segunda-feira, 30 de julho de 2018

Não a violência no Campo: Todo apoio a Comunidade Camponesa Tauá no município de Barra do Ouro. Reforma Agrária já!!!

“...É tão difícil entender como homens armados
Expulsam outros homens das terras em que
 eles nasceram e se criaram que são deles
Por direito para lá plantarem nada... nada...”.
Inocentes

Nas ultimas semanas a comunidade Camponesa Tauá localizada no município tocantinense de Barra do Ouro – na região Norte do Estado. Vem sofrendo com constantes ataques por parte de jagunços com o objetivo de expulsar as famílias da área ocupada.

O nome do responsável por trás da ação dos jagunços não é segredo para ninguém, trata-se de Emilio Binotto – empresário catarinense – que atua no ramo da plantação de soja. E que segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT) é responsável por desmatar cerca de 11 mil hectares de mata nativa do nosso cerrado.

As famílias denunciam a destruição de casas e roças, e mesmo sendo identificados através de gravação de vídeos os jagunços não se intimidaram e ameaçaram os posseiros. Tal fato é reflexo da impunidade que impera no meio rural brasileiro, realidade na qual o Tocantins não é  uma exceção.

A omissão por parte do Estado em relação aos crimes cometidos contra camponeses pobres só contribui para que grileiros e jagunços utilizem da violência para expulsar famílias de suas terras. E a recente eleição de um ruralista para comandar o governo do Tocantins tal como ocorrera com a chegada de Temer ao palácio do Planalto só animou essa corja.

Não é de hoje que as famílias da comunidade Camponesa de Tauá vêm se mobilizando e denunciando as investidas destes criminosos. Porém a Policia Civil Agrária do Tocantins, até o momento, não abriu nenhuma investigação para apurar as ações criminosas por parte dos jagunços a mando do senhor Emilio Binotto. Aliás, devemos questionar ao que e a quem serve a Policia Civil Agrária do Tocantins – Se para combater os crimes cometidos contra os povos do campo ou se para criminalizar o movimento social.

Cabe destacar que de acordo com Rafael Oliveira da Comissão Pastoral da Terra “não há nenhuma ordem judicial que permita a destruição de barracos ou despejo de qualquer morador da comunidade”. Diante disso se torna mais grave a inoperância da Policia Civil Agrária e demais autoridades estatal.

Ora, até quando o Estado brasileiro continuará se omitindo diante dos crimes cometidos contra camponeses pobres? Será que as autoridades do Tocantins e do governo federal estão esperando que ocorra uma chacina em Barra do Ouro (como já ocorreu em diversos cantos do Brasil nos últimos dois anos) para que se tome alguma providencia?

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) no ultimo período tem denunciado o aumento da violência no campo, sobretudo na Amazônia Legal, região da qual o Tocantins faz parte. De acordo com Marques (2018) no ano de 2017 ocorreram 71 assassinatos no campo brasileiro... destas mortes, 56 foram na Amazônia Legal, região que concentra, novamente, as mortes no campo...”.

No Tocantins, nos últimos dois anos, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) através do Cedoc Dom Tomás Balduíno registrou 164 conflitos no campo envolvendo aproximadamente 38 mil pessoas. Nesses conflitos foram registrados assassinatos, tentativas de assassinatos, torturas e agressões. Ainda de acordo com a CPT (2018) nos últimos dois anos ocorreram 151 conflitos contra ocupações e posse de terra no Tocantins, onde cerca de 4 mil famílias estiveram envolvidas. Um ponto interessante é que nesses casos envolvendo violência contra ocupações e posse de terras no Tocantins o crime de pistolagem aparece 1.427.

Como se vê a violência contra a Comunidade Camponesa Tauá de Barra do Ouro não é uma exceção no Tocantins – Ainda que a imprensa regional ao omitir esses números contribua para uma visão distorcida da realidade. Por tanto é tarefa nossa furar esse bloqueio midiático e denunciar esses crimes recorrentes contra os povos do campo tocantinense. Pois não podemos aceitar com naturalidade tais crimes.

Também gostaríamos de afirmar o nosso apoio incondicional a Comunidade Camponesa Tauá e repudiar com veemência a violência por parte de jagunços e grileiros como também a omissão por parte do Estado. Exigimos uma investigação célere e punição dos envolvidos, tanto de forma direta como indiretamente, nessas ações criminosas.

Outro ponto importante a se ressaltar é que quanto mais o Estado demora no processo de assentamento dessas famílias contribui para que esse tipo de disputa persista. De modo que exigimos a garantia imediata por parte do Estado da posse dessa área as famílias que lá estão há décadas.

Não poderíamos deixar de ressaltar que uma questão fundamental no contexto atual é a necessidade de colocarmos novamente na ordem do dia a necessidade de uma reforma agrária de fato no Brasil. Essa temática saiu da pauta do debate politico nos últimos anos, inclusive por parte das organizações de esquerda. Essa é uma questão central, sobretudo em tempos em que a pobreza e a fome têm avançado na nossa sociedade.

Diante dessa questão nunca é tarde para relembrar das palavras de Lênin (1903) de que “é compreensível que milhões e dezenas de milhões de pessoas tenham de viver na pobreza e passar fome, e continuarão sempre há viver na pobreza e a passar fome enquanto nas mãos de alguns milhares de ricos estiverem quantidades tão imensas de terra”.

Eis ai uma questão que não conseguimos resolver no Brasil, mesmo nos governos liderado pelos petistas – acabar com a concentração de terra não mão de uma minoria –que acaba gerando miséria e fome. De modo que se quisermos verdadeiramente superar essas questões é fundamental retomarmos, inclusive de forma radicalizada, a luta por uma reforma agrária de fato no Brasil.

Por fim, diante das palavras de Lênin é possível fazer um paralelo com a canção “miséria e fome” (1988) da banda punk paulista Inocentes. Um paralelo no sentido de afirmar que não é tão difícil entender por que “homens armados expulsam outros homens das terras em que eles nasceram e se criaram que são deles por direito para lá plantarem nada...” ou ainda por que “o governo pode permitir que homens saiam do campo e venham para cidade criar mais miséria... criar mais fome...”. O que é difícil entender é por que, como e até quando aceitaremos isso pacificamente.

Pedro Ferreira Nunes
Pelo Coletivo José Porfírio
Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO. Lua Cheia. Verão de 2018.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O papel da imprensa nas articulações políticas no Tocantins

Vivemos um momento intenso de articulações para composição das Coligações que disputaram as eleições para o governo estadual, senado, câmara dos deputados e a assembleia legislativa em outubro. E quem acompanha pela imprensa as noticias sobre as possíveis alianças percebe que esse período é marcado por muita especulação e pouca coisa de concreto. 

É nesse cenário que percebemos o papel da imprensa intervindo diretamente no processo. Mas como que se dá essa interferência? É simples. Por exemplo, determinado site noticia que o grupo político A está negociando uma aliança com o grupo B. Para tanto não apresenta nenhum fato concreto a não ser a justificativa de que tal informação partiu de uma fonte fidedigna. Obvio, essa fonte é mantida em sigilo como pressupõem a constituição federal. Mas de repente contrariando a informação o grupo político A anuncia aliança com o grupo C. 

Diante desse episódio é possível levantar a seguinte questão: Será que o grupo A estava realmente negociando com o grupo B? Ou essa especulação de uma possível negociação foi implantada apenas para que o grupo A conseguisse mais espaço na aliança com o grupo C?

Por trás de um discurso aparente de neutralidade e de manter o leitor informado – blogs e sites de noticias repercutem especulações que quase nunca se confirmam, mas conseguem o objetivo almejado. Que é fortalecer determinados grupos na hora de barganhar mais vantagens no momento de fazer aliança. 

Para compreendermos melhor como isso tem ocorrido no Tocantins vejamos a aliança entre o PSB de Carlos Amastha e PSDB do senador Ataídes Oliveira. Até o anuncio oficial dessa coligação o que se especulava na imprensa era a quase certa aliança entre o tucanato e o PHS do governador Mauro Carlesse. Mas de repente vem o anuncio oficial da aliança entre o PSB e o PSDB garantido não só uma vaga para disputar o senado aos tucanos como também à vaga de vice. Como se vê os tucanos souberam aproveitar muito bem as especulações. O mesmo não se pode dizer do PT que acabou sendo descartado sem nenhum puder por Amastha.

Outra especulação que tem ganhado muito espaço nesses sites e blogs de noticias é sobre os rumos do grupo da senadora Kátia Abreu e de uma possível candidatura do deputado federal Irajá Abreu ao senado. Quem acompanha as movimentações percebe que a tática utilizada é a mesma. E quem tem o mínimo de censo critico percebe a jogada. 

Mas nem sempre a imprensa se contenta com essa tática e se posiciona mais explicitamente como no episodio em que um jornalista questiona as pretensões do deputado federal Irajá Abreu de se candidatar ao senado afirmando que sua candidatura seria “derruba palanque”.

O fato é que nesse contexto em que há pouca vaga para muito candidato o terreno fica bastante propicio para especulação. E ao se pautar por especulações e não por fatos a imprensa tocantinense mostra a sua verdadeira face deixando cair por terra a sua suposta neutralidade.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Enquanto isso em Lajeado o lema é: “Vamos roubar, vamos enriquecer!”

Quem frequenta a bela praia do Segredo recentemente inaugurada em Lajeado do Tocantins se depara com um monumento: #EU❤Lajeado. Sendo este um dos lugares mais disputados para se tirar aquela fotografia para se guardar como lembrança e mostrar nas redes sociais o seu afeto pela cidade. De fato é difícil não amar Lajeado ainda mais quando você pode enriquecer desviando dinheiro público e mesmo assim não ser incomodado pela população.

Para conseguir tal faceta não é difícil. Numa cidade em que o principal empregador de mão de obra é o poder público municipal os contratos temporários são ótimos instrumentos de cooptação e exploração. Recomenda-se também de vez em quando criar uma distração para que o povo possa esquecer dos problemas do dia a dia. 

E assim é “Pau no cu do povo que sofre. Sofre, sofre sem reclamar. Vamos roubar, vamos enriquecer...”. Esse tem sido o lema do grupo político que comanda o poder na cidade desde 2008.

Já virou rotina manchetes nos principais veículos de comunicação do Estado repercutindo denuncias de corrupção, operação da polícia federal, ações do ministério público e decisões judiciais envolvendo a cúpula política que detém o poder sobre a máquina pública municipal. 

O montante de dinheiro público desviado se aplicado no que deveria, transformaria Lajeado numa cidade de primeiro mundo – para se ter uma ideia o ultimo caso que veio a tona dá conta de um prejuízo de 120 milhões aos cofres públicos – Enquanto isso não ocorre a população sofre com a precariedade dos serviços públicos, a falta de segurança, de valorização profissional, de educação pública de qualidade e com o déficit habitacional.

Em recente decisão judicial em que se determina o bloqueio de bens de advogados e escritórios suspeitos de causar R$ 120 milhões de prejuízos aos cofres públicos em Lajeado, o juiz Alan Ide Ribeiro da Silva determinou a quebra do sigilo bancário dos réus a partir de 2014. 

De acordo com o Conexão Tocantins, para o juiz “a medida é necessária para entender melhor o suposto esquema denunciado, que envolve delitos como compra de apoio parlamentar, corrupção ativa e passiva de agentes públicos”.

Enquanto isso a população segue encantada com a mais nova atração turística do município – a bela praia do Segredo. Que segundo informações contou com investimento de singelos 1 milhão do poder público. 

Diante disso não tem como questionar: imagine quantas praias do segredo poderiam ser construídas com os 120 milhões desviados. Aliás, nada melhor do que uma praia para lavar dinheiro.

E o povo? O povo é que se foda. Pois o lema por aqui é: “Vamos roubar, vamos enriquecer...”. Até por que no final das contas mesmo diante de tantas ações na justiça todos continuam soltos usufruindo das maravilhas que a cidade pode lhes proporcionar.

Pedro Ferreira Nunes é – Educador Popular. Cursou a Faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Faz Parte do Coletivo José Porfírio e do Centro Acadêmico de Filosofia Professor José Manoel Miranda.

Referências 

Conexão Tocantins. Justiça bloqueia bens de advogados e escritórios suspeitos de causar R$ 120 milhões de prejuízos aos cofres públicos em Lajeado. Disponivel em: https://conexaoto.com.br/2018/07/19/justica-bloqueia-bens-de-advogados-e-escritorios-suspeitos-de-causar-r-120-milhoes-de-prejuizos-aos-cofres-publicos-em-lajeado. Acesso em:  20 Julho de 2018.

Ratos de Porão. Suposicollor. Just another crime... in massacreland. São Paulo, 1993.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

O Vereador Felipe Martins e o Arco-íris

Não tardará o dia em que será aprovado um projeto de lei proibindo o arco-íris de se manifestar em terras tocantinenses. E então você meu camarada não terá mais a satisfação de contempla-lo no topo da serra do Lajeado quando a luz solar for “refratada, dispersa e internamente refletida” pelos pingos da chuva. Isso tudo por que para o legislativo palmense o arco-íris é um símbolo de propagação do homossexualismo.

Foi o que me veio à cabeça quando li a noticia da mudança de nome do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) da quadra 1.006 sul, que no projeto original receberia o nome de Arco-íris, mas por interferência do vereador Felipe Martins (PSC), com o apoio do legislativo palmense e da gestão da prefeita Cynthia Ribeiro (PSDB), passará a ter uma nova nomenclatura. 

O vereador não teve nenhum puder ao propor a mudança de nome do CEMEI. Na sua justificativa deixou claro que a proposta se dá pelo fato de que o arco-íris é um símbolo de promoção do homossexualismo, que para ele trata-se de uma doença. Seguindo esse raciocínio não será nenhuma novidade que em breve se proponham leis proibindo de se vestir vermelho nas escolas por se tratar de um símbolo de promoção do comunismo.

Ora, que o nobre vereador tenha uma visão atrasada a cerca de determinadas questões da sociedade tudo bem. O problema é quando essa visão é acatada pelo Estado, e imposta para a sociedade como um todo. E foi justamente isso que aconteceu em Palmas com a decisão da gestão Cynthia Ribeiro (PSDB) de atender a demanda do vereador homofobico. E para piorar se justificar dizendo que não sabia do argumento homofobico que fundamentou a decisão da câmara de Vereadores. Ora que tipo de gestor é esse que sanciona um projeto sem se inteirar do seu conteúdo?!

Algumas questões chama atenção nesse episodio e não é a mudança de nome da referida escola. Até porque não é um fato incomum a mudança de nome de espaços públicos, inclusive sendo essas mudanças proposta por vereadores. 

O que chama atenção, em primeiro lugar, foi à forma com que a mudança se deu – em nenhum momento a comunidade escolar e a sociedade como um todo teve o direito de participar dessa discussão através de audiências públicas. Em segundo lugar o discurso de ódio que fundamenta tal decisão – discurso que alimenta os números crescentes de violência contra a comunidade LGBTT´s no Tocantins. E em terceiro, não poderíamos deixar de ressaltar a paranoia dos representantes dos setores conservadores que defendem projetos como “Escola sem partido”, que veem chifres até em cabeça de cavalos. E enxergam por todas as partes os doutrinadores da “ideologia de gênero” – ainda que esta só exista nas suas cabeças.

Para concluir, conhecendo bem estes senhores que nada fazem no parlamento a não ser “ensacar fumaça”. Não é de se admirar que seja aprovada em breve uma lei nos legislativos tocantinenses proibindo o arco-íris de se manifestar na natureza. Pois depois desta ultima do vereador Felipe Martins (PSC), só faltava essa não é mesmo?!

Pedro Ferreira Nunes - É educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Breve reflexão sobre o resultado das eleições suplementares para Governador do Tocantins

* Por Pedro Ferreira Nunes

Como é de praxe após o processo eleitoral começam as analises a cerca do recado dado pela população através do resultado revelado pelas urnas. Alguns comemoram outros lamentam. Algumas expectativas se confirmam outras são frustradas. Como sempre há questionamentos sobre o que apontava algumas pesquisas eleitorais e se discute a cerca da legitimidade destas. Por fim, sobram nas redes sociais os frustrados – tanto da esquerda como da direita – com a clássica acusação contra o povo. Mas se sobra desabafo, falta o essencial – autocritica. Também falta um mínimo de analise para que não se crie falsas ilusões e assim não se frustre diante de um resultado que já era o esperado.  

Maioria do eleitorado ignora ou dá voto de protesto no processo eleitoral

O alto índice de abstenção, de votos em branco e nulos nas eleições suplementares para o governo do Tocantins já era esperado. De modo que os números revelados após a votação no domingo (03/06) só confirmaram essa tendência. Segundo dados da justiça eleitoral foram 43,54% do eleitorado que se absteve, votou em branco ou anulou o voto. Por que isso ocorreu? Qual o recado que podemos tirar desses números? 

Não existe apenas um motivo como também não podemos tirar apenas uma única conclusão desses números. Até porque abstenção, votos em branco e votos nulos tem significados diferentes. Por exemplo, o voto nulo é mais um voto de protesto contra o sistema. Já o voto em branco e as abstenções pode significar uma frustração momentânea ou desinformação. O que isso significa? Que os votos em branco e abstenções podem se reverter nas próximas disputas. Já o nulo dificilmente será revertido.

Porém, não dá para olhar para esses números e não pensar a cerca da necessidade de uma verdadeira reforma política para mudar esse sistema eleitoral que a cada dia se mostra sem credibilidade junto à população. Talvez esse seja o principal recado dado pelos eleitores tocantinenses.

Sem grandes surpresas

Não houve grandes surpresas no resultado do primeiro turno das eleições complementares para o governo do Tocantins. Pois se confirmou a expectativa de que a disputa ficasse entre Vicentinho (PR) Kátia Abreu (PDT) Amastha (PSB) e Carlesse (PHS). Ao final sobrou Vicentinho (PR) e Carlesse (PHS) para disputar pela primeira vez na história uma eleição de segundo turno para governador do Tocantins. Uma questão importante é que tanto Mauro Carlesse como Vicentinho desbancaram nomes que há muito tempo estava trabalhando suas candidaturas ao governo.

Carlesse inclusive foi o mais votado reafirmando o peso da maquina pública no processo eleitoral e o apoio de figuras tradicionais como o deputado federal Carlos Gaguim e do Velho Siqueira Campos. Já Vicentinho foi à prova da força do interior no processo eleitoral – Não ganhou nos grandes centros, inclusive sua cidade – Porto Nacional. Mas teve maior capilaridade no Estado como um todo. E assim desbancou Carlos Amastha que teve uma votação expressiva nas grandes cidades, especialmente Palmas e Araguaína. 

Kátia Abreu (PDT) foi sem duvida a grande decepção. Ela que aparecia em algumas pesquisas na liderança amargou uma quarta posição. Já a surpresa ficou por conta da votação expressiva de Marlon Reis (REDE). Mesmo que ficando bem distante da possibilidade de disputar um segundo turno não se dá para ignorar a relevância de ter se alcançado 9% do eleitorado. Sobretudo se compararmos a estrutura do candidato da REDE em relação, por exemplo, a senadora do PDT. Aliás, nos grandes centros Marlon Reis conseguiu ficar a frente de candidaturas de políticos tradicionais do Estado como dos dois senadores na disputa (Kátia Abreu e Vicentinho). Já Mário Lúcio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) conseguiram alcançar justamente o resultado que era previsto.

O Segundo turno

Veremos novamente um embate entre os dois grupos mais tradicionais da política tocantinense. Isto é, o embate entre MDB e Siqueiristas – ainda que os lideres destes grupos estejam nos bastidores como no caso do MDB apoiando e dando sustentação política no interior para o senador Vicentinho (PR) e o Velho Siqueira Campos apoiando com veemência a eleição de Carlesse. 

Desse modo aqueles que dizem que a política tradicional venceu mais uma vez tem toda razão. Pois por mais que tentem esconder esses cabos eleitorais indesejáveis o fato é que estas figuras estão na suas bases de apoio. Por exemplo, foi emblemática a imagem do deputado mais medíocre da história do Tocantins – Carlos Gaguim – comemorando com Carlesse a ida para o segundo turno.

Para finalizar

Quais as conclusões que podemos tirar desse processo eleitoral? É possível ter uma conclusão que sirva de parâmetro para os próximos processos que teremos pela frente? Especialmente o de outubro. A primeira questão é entender que a realidade é dinâmica e que a conjuntura pode mudar de uma hora para outra – de modo que não se pode decretar desde já que em outubro se repetirá o mesmo resultado de agora. Será uma eleição completamente diferente dessa e candidatos que foram derrotados agora no primeiro turno tem grandes chances na disputa. Sobretudo por que ouso cravar, não teremos o mesmo número de abstenções e votos em branco.

No entanto não podemos negar algumas tristes conclusões – o peso da maquina pública no processo eleitoral e a hegemonia de grupos tradicionais na política tocantinense – ainda que transvertidos de novos. O que persistirá nos próximos pleitos eleitorais. Outra questão importante é à força do interior no processo eleitoral – uma questão que já algum tempo temos chamado atenção. Se algum candidato quiser de fato se eleger não pode contar apenas com os votos dos grandes centros, tem que interiorizar seu programa também. 

Por fim, não poderia deixar de escrever algumas palavras sobre a esquerda. No Tocantins a esquerda tem que caminhar muito ainda para que se apresente como uma alternativa ao eleitorado. Ora, não basta um nome bom se esse nome não é construído pela base. Aliás, que base? Antes de pensar em se tornar uma força relevante no cenário politico regional precisamos criar uma base. Cadê o trabalho de base que estamos fazendo nas organizações dos trabalhadores? Junto aos Operários, Sem terra, Sem tetos, Pescadores, Indígenas, Quilombolas e Estudantes. Cadê os núcleos de base? Os cursos de formação? Aparecer com um candidato apenas no período eleitoral e se ausentar das lutas dos trabalhadores no cotidiano é repetir os que os partidos da ordem fazem. A esquerda precisa jogar suas forças na construção de uma frente de luta contra o modelo hegemônico de avanço do capitalismo se quiser se tornar uma força relevante no Tocantins. E ai quem sabe não terá um melhor desempenho nas urnas.

"Há uma infinidade de homens porque tanto a classe operária quanto setores cada vez mais variados da sociedade fornecem, todos os anos, um número sempre maior de descontentes, que querem protestar, que estão dispostos a cooperar naquilo que puderem... Mas ao mesmo tempo, não há homens, por que não há dirigentes, não há lideranças políticas, não há talentos organizadores capazes de articular um trabalho simultaneamente amplo e unificado, coordenado, que permita utilizar todas as forças, mesmo as mais insignificantes..." 
Lênin, O que fazer?!

*Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Algumas questões sobre as eleições suplementares no Tocantins

- É verdade que já vai ocorrer à eleição para governador?
 – Sim, é verdade. Está marcada para o próximo domingo (03/06). 
– Nossa, mais já?! E todo mundo tem que votar? Quem são mesmo os candidatos? 

São algumas questões que escutei recentemente e que mostram o quanto parte significativa da população tocantinense está alheia ao processo eleitoral em curso no Tocantins para escolha do governo tampão que comandará o estado até o final de 2018. E isso deixa totalmente em aberto a disputa – só saberemos quem será eleito no domingo quando as urnas forem abertas.

Porém nos cabe questionar o porquê da população esta tão alheia a esse processo eleitoral? De acordo com Desidério Murcho (2010) para a generalidade das pessoas um interesse intenso pela vida política só faz sentido quando o conforto da sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada. O que é o reflexo de uma sociedade em que cada vez mais nos movemos por necessidades individuais e perdemos de vista o coletivo. O que para Murcho significa o fim da política, pelo menos no seu sentido clássico.

Se analisarmos a situação no Tocantins percebemos que a generalidade das pessoas não acredita que independente de quem seja eleito a sua qualidade de vida melhorará. Até por que os exemplos recentes não são animadores. E os que se engajaram na campanha são justamente aqueles que têm algum conforto através de um cargo comissionado e que buscam conservar. Diante disso podemos afirmar que um dos motivos que leva a população tocantinense a estar alheia a este processo eleitoral é o desencanto com a politica como um instrumento que sirva para melhorar suas vidas.

Outro fator é que as candidaturas postas ao governo estadual não conseguiram empolgar a população a ponto de fazê-la se envolver no processo. O que pode ser explicado pelo fato de que os candidatos não queiram jogar muito peso numa eleição para um mandato tampão. Ainda que o eleito agora largará em vantagem para as eleições de outubro. Veja o exemplo de Mauro Carlesse (PHS) se ele não houvesse assumido interinamente o governo do Tocantins e sem a máquina pública a sua candidatura se quer sobreviveria. Mas com a caneta na mão e o poder de nomear as coisas mudaram e o seu nome esta no páreo. 

Diante disso, como já falamos em outro artigo, a disputa agora é mais para ter a máquina pública na mão para obter vantagens e apoio político na campanha regular das eleições de outubro do que propriamente para implementar as promessas mirabolantes que apresentam em suas propagandas. Ora se num mandato de quatro anos dificilmente fariam o que estão prometendo, imagine num mandato de 6 meses mais ou menos. E ai está outro fator que desencanta a população.

Além de Mauro Carlesse (PHS) outros nomes que também aparecem bem na disputa são dos Senadores Kátia Abreu (PDT) e Vicentinho Alves (PR) além do ex-prefeito da capital Carlos Amastha (PSB). E é entre esses quatro que será eleito o novo governador ou governadora do Tocantins. Já que os outros três candidatos – Marlon Reis (REDE) Mário Lucio Avelar (PSOL) e Marcos Souza (PRTB) não tem nenhuma condição de serem eleitos. Não por falta de competência, mas tanto pela questão estrutural que ainda pesa muito numa campanha eleitoral como também pelas raízes oligarcas que ainda dominam fortemente a política, sobretudo no interior do Tocantins. E é justamente essas raízes oligarcas que colocam Vicentinho Alves e Kátia Abreu em vantagem em relação aos demais.

A força do senador Vicentinho Alves (PR) vem da base herdada do governo Marcelo Miranda (PMDB), sobretudo depois que o principal partido politico do Estado – PMDB – decidiu não lançar candidato próprio. Além do fato de que o PR sob o comando do senador Vicentinho Alves foi um dos partidos que mais cresceu no Tocantins, tendo uma forte raiz interiorana. Ao contrário de Vicentinho, Kátia Abreu não tem uma estrutura partidária forte, mas apesar dos desgastes e da moderação no discurso, continua sendo a principal liderança ruralista do Tocantins – e num estado em que a força do agronegócio é decisiva não é de se admirar que ela tenha um bom desempenho nas urnas. Porém o que tem sido decisivo para que ela figure como uma das favoritas é a fragmentação dos votos em várias candidaturas.

Contra essas duas figuras tradicionais da política tocantinense surgem Amastha (PSB) e Carlesse (PHS) defensores da lógica empresarial no serviço público, mas sem romper com a política tradicional. Os outros três candidatos, Mario Lúcio Avelar (PSOL) está no campo da esquerda – que não tem tradição no Tocantins e nem uma militância orgânica. Já Marlon Reis (REDE) apresenta um discurso bem liberal na mesma linha do candidato do PRTB – Marcos Souza – com foco no combate à corrupção. Aliás, a principal bandeira de Marlon Reis é o combate à corrupção. Nessa linha ele não tem poupado em se utilizar do fato de ter sido o autor do projeto da “Ficha limpa”.

No entanto não é apenas Marlon Reis (REDE) que tem focado o seu discurso no combate à corrupção. Todos os sete candidatos, sem exceção, dizem que a corrupção é o principal entreva para o desenvolvimento do Tocantins, e que, portanto será combatida nos seus governos. Porém, esquecem-se de dizer que ajudaram a eleger governos corruptos ou que estão respondendo por corrupção junto a justiça. Mas isso são detalhes, não é mesmo?! O que importa numa campanha eleitoral é dizer o que a população quer ouvir. 

Além do combate a corrução nenhuma candidatura tem tocado num ponto central que é o avanço de um modelo hegemônico de usurpação dos recursos naturais, destruição do meio ambiente, avanço da monocultura, do uso abusivo de agrotóxico, da utilização de mão de obra escravizada e da violência no campo. O que mostra que nenhum candidato, especialmente os quatros principais, tem a pretensão de fazer mudanças estruturais, se forem eleitos. Até por que os interesses que defendem são os mesmos – os interesses da burguesia agrária. Já os operários, camponeses pobres e os povos tradicionais que é a maioria da população tocantinense, que não esperem nada diferente do que temos hoje. Pois “Não vai mudar, vai ficar bem pior do que está. Mas é inútil dizer, se ninguém que saber...”

Pedro Ferreira Nunes - É Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

3º Jornada Filosófica da UFT debaterá Os 50 Anos do Maio de 1968, a Conjuntura Política Atual no País, os 200 anos de natalício de Karl Marx entre outras temáticas filosóficas.

Inicia nesta quarta-feira (23/05) e vai até sexta-feira (25/05) a terceira edição da Jornada Filosófica da Universidade Federal do Tocantins embalada pela memória dos 50 anos do Maio de 1968 e pelos 200 anos de Natalício do Filósofo alemão Karl Marx. Importantes acontecimentos que serão abordados em minicursos e comunicações. Além da discussão sobre a conjuntura política atual no Brasil entre outros temas filosóficos.

No primeiro dia (quarta-feira, 23/05) terá dois minicursos: A Influência de Herbert Marcuse nos Acontecimentos de Maio de 1968. Que será ministrado pelos Professores Paulo Sérgio Soares e André Francisco Freire Monteiro. E Republicanismo e Liberalismo: Um debate em torno da Liberdade Negativa e Liberdade Positiva. Que será Ministrado pelo Professor Marco Aurélio Cardoso. Ambos começaram a partir das 14h30 e vão até ás 18h. O local será o Bloco J, Salas 104 e 105 respectivamente. 

Já a partir das 19h após uma apresentação cultural terá a Mesa de Abertura com a discussão sobre O Golpe de 2016 e a onda conservadora no Brasil. Com os professores Roberto Amaral, Juliana Santana, José Soares e Gustavo Ferreira. Evento que ocorrerá no Bloco D (Anfiteatro) sala 05.

No dia 24 (quinta-feira) a programação continua a partir das 14h30 com o Minicurso Introdução à Teoria Critica com os professores Oneide Perius e Fabio Caires. E com a Oficina de Conceitos – Relatos de Experiências com os estudantes do Mestrado Profissional de Filosofia (PRO-FILO).  O local será o Bloco J, nas Salas 104 e 105 respectivamente. 

No período noturno, a partir dás 19h terá as mesas de comunicações sobre Fundamentos de Ética dos estudantes do curso de graduação em Filosofia e o primeiro dia do Minicurso Leia essa canção com os professores Roberto Amaral e Juliana Santana. O local será o Bloco D (Anfiteatro) nas Salas 04 e 05.

Dia 25 será o ultimo dia da 3º Jornada Filosófica da UFT (sexta-feira) e contará com o minicurso sobre Conhecimento e Sensação no Pensamento de Condillac que será ministrado pela professora Elizângela Inocêncio Mattos. E com a continuidade da Oficina de Conceitos – Relatos de Experiências dos estudantes do Mestrado Profissional de Filosofia (PRO-FILO).  Ambos começaram a partir das 14h30 e vão até ás 18h. O local será o Bloco J, Salas 104 e 105 respectivamente.   Já no período noturno terá o fechamento do minicurso Leia essa canção. E as mesas de Comunicações dos estudantes da graduação em Filosofia encerrando a 3º Jornada Filosófica da UFT. 

O evento faz parte do calendário bimestral do curso de Filosofia e vem se constituindo como o principal espaço de discussão política e acadêmica de Filosofia no Tocantins. Nessa edição a organização da jornada filosófica é dos próprios estudantes tendo o Centro Acadêmico Prof. José Manoel Miranda (CAFIL) à frente.

De acordo com a equipe de organização “apesar de ser um evento recente, já é sem dúvidas o principal espaço de divulgação e discussão da produção acadêmica em filosofia no Estado do Tocantins”. Os organizadores também justificam a importância do evento da seguinte forma: 

"O primeiro ponto é a necessidade de fortalecer e incentivar a produção acadêmica das e dos estudantes de Filosofia não só da Universidade Federal do Tocantins, mas do Estado como um todo. Outro ponto é a necessidade de se criar espaços para que essa produção acadêmica dos graduandos possa ser compartilhada com a comunidade acadêmica em geral. E assim não fique restrita apenas a sala de aula. Um terceiro ponto é que eventos dessa natureza contribuem para uma formação mais integralizadora das e dos estudantes. Que inclusive se sentiram mais confiantes para apresentar seus trabalhos em eventos acadêmicos Brasil afora. Por fim, a jornada filosófica é sem dúvidas um evento que fortalece o curso de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e mostra a importância da Filosofia para pensarmos o contexto regional, especialmente no âmbito educacional".

Diante disso convidamos a comunidade acadêmica e a sociedade tocantinense em geral a participar desse importante evento – que traz questões importantes e tão necessárias de serem debatidas no momento atual que vivemos.

Por Pedro Ferreira Nunes – Graduando em Filosofia da Universidade Federal do Tocantins e da Coordenação Geral do CAFIL Prof. José Manoel Miranda.