sábado, 20 de maio de 2023

Resenha: As Crônicas de Sucupira Gothan City

Com uma forte influência do funk e do soul, embrulhados numa atitude rock in roll. Magoo e o bando urtiga nos apresenta em “as crônicas de Sucupira Gothan City” o cotidiano de quem vive na capital tocantinense através de letras extrovertidas, reflexivas, noias delirantes e crítica social. E com isso levam adiante a bandeira do underground tocantinense ainda pouco relevante no cenário cultural do Estado.

O álbum trás 8 canções composta por Fernando Magoo – o front man da Trup. Abrindo o disco temos “O hippie chique” numa pegada bem soulfunk – que me lembrou BNegão e os Seletores de Frequência. E mostra a qualidade musical da banda (que trás André Ricardo e Artur Peri nas guitarras, André Fernandes no baixo e Rodrigo Rodrigues na bateria).

Na sequência temos “Sucupira Ghotan City” com uma forte influência da Nação Zumbi. E na letra um retrato da capital tocantinense marcado pelo calor de 50 graus, os pés de pequi, uma fauna diversa e suas contradições (é na minha opinião a melhor canção do álbum tanto em relação a música como a letra). Depois temos “mendicâncias” trazendo no seu som influências da música tradicional nordestina, sobretudo o repente. É também, na minha análise uma das melhores canções, com destaque para letra que fala da sina de muitos nortistas que são obrigados a deixar sua terra em busca de melhores condições de vida. E o refrão então: “ é pinga, é cachimbo, é seringa, é porrada,  é porrada...”. 

A canção de número quatro do álbum é a “Malditos Caramujos” numa pegada Bnegão e Seletores de Frequência a letra parece uma viagem de quem acabou de fumar um beck. Na sequência temos “Para Laika” numa pegada ala Bayana System, que trás na letra uma crítica a contemporaneidade caracterizada pelo domínio de uma racionalidade tecnológica.

“Papapa” é a sexta canção que compõe o álbum, trazendo no seu som influência de som nortistas como a guitarrada paraense. Em relação a letra temos mais um retrato da vida na capital referente a curtição: “a sutil arte de tocar o foda-se em Sucupira Gothan City é instigada pelo sol escaldante para um gole de cerveja ou uma dose gelada de paratudo na distriba”. É bom isso, não?! “Crack is beat” é  a penúltima. Numa pegada mais clássica, inclusive com direito a solo de guitarra ala Keith Richards, a canção alerta para o perigo de uma certa droga. Para fechar temos “Revoada” que é uma espécie de poema de despedida, onde Magoo destila crítica ao que ver ao seu redor.

Temos em “As crônicas de Sucupira Gothan City” um ótimo álbum de rock alternativo. Tanto as letras como a música não deixa a desejar ao que é produzido no cenário musical a nível nacional. É importante ressaltar a qualidade técnica da gravação onde conseguimos perceber a competência dos músicos que compõem a banda, a qualidade musical dos arranjos e força lírica das letras composta pelo Fernando Magoo. 

Outro aspecto importante é que mesmo que ao longo da nossa análise tenhamos salientado a referência a algumas bandas – que certamente são referências para o Magoo e o bando urtiga, conseguimos perceber uma pegada original – onde eles pegam essa influência e imprime sua identidade. Não tenho dúvida que se estivesse num contexto onde houvesse um cenário underground mais fortalecido, esse trabalho seria melhor acolhido e reverenciado. 

Por outro lado, que bom para nós que apreciamos esse tipo de som, ter artistas com essa disposição de abrir caminhos num Estado com fortes raízes conservadoras. Inclusive, Palmas, como podemos perceber ao analisar o resultado das eleições de 2022 no munícipio. De modo que a referência a famosa Sucupira do romance do Dias Gomes foi uma excelente sacada.

Outro aspecto importante que a música do Magoo e o bando urtiga trás é um olhar para o lugar onde vivem não mais de uma perspetiva acrítica – de culto as belezas naturais. Mas como alguém que tenta se encontrar nessa cidade singular que está crescendo a cada dia no coração do Brasil – uma cidade que quer se tornar metrópole mas não deixa suas raízes interioranas.

Enfim, e a própria banda faz parte desse processo de transformação da capital. A medida que a cidade vai crescendo vai surgindo fissuras e nessas fissuras aparecem as contradições e dessas contradições surgem indivíduos capazes de transformar tudo isso em arte. É o que temos em as crônicas de Sucupira Gothan City.

Por Pedro Ferreira Nunes – é um rapaz latino americano que gosta de ler, correr, escrever e ouvir Rock in roll. 


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