terça-feira, 15 de agosto de 2023

Como saber se a cidade está realmente num bom caminho?!

Para saber se uma cidade está realmente num bom caminho devemos nos questionar como anda a política educacional. É a partir dessa que podemos vislumbrar mudanças qualitativa em relação às expressões da  questão social que afetam a municipalidade – como por exemplo, a baixa escolaridade, o desemprego, a pobreza, a violência, tráfico e consumo de drogas, e a gravidez na adolescência. Diante disso, se não vemos nenhuma ação da gestão municipal no sentido de garantir valorização e qualificação para os profissionais da educação, melhoria estrutural das escolas e políticas de acesso e permanência dos estudantes, não podemos dizer que a cidade está num bom caminho.

Esse pensamento me veio a cabeça durante uma busca ativa realizada para formação de turmas da educação de jovens e adultos (EJA). Num primeiro momento fiquei feliz com a quantidade de pessoas que encontramos, apenas num setor da cidade, com a educação básica incompleta. Depois fiquei triste, pois uma cidade não pode estar num bom caminho com tanta gente assim fora da escola. Fico me perguntando se os agentes públicos locais estão realmente preocupados com a municipalidade. Não vejo nenhuma manifestação, seja da situação ou oposição, acerca desse problema – que se não é, deveria ser de conhecimento de todos. E assim, essa expressão da questão social vai sendo naturalizada. E a partir daí vai se criando uma  cultura em que estudar é desnecessário.

Podemos sentir isso inclusive na educação das crianças e adolescentes que frequentam a escola e demonstram uma grande dose de apatia em sala de aula. O exemplo que esses jovens tem, muitas vezes em casa, é do estudo como algo supérfluo. Ou seja, de algo do qual se pode abrir mão. Acreditam no canto da sereia que vende uma vida de sucesso como jogador de futebol ou influencer. Quando menos perceberem estarão presos num trabalho precarizado onde ganham o mínimo para subsistência. Repetindo assim um círculo de fracasso familiar.

Para que essa realidade mude a educação precisa ser encarada como um problema de toda a sociedade. Estamos falando de uma questão muito séria para ser deixada apenas nas mãos dos agentes públicos. Desse modo é fundamental que as pessoas participe efetivamente das discussões e deliberações acerca das políticas educacionais do município. 

Essa participação parece um tanto distante, sobretudo quando se percebe que parte significativa das famílias não acompanha efetivamente  a vida escolar dos filhos. E se não estão preocupados com a educação dos próprios filhos, imagina com a política educacional do municipio – aqueles que tem condição de mandar os filhos estudarem em outras cidades menos ainda.

Apesar dessa realidade não podemos tirar do nosso horizonte a perspectiva de uma política educacional com a participação de todos. Óbvio que não temos a ilusão de que isso ocorra do dia para a noite. É necessário todo um trabalho de conscientização no sentido de mostrar que não é possível vislumbrar qualquer perspectiva de mudança qualitativa, seja interna ou externa, sem educação. 

Obras são importantes, melhoria da infraestrutura – da prestação de serviços entre outros. Pois gera emprego, aumenta o consumo e aquece a economia. Mas isso por si só não resolve. Pode até atender uma necessidade imediata por sobrevivência. Mas não resolve questões estruturais como as que pontuamos no início. Não estamos querendo dizer com isso que a educação resolve tudo. Mas certamente sem ela nada se resolve. Por isso não podemos ficar contentes com uma cidade que negligência o acesso e permanência dos seus cidadãos na escola – seja ele menor ou maior de idade.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

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