quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Deus ex machina e a político no Tocantins

Aqui estou eu novamente escrevendo sobre o afastamento, por determinação judicial, do Governador do Estado do Tocantins devido a suspeita de corrupção. Não posso dizer que dessa vez tenha sido uma completa surpresa. Pois o histórico dos governos anteriores e a continuidade de um modo de fazer política nos leva a entender que a qualquer momento isso pode acontecer. É, camaradas. O Tocantins não deixa de reafirmar a máxima marxiana de que "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa". 

A investigação em curso contra Wanderlei Barbosa  teve início em 2021-2022, quando ele ainda era vice-governador. Logo depois assumiria o executivo estadual com a queda do então Governador Mauro Carlesse. De lá para cá ele foi eleito para um segundo mandato faltando pouco mais de um ano para finalizá-lo. De modo que não temos como não questionar: - por que só agora? 

Tanto a nível nacional como regional o judiciário tem se comportado como um Deus ex machina. Para quem é conhecedor da mitologia grega sabe muito bem do papel que essa figura desempenha intervindo no destino dos mortais. Ele sempre aparece no momento decisivo da trama mudando o que parecia ser certo. 

Com alta aprovação popular e a falta de uma oposição forte, o governador Wanderlei Barbosa, antes do afastamento, se colocava como líder do processo sucessório. As duas principais pré-candidaturas até então disputavam o seu apoio: a senadora Dorinha (União Brasil) e o presidente da ALE-TO - Deputado Estadual Amélio Cayres (Republicanos). Essa liderança passa agora para o seu vice - Laurez Moreira. Até então renegado como ele fora por Carlesse.

É importante lembrar que sem a queda do Carlesse impulsionada por uma decisão judicial, Wanderlei dificilmente teria se tornado Governador. Antes, sem a queda de Marcelo Miranda, também impulsionado por decisão judicial, Carlesse dificilmente teria sido governador. Acontecerá o mesmo com Laurez? Ainda é muito cedo para afirmar isso. Pois enquanto houver possibilidade de retorno do governador Wanderlei, a liderança do Laurez é relativa. Na verdade, de todo governante. Enquanto tem o poder na mão não lhe faltará aliados. Quando este lhe escapa, os aliados se afastam. É o realismo político camaradas. Nesse jogo não há espaço para quem pensa a política numa perspectiva idealista.

Enquanto o primeiro encontra fundamento no pensamento do Maquiavel - a partir do qual podemos resumir que a política deve ser feita a partir da realidade, ou seja, das coisas tal como elas são. Se vivemos num contexto em que cada um só pensa em si. Eu devo agir buscando os meus interesses. Ainda que isso signifique passar por cima de determinadas normas morais. O segundo encontra fundamento no pensamento grego clássico, onde a política é pensada a partir de como a sociedade deveria ser - onde o interesse comum se sobrepõe aos interesses individuais. 

De todo modo, uma dose de prudência, como recomendava Aristóteles, é sempre aconselhável. Aliás, até Maquiavel ressalta a importância da prudência para que o governante não seja odiado. Nas suas próprias palavras: “Pouca prudência pode induzir os homens a optar por coisas que de momento têm sabor agradável mas que internamente estão repletas de veneno”. Num cenário de incertezas, então, a prudência é ainda mais fundamental. 

Há que saber fazer uma análise de conjuntura acertada para se posicionar bem no tabuleiro da política. Esse não foi o caso daqueles que entraram com o pedido de impeachment do governador Wanderlei na ALE-TO. Ora, que motivos os deputados, que estavam sendo beneficiados pelo governo. Sobretudo o presidente do parlamento que parecia ser o seu pré-candidato preferido à sucessão estadual teria para fazê-lo? De modo que tal medida serve mais para “lacração” nas redes sociais do que como um efeito prático. Mas o fato é que diante da popularidade do governador Wanderlei nem para isso servirá. A não ser para reafirmar o perfil medíocre daqueles que o fizeram.

Por enquanto o que tem vindo à tona é muito sério. E se confirmado, Wanderlei Barbosa deve não apenas ser afastado. Mas também impeachmado e condenado juntamente com os demais que fizeram parte do esquema. 

Num cenário ideal caberia o povo se sublevar e pressionar o parlamento estadual na direção de um impeachment do Governador Wanderlei. O que no cenário atual não vemos possibilidade. Desse modo, se a população continua se omitindo do seu papel. Caberá ao deus ex machina (judiciário) intervir. Quando e como será a próxima intervenção? Aguardemos os acontecimentos. Terminemos com as palavras que as náiades inscreveram no túmulo do filho do Hélio (sol) que morreu a tentar conduzir a carruagem do sol: "Aqui jaz Faetonte, cocheiro do carro paterno; não conseguiu dirigi-lo, mas morreu num ato de grande ousadia". Ele pelo menos teve a dignidade de tentar. E nós, povo tocantinense, quando ousaremos conduzir o nosso destino?

Pedro Ferreira Nunes - Mestre em Filosofia (UFT) e Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Crônicas Aurenyanas: As aparências enganam

Você provavelmente já ouviu essa frase. Eu também ouvi muito. Pensei nela enquanto lavava roupa e não pude deixar de escutar uma conversa pelo telefone do meu vizinho de kitnet. Trata-se de um senhor que aparentemente já ultrapassou umas 60 primaveras. Assim como eu, mora sozinho. E aparentemente leva uma vida tranquila. Discreto, nesses meses que mora aqui ao meu lado nunca tinha percebido que ele toma umas cervejinhas.

E foi justamente o relato de uma noite anterior regado a cerveja que me chamou atenção. Segundo este com R$400,00 no bolso ele se dirigiu até um determinado bar. E lá começou a beber cerveja. Não consegui identificar qual era a marca. Mas segundo ele deu uma dor de cabeça que ele achava que ia morrer. Mas também depois de 8 garrafas não é para menos. Pior do que a dor de cabeça do porre, foi a grana que perdeu na sinuca. Segundo ele, empolgado pelo álcool resolveu desafiar um velho que estava por ali a jogar bilhar. O velho recusou, mas ele insistiu propondo que as partidas fossem apostadas - quem ganhasse, levava grana. O velho continuava sem querer. Ele insistia prometendo dar duas bolas de vantagem. Por fim o velho aceitou. Mas sem querer a vantagem ofertada. Os dois teriam condições iguais. E quem ganhasse levava a grana.

- Rapaz, eu levei um pau do velho. Pensa num pau. Não tinha bola colada que ele não descolava e matava. Tô aqui com R$40,00 no bolso para fazer a feira da semana até que recebo uma grana de uns bicos que fiz. Empolgado demais, quis aparecer. E o velho me depenou. Nunca mais. Nunca mais.

Será mesmo? Fiquei pensando comigo. Quando o álcool entra no nosso sangue perdemos a noção da realidade. E acabamos fazendo coisas um tanto irracionais. Depois quando o efeito passa vem a ressaca moral.

- Onde diabos eu estava com a cabeça que fui fazer isso?!

Por outro lado, não podemos deixar de viver. Pois se não, como diz uma frase de uma canção da banda Matanza Inc. - se deixar a vida fica muito chata. Daí a gente não suporta. E corta os pulsos. Por tanto que essa experiência não o leve a deixar de se divertir. Afinal de contas ele trabalha tanto e merece sua dose de distração. Só espero que ele tenha aprendido a não julgar os outros pela aparência. Ora, achar que sairia melhor que o outro no jogo, só porque este era mais velho do que ele. É demonstrar uma boa dose de ingenuidade. Não pude deixar de pensar comigo: - há pessoas que envelhecem, mas não amadurecem.

Por Pedro Ferreira Nunes - Apenas um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.