quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Projeto de Vida: trabalhando a empatia e cooperação a partir da leitura de “Quando meu pai perdeu o emprego”

Uma das competências que buscamos desenvolver no processo de ensino-aprendizagem a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é a empatia e cooperação. No componente curricular de Projeto de Vida, nos anos finais do Ensino Fundamental, buscamos trabalha-lá a partir da literatura. Nesse contexto uma das obras utilizada foi o romance “Quando meu pai perdeu o emprego” do Wagner Costa.

A estória nos trás uma realidade que não é muito distante da maioria dos nossos estudantes que são oriundos de famílias da classe trabalhadora. O que contribui para que as questões propostas sejam melhor assimiladas. Por exemplo, o fato de que a perda do emprego além da questão econômica e social, trás também o aspecto emocional. É o que percebermos no decorrer da narrativa que mostra os conflitos entre os personagens diante de uma situação que exige sacrifício e maturidade ou melhor, empatia e cooperação. 

Imagina uma família de classe média composta por – marido, esposa e quatro filhos – duas crianças e dois adolescentes. Nessa família apenas o marido trabalha. No entanto o seu salário consegue proporcionar um bom padrão de vida a todos. Certo dia porém ele será demitido e essa demissão irá colocar a prova a unidade familiar para superar a crise que irá se instalar no ambiente doméstico.

Entre os personagens destacamos os dois filhos (Pedro Paulo ou Pepê e o Beto), sobretudo por que eles apresentaram comportamento diverso diante da nova situação. De um lado veremos um tentando se colocar no lugar dos outros – buscando diálogo e cooperando para superar as dificuldades, inclusive procurando um emprego para ajudar no orçamento familiar. Do outro lado temos o oposto – um comportamento egoísta, que fica buscando culpados, fugindo da realidade, que prefere bater boca que dialogar, que tenta sabotar ao invés de cooperar.

Durante a leitura os estudantes foram instigados  a refletir sobre tais comportamentos. Para tanto elaboramos algumas questões norteadoras como por exemplo: O que aconteceu quando o pai perdeu o emprego? Qual o personagem que você se identifica e por que? Descreva um trecho que houve um comportamento empático? Descreva um trecho que houve cooperação? O que mais ti afetou na estória e por que? 

Um aspecto importante a se ressaltar é que antes da leitura havíamos trabalhado conceitualmente o que é empatia e cooperação. E durante e posteriormente a leitura buscamos aprofundar essa compreensão introduzindo também a questão do diálogo – a partir da concepção de Paulo Freire. 

Por falar em Paulo Freire, além da empatia e da cooperação, em “Quando meu pai perdeu o emprego” temos um conceito freriano muito importante – a esperança. Aliás o ponto de partida do romance é justamente uma mensagem de esperança deixada pelo avô (pai do pai) de que se houvesse união e cooperação certamente a família iria superar aquela jornada. Podemos dizer assim, que a esperança ressaltada pelo autor segue a linha defendida por Paulo Freire, isto é, esperança do verbo esperançar – ou seja, é preciso agir para que as coisas aconteçam. 

O livro foi trabalhado nos anos finais do ensino fundamental. No entanto, observamos que  foi melhor assimilado pelas turmas do 8° e 9° Ano. A recepção da obra pelos alunos e o engajamento deles durante a leitura foi algo bastante significativo – que nos mostrou ter sido um acerto a escolha do livro. É importante também ressaltar a escrita do Wagner Costa – acessível e envolvente. E o fundamental, a estória é narrada em primeira pessoa, isto é, quem nos conta o fato é o Pepê. Desse modo, o autor fez o exercício de se colocar no lugar de um jovem, pela recepção dos nossos estudantes conseguiu se conectar com eles.

Enfim, com esse exercício de trabalhar a empatia e cooperação a partir da literatura, seguimos uma estratégia defendida por nós a partir de autores como os filósofos  Lipman e Norman. Óbvio, trazendo para nossa realidade – eis ai um aspecto fundamental que garantiu que o trabalho proposto fosse exitoso. Por tanto é importante planejar o que se quer trabalhar e a partir daí escolher uma obra literária que minimamente dialoga com o contexto que o estudante está inserido. E posteriormente avaliar se os objetivos foram alcançados. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.


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