sexta-feira, 5 de abril de 2024

As eleições municipais e a força do discurso conservador em Palmas

Os levantamentos acerca da intenção de votos para eleição do novo gestor ou gestora á frente da Prefeitura Municipal de Palmas apontam até agora a força da deputada Estadual Janad Valcari do Partido Liberal (PL). De onde vem essa força? Sobretudo pensando no fato de que estamos falando de uma personalidade que não tem uma tradição na política tocantinense.

Valcari está apenas no seu primeiro mandato como Deputada Estadual na Assembléia Legislativa. E anteriormente havia sido eleita para um primeiro mandato na Câmara de Vereadores da Capital – onde fora alçada para presidência da casa de leis e ganhou destaque se opondo a gestão da Prefeita Cíntia Ribeiro. Mas muito pouco se compararmos há alguns nomes com uma tradição maior na política palmense – como o Eduardo Siqueira Campos, Júnior Geo ou Carlos Amastha.

É óbvio que ainda há muito jogo até o dia da votação. Poderíamos dizer que, comparando com o futebol, os atletas ainda estão no aquecimento. Muitos nem sabe se vão jogar. Mas esse não é o caso de Janad Valcari que já se coloca como à favorita. 

Se é fato que favoristimo não ganha eleição, assim como não ganha jogo, tem lá a suas vantagens. Como por exemplo, articular mais apoio e uma maior estrutura para fazer a campanha. Óbvio,  que estamos falando de uma capital e eleitor da capital muitas vezes nos surpreende. Palmas mesmo tem na sua história momentos assim. No entanto, a cidade parece ter dado uma guinada conservadora pelo competente trabalho de base das igrejas neopentecostais nas periferias. E creio que é ai que se explica a força de Janad Valcari.

À relação entre religião e política não é uma novidade no cenário político da capital. Mas isso acabou ganhando contornos extremos a partir do fenômeno Bolsonaro. As igrejas neopentecostais foram transformadas em comitês de campanha e o reflexo desse movimento foi a votação do Bolsonaro (enquanto Lula obteve 39,68% dos votos do eleitor palmense no 2° turno, Bolsonaro alcançou 60,32%) e de candidatos aliados a sua figura, entre eles Valcari que foi a deputada mais bem votada com mais de 4 mil votos de diferença para o 2° colocado. Para Câmara dos deputados os dois candidato mais votados também foram do PL e ligados a igrejas neopentecostais – Filipe Martins e Eli Borges.

Confesso que me surpreendi com os números das eleições de 2022 em Palmas. Por ser uma capital esperava uma postura mais progressista da parte do eleitorado. Mas agora, vivendo na periferia da cidade, compreendo totalmente esses números. E quem decide a eleição em Palmas é a periferia. Assim como, no Estado quem decide é o interior.

Janad Valcari compreendeu esse movimento e é daí que vem sua força política. Ainda que do ponto de vista ideológico ela tenha uma linha mais liberal do que conservadora, ao contrário dos seus correligionários, Filipe e Eli. Isso a torna uma figura palatável para outros setores. Ou seja, é um nome com maior capacidade de atrair diferentes grupos políticos. No entanto, não há dúvida que ela vai buscar surfar na força que o bolsonarismo tem na capital.

Conscientes desse cenário, há não ser que tivéssemos um candidato da esquerda revolucionária, seus adversários também não irão se comportar de forma diferente. Ou seja, vão flertar com o conservadorismo para atrair o voto dos evangélicos. Nesse sentido um aspecto preocupante é a imposição de um pensamento único - e se há um pensamento único não se vislumbra mudanças qualitativas.

O discurso conservador tem se caracterizado pela disseminação do ódio e consequemente de negação dos direitos humanos para determinados setores da sociedade. E no caso que tenho observado na periferia de Palmas é que esse discurso está sendo assimilado pelas maiores vítimas dessa lógica. E infelizmente não há perspectiva de mudança a curto e médio prazo. Sobretudo, dependendo de quem será eleito nas eleições municipais.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Educação.


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