vir a sua memória uma lembrança há muito tempo adormecida. Lembrança de uma aventura que nunca revelara nem para melhor amiga. Ainda que na época do acontecido, uns 20 anos atrás, houvesse quem especulasse. 

Era uma sexta-feira, seu noivo estava viajando á trabalho. Ele queria muito que ela fosse junto, mas não pode pois estava acontecendo um evento na faculdade, e ela fazia parte da comissão organizadora. Naquele dia teriam um convidado de outro Estado – um escritor que vinha ganhando destaque no cenário nacional com suas obras, e que a crítica apontava como um novo Lima Barreto. O tal escritor não gostava muito de participar de eventos públicos. Portanto seria uma oportunidade única de conhecer aquela figura que na medida que ia ficando mais conhecido, se tornava menos acessível, impondo a si mesmo uma reclusão.

O evento ocorreu de forma tranquila. A palestra com o tal escritor havia feito muito sucesso. Ainda que ela não achara grande coisa. Porém, como membro da comissão organizadora sentia-se feliz pelo sucesso do evento. O que pedia uma comemoração. E então juntamente com os demais colegas partiu para o bar do Velho Hippie. 

Aquilo não era muito o mundo dela, ainda mais sem o noivo. Mas deixou se levar pelos colegas. Qual não foi a surpresa dela ao se deparar num canto com o tal escritor – fumando um cachimbo e tomando conhaque. Ele lhe pareceu tão interessante – era como se um daqueles personagens rock in roll de suas estórias tivesse ganhado vida. Começaram a trocar olhares e logo estavam conversando como se fossem velhos conhecidos.

Ela nunca havia se sentido atraída por homem algum desde que conhecera o seu noivo. No entanto cada segundo perto daquele desconhecido alimentava um desejo quase incontrolável de se entregar a ele. - Como era encantador aquela figura. Pensava ela. Ela então se arrependeu de estar ali, quis ir embora, mas não conseguiu. 

Ela notava que ele também sentia alguma atração por ela, no entanto em nenhum momento avançou o sinal. Talvez estivesse inibido pela aliança dela. Quando ela se tocou já era tarde para esconder o anel de compromisso.

- Vai passar o final de semana aqui? Não quer curtir a natureza um pouco antes de voltar para a selva de concreto? Perto daqui tem uns lugares incríveis. Quando ela percebeu tinha praticamente pedido para que ele não fosse embora – que fugisse com ela para o meio da natureza onde pudessem ficar a sós. Ele não pensou duas vezes. Pouco tempo depois seguiam numa moto rumo ao interior. Ela conhecia uma pousada não muito longe dali onde podiam se hospedar e curtir a natureza sem serem incomodados por ninguém. 

Foi uma viagem inesquecível. Ela se entregou a ele como já mais se entregara a homem algum. Por trás de uma imagem rock in roll, sempre com um cachimbo e tomando conhaque, havia um cara romântico. Era como se eles se conhecessem a vida toda – a intimidade entre eles era completa. Assim passaram aquele final de semana tendo como trilha sonora além da natureza, o som do Creedence, que entre outras estava aquela canção que a fez recordar daquela estória. 

Na segunda-feira eles retornaram. Ele partiu de volta para sua terra e ela voltou para sua vida ao lado do noivo, com quem se casou pouco tempo depois. Nunca mais ouviu falar dele, que ao contrário do que diziam, não se tornou um um escritor de sucesso. Mas não esquecerá aquela aventura que levaria em segredo para o túmulo. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Apenas um rapaz latino-americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 




 


Nenhum comentário:

Postar um comentário