Sentimos isso na prática ao abordar a temática em sala de aula. Mas ora, uma educação que tem como um dos seus fundamentos a formação para cidadania (LDB 9394/96) não pode deixar de encarar esse problema. Foi então o que buscamos fazer a partir das aulas de Filosofia junto às turmas do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) do CENSP-Lajeado. Em relação a EJA o desafio foi maior pois estamos falando de um público que já tem uma vivência – e nessa vivência uma experiência que o faz ir criando uma espécie de ressentimento com a política. É o ressentimento com o vereador ou prefeito fulano de tal que prometeu e não cumpriu. Geralmente a promessa se refere a emprego.
Para problematizar essa visão acerca da política, além das aulas de filosofia, sentimos também a necessidade de desenvolver um projeto envolvendo outros componentes curriculares, e daí nasceu o Projeto Política e Cidadania que consistiu em diferentes ações pedagógicas com o objetivo de pensarmos criticamente a relação entre política e cidadania a partir da realidade local, entre elas, visita a Câmara Municipal de Vereadores e participação nas sessões ordinárias.
Também ao longo do Projeto os estudantes assistiram o documentário “O dia que durou 21 anos” (2012), possibilitando uma reflexão acerca do exercício da Cidadania em dois contextos distintos da nossa história política. Ao final foi realizado uma roda de conversa para socialização e avaliação do evento onde percebemos uma nova postura deles em relação a política local.
Com a experiência vivenciada por eles no decorrer do Projeto Política e Cidadania, agora tinham conhecimento para fazer uma crítica a gestão municipal e o poder legislativo – uma crítica, não com base em achismo ou mágoa pessoal, mas do conhecimento obtido a partir de uma experiência vivida in loco.
E foi esse aspecto que buscamos dá ênfase, isto é, a importância do conhecimento, para o exercício critico da cidadania. A partir do momento que eu conheço, a minha crítica torna-se uma crítica consciente, e então ela tem potência para provocar mudanças. Isso exige, no entanto, que seja abandonado uma posição de comodismo, como diria Kant, de menoridade, isto é, preguiça de pensar por si mesmo.
Um dos aspectos importante do nosso trabalho com essa temática foi a abordagem a partir da filosofia da práxis, isto é, dá ideia de que não basta compreender o problema, é preciso buscar resolve-ló. Para tanto a união entre teoria e prática é indissociável. Isto é, o discurso não pode ser diferente da prática.
Aliás, esse é um dos aspectos que mais contribui para alimentar o analfabetismo político – a incoerência – discurso e prática separados por uma barreira intransponível. O nosso trabalho então é de resistência, pois não acreditamos que possa existir um regime verdadeiramente democrático sem a garantia de uma cidadania plena.
E não estamos fazendo nada de extraordinário, mas apenas buscando trabalhar de fato o que pressupõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - 9394/96) ao enfatizar a formação para o exercício da cidadania, como também a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo, na competência 10 (Responsabilidade e Cidadania).
Essa questão ganha uma importância especial no contexto eleitoral. Pois num momento onde somos convocados a escolher nossos representantes políticos, tanto no executivo como no legislativo, conhecer as ideias e os projetos que esses candidatos, e candidatas, defendem, é fundamental para que possamos cobrar posteriormente. Pois o exercício crítico da cidadania passa também pela escolha consciente dos nossos representantes.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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