“Ou toma a frente ou a frente tomara você”.
Plebe Rude
Não que essa não seja a realidade de muitos trabalhadores hoje no Brasil, mas com a aprovação da reforma da previdência do governo Bolsonaro patrocinada pelas elites econômicas, a situação tende a piorar. E quando esse dia chegar (e não tardará muito) iremos nos perguntar: aonde estávamos? O que fizemos para impedir que a câmara dos deputados aprovasse a reforma? Por que não nos manifestamos? Por que não tomamos as ruas? Por que não colocamos fogo no congresso?
Diante dessas questões não poderemos deixar de nos sentir culpado. E de fato somos – pagaremos um preço alto por isso – e todos tem consciência. Por isso que ninguém se emocionou nas ruas como o presidente da Câmara – o deputado Rodrigo Maia (DEM). Por isso ninguém comemorou (como se a seleção brasileira de futebol fizesse um gol numa final de copa do mundo) como o ministro da Casa Civil – Onyx Lorenzoni. Por isso não houve fogos – nem mesmo por parte dos trabalhadores que tem alguma ilusão com o governo Bolsonaro.
O clima de comemoração por parte dos trabalhadores ficou só na propaganda do governo. Mas não são pessoas reais. Trata-se apenas de uma peça publicitária com o objetivo de convencer a população de que as mudanças são para o bem da nação. No entanto, sabemos bem, a propaganda do governo (como é a propaganda de todos os governos) omite a essência do projeto para poder manipular a opinião pública.
Com isso, mais do que nunca a música “propaganda” do Sepultura faz sentido: “Don’t, don’t believe what you see. Don’t, don’t believe what you read. No!” (Não acredite no que você vê. Não acredite no que você lê. Não!). E a reação da população diante do teatro na câmara dos deputados (que tende a se repetir no senado) mostra que a propaganda do governo tem convencido muito pouco – por isso não houve fogos de comemoração.
Mas se não houve fogos comemorando a aprovação da reforma da previdência na câmara dos deputados, também não teve grandes protestos, paralisações e manifestações nas ruas. O que houve foi uma espécie de indiferença – uma indiferença que contribuí mais ainda para que a reforma da previdência seja aprovada no senado sem maiores resistência. E também para que o governo e o congresso tenham se animado na direção de uma reforma tributária (claro, patrocinada pelas elites econômicas).
É, a nossa indiferença talvez seja o elemento que fez do dia seis de agosto de dois mil e dezenove um dia histórico marcante – mais do que a aprovação da reforma da previdência em si. Afinal de contas, as vezes, o pior não é perder. Mas como se perde. E não há pior derrota (pelo menos na minha visão) do que aquela que perdemos sem lutar até o último segundo – o que foi feito pela bancada de oposição, e é preciso reconhecer. Óbvio dentro do limite que o parlamento permite. De modo que não dá para colocar nas costas deles a responsabilidade pela derrota – eles fizeram o possível e conseguiram reverter alguns pontos que tornavam a reforma ainda mais dura.
Agora é preciso perguntar: Onde estavam as centrais sindicais? Os sindicatos? Os movimentos sociais? Onde estávamos? O que fizemos no dia seis de agosto de dois mil e dezenove? Por fim, outra questão que não podemos deixar de fazer é: Ainda é possível reverter a derrota no senado? Possível é, mas as perspectivas não são animadoras. Sobretudo porque enquanto continuarmos afetados pela indiferença (numa espécie de estado de letargia) não teremos capacidade de agir para reverter qualquer situação.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.