sexta-feira, 5 de maio de 2023

Crônica: Primeira vez em Lajeado


Era mês de agosto. O ano 1991 se não me engano. Minha mãe decidiu ir para o Lajeado acompanhar os festejos da “Nossa Senhora Mãe da Divina Providência”. E como eu ainda era muito pequeno decidiu me levar junto. Para mim seria uma aventura inesquecível num lugar que me era desconhecido.

A aventura começou já na travessia da balsa pelo rio Tocantins entre Miracema e Tocantinia – o rio eu já conhecia, mas atravessa-lo naquela geringonça de ferro cheia de carros era uma novidade e tanto. Como toda criança curiosa fiquei atento a todo movimento daquele bicho esquisito. Chegando na outra margem entramos no ônibus e seguimos viagem rasgando a terra dos Xerente – oh, e quão bela era aquela paisagem. Sobretudo a cordilheira de serras. Da janela do ônibus olhava hipnotizado á tudo aquilo.

Eu não era a única criança ali, e também não era o único a ficar encantado com as serras. E na nossa visão de criança acerca do mundo imaginávamos quanto tempo demoraria para chegar lá no topo. Ao final de muita discussão chegamos num consenso – uns 60 dias – isso se uma onça pintada ou o terrível lobo-guará não atravessasse o caminho do corajoso que tentasse tal proesa.

E assim, enquanto conversávamos animadamente sobre aquela paisagem deslumbrante, entramos no Lajeado sendo recepcionado pelos mortos que descansavam a sombra de um pé de gameleira no pequeno cemitério local –Pequena também era aquela cidade formada por algumas casinhas. 

O ônibus parou em frente ao pé de pequi – onde ficava a quitanda do seu Valteidez – que servia como ponto rodoviário. Ali onde futuramente seria construída a praça 05 de Maio, os peões estavam levantando o salão onde os foliões irião dançar forró até alta madrugada, depois das missas do festejo.

Pegamos nossas bagagens e seguimos para casa de dona Caetana que ficava também em frente ao pé de pequi, mas do outro lado da rua – estrategicamente ao lado do salão de festas. E ali passamos os dias que perduraram os festejos –Melhor dizendo, a casa de dona Caetana era mais um ponto de apoio, pois ficávamos mais na rua desbravando o local do que na casa dela.

O que nos encantava em Lajeado era que ali tínhamos mais liberdade para brincar ao contrário de onde morávamos em Miracema – ali estávamos mais próximos da natureza. Por tanto não foi sem um sentimento de tristeza que tivemos que deixar Lajeado para retornar a nossa casa em Miracema. 

Mau sabíamos que aquela seria apenas a primeira das muitas viagens que faríamos para o Lajeado. Acompanhariamos muitas mudanças por ali, e inclusive acabariamos mudando para cá definitivamente. Mas também sofreriamos com a perda de tantos amigos queridos ao longo desses anos todos. O que  no entanto, não tirou o nosso brilho no olhar por esse lugar. 

Não há um dia que não nos sentimos encantado pela paisagem que nos rodeia – que não deixamos de nos sentir privilegiado por morar aqui (sem deixar de reconhecer os problemas que há). Por isso dizemos, sem dúvida, que não nos arrependemos de ter pisado nessa terra um dia e aqui fincado raízes. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular Tocantinense.

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