domingo, 20 de agosto de 2023

Ensaio: A conversa

Por mais que John tentasse afastar-se de Luna, não conseguia. Quando ela surgia diante dele tudo que ele havia planejado para resistir á sedução dela ia por água abaixo. Para John tal relação era muito próxima da que um viciado tem com a cocaína ou outra droga qualquer – alguns minutos de prazer extremo e o resto do tempo de profunda depressão. O relacionamento com Luna terminantemente não fazia bem para John. Ela era uma droga pela qual ele era extremamente viciado. E por mais que ele tentasse superar este viciou, não estava conseguindo. Quando ele conheceu Suzy, e no auge de sua relação com ela chegou a pensar que Luna não fazia mais parte da sua vida, no entanto ele estava redondamente enganado – ele podia conhecer muitas mulheres, apaixonar-se por elas, mas era Luna a única com o poder de fazê-lo fazer coisas que ele não queria.

Muitas vezes John agia de forma dura com a Luna, tratava-a friamente. No entanto ela sabia que aquilo tudo era apenas da boca pra fora. Que quando ele se rendia mostrava-se o amante sensacional que era. Uma pessoa carinhosa e amorosa, inteligente, amigo e companheiro inseparável. John era uma das raras pessoas naquele lugar com quem você podia ter uma ótima conversa. Era um sonhador, o que não podia ser diferente sendo o aspirante a poeta que era. E o seu jeito diferente de ser fazia dele uma ótima companhia para todos ali. Quando Luna estava se sentindo sozinha, precisando de alguém que de fato lhe desse carinho, e não apenas pau como os outros caras com quem ela se relacionava. Não pensava duas vezes corria para os braços de John, pois ele era seu porto seguro. Onde podia se atracar com segurança após as aventuras que vivia.

- Preciso conversar contigo John.

- Quando?

- Agora, pode ser?

- Sim. Mas é só conversar mesmo né?

- Vamos para um lugar mais tranquilo.

- Ok.

John estava com seus amigos tocando violão, tomando cachaça e fumando tabaco. Era assim que eles passavam as frias noites lajeadense. Como também pensando em planos mirabolantes para mudar a cidade, planos que já mais sairiam do papel. Depois que Suzy decidiu afastar-se dele, ele também não pretendia reatar seu romance com Luna. Mas não quis resistir a conversar com ela. Mesmo imaginando o que Luna queria com ele.

- E então, como você esta? Dá ultima vez que nos falamos você me tratou tão mal, não quis nem conversa comigo.

- Eu ti tratei mal? Ora você some, depois aparece, dai diz que quer ficar comigo, depois me manda ir se ferrar, diz que sou ruim de cama. E ai fui eu que ti tratei mal?

- Ah, John você sabe que falei tudo aquilo só da boca pra fora. Só pra ti provocar por que você me tratou com a maior frieza, aliás, é assim que você tem me tratado ultimamente. E não sei o porquê disso. Já que a gente se gosta tanto.

- Você insiste numa estória que já deu o que tinha que dá. Por que não aceitarmos que o nosso relacionamento não tem futuro. Que ultimamente a gente só tem se magoado. Que a nossa paixão já não é mais como antes.

- Será mesmo? Acho que você só está falando isso da boca pra fora. Você é louco por mim que sei, eu sou louca por ti, pode não parecer, mas sou sim. A gente se dá tão bem quando você tira essa mascara de durão que não tem nada a ver contigo.

- A gente não dá mais certo como namorado. Não vou dizer que não é bom ficar contigo. O problema é depois quando você vai embora. Quando fico sozinho morrendo de saudades suas e você por ai com outros.

- John amor a dois sufoca. Nos lembremos dos ensinamentos do Raul – se eu ti amo e tu me amas, um amor a dois profana, o amor de todos os mortais... Às vezes a gente precisa dá um tempo um do outro para viver novas experiências com outras pessoas. O importante é quando a gente se reencontra a chama da nossa paixão reacende bem maior que antes. E também eu nunca ti proibi de ficar com outras, desde que não seja nada sério. Desde que você volte para mim.

- Eu não consigo viver assim Luna. E mesmo gostando de ti, eu prefiro abrir mão desse amor a viver em um relacionamento que não me faz bem. E quando em um relacionamento um dos dois não está contente é melhor terminar... Antes que vire ódio.

- Então o que você quer é ser o meu dono? Ter exclusividade sobre mim?

- Não, não estou ti pedindo isso.

- Ora como não. Isso que é um relacionamento tradicional.

- Eu não estou propondo uma relação de posse, mas sim de cumplicidade. Mas vejo que isso é impossível entre nós.

- Ok. John. A partir de hoje serei apenas sua. Vamos morar juntos, nos casar e ter filhos. Que tal?

- Não é assim não. As coisas não funcionam assim de uma hora para outra.

- Como não? Não é isso que você quer?

- Mas não assim do dia pra noite. A gente precisa estabelecer um processo de confiança entre nós.

- Você não confia em mim?

- Você tem me dado algum motivo para que eu ti dê confiança?

- Para ficarmos juntos temos que esquecer o que passou.

- Isso não. Temos que aprender com o passado, já que não podemos apaga-lo.

- Tá certo.

- E também você não pode prometer o que não pode cumprir;

- Então o que você quer?

John não soube responder a Luna. O fato é que ele já não sabia o que queria com ela.

Por Pedro Ferreira Nunes - Apenas um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 

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