As articulações políticas com vistas às eleições municipais de 2020 no Tocantins estão á todo vapor. E em relações a essas movimentações o ponto que chama atenção é o domínio dos partidos tradicionais. Contrariando a tendência das eleições de 2018 á nível nacional que viu um recuo nessas legendas, especialmente o PSDB e MDB.
É verdade que o Tocantins já havia contrariado essa tendência nas próprias eleições de 2018 elegendo na grande maioria políticos dos partidos tradicionais que estavam ocupando ou já haviam ocupado cargos públicos eletivos. E ao que parece essa tendência se manterá nas eleições de 2020. É o que se percebe na conjuntura atual, sobretudo ao analisarmos a movimentação de partidos como o MDB e o DEM.
Aliás, o MDB é quem mais tem se movimentado, no entanto sem trazer novidades, o que ficou claro ao eleger Marcelo Miranda a presidência regional da legenda. Em certa medida ao assumir o comando do partido a nível regional, Miranda evita uma possível ascensão do senador Eduardo Gomes a direção do partido – o que poderia significar um isolamento maior e até mesmo o fim político do ex-governador. Por enquanto o discurso é de harmonia entre o grupo tradicional comandado por Marcelo Miranda e o senador Eduardo Gomes, resta saber até quando essa harmonia prevalecerá.
Muito provavelmente as divergências ficaram mais evidente quando começarem a se definir as alianças e os apoios a determinados candidatos que não estão nessa aliança – uma prática bastante comum no Tocantins. E se falando de Eduardo Gomes que mantém diálogo com diferentes partidos, inclusive de campos opostos, esse apoio a candidatos que não são do MDB não será novidade.
Mas de qualquer forma, independentemente das disputas internas, o MDB está se estruturando para eleger um número significativo de prefeitos, especialmente nos pequenos e médios municípios tocantinenses onde a política tradicional domina – e a partir daí se fortalecer mais ainda para a disputa pelo Palácio Araguaia em 2022. Já nos grandes municípios o partido pode até lançar candidaturas majoritárias, mas com pouca chance de saírem vitoriosas.
Outro partido tradicional que tem se fortalecido e se apresentará como uma grande força nas eleições municipais é o DEM, sobretudo agora com a vinda do governador Mauro Carlesse e outras lideranças políticas. O crescimento da legenda no Tocantins segue o fenômeno nacional especialmente após a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado (Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre), como também dos importantes cargos que ocupa no governo Bolsonaro (Casa Civil, Agricultura e Saúde ).
Esse crescimento é também resultado da fragilidade do PSL (partido do presidente) em se estruturar como uma força política regional, minimamente capaz de atrair novos quadros. Tendo o presidente da república era natural que se fortalecesse como partido, até por que nas eleições de 2018 teve uma votação expressiva, inclusive chegando a eleger uma deputada estadual (Vanda Monteiro), mas a linha autodestrutiva do PSL afasta mais do que agrega. O que é bom para os partidos que possuem estruturas mais orgânicas, como é o caso do DEM.
Mas o DEM também precisará superar as divergências internas, pois assim como o MDB, sofrerá com os embates entre o grupo tradicional que comanda a legenda no Tocantins e os novos filiados. Mesmo se não superar as divergências, dificilmente não conseguirá eleger um número razoável de prefeitos e vereadores, pois afinal de contas estão com a máquina pública estadual na mão, e essa é sempre um fator decisivo, como se viu na própria eleição do Carlesse ao palácio Araguaia.
Por enquanto são essas duas forças politico-partidárias que estão se organizando com mais afinco para as eleições municipais de 2020 no Tocantins. E serão provavelmente as que protagonizaram a maioria das disputas nos municípios. No entanto isso não significa dizer que não haverão outras forças politico-partidárias nas disputas. Por exemplo, não se pode descartar o PSD do Senador Irajá Abreu que sempre elege um número razoável de prefeitos, sobretudo nos pequenos municípios. Como também partidos como o PR, PP e PSDB.
Isso deixa mais evidente ainda o domínio das siglas tradicionais – o que tem como consequência a perspectiva de uma renovação pequena ou pior, nenhuma renovação do ponto de vista político-partidário nas próximas eleições municipais. É óbvio que até lá muita coisa pode acontecer, de modo que não dar para ser ingênuo ao ponto de fazer qualquer afirmação de como será. O nosso exercício aqui, é a partir da análise da conjuntura atual, apontar um possível cenário futuro.
E esse exercício é fundamental não só para quem quer compreender o quadro político atual no Tocantins, mas sobretudo para quem quer intervir no sentido de buscar superá-lo. É possível superá-lo? Isso dependerá da nossa capacidade de organização e resistência ao que está posto até o momento.
Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins.
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