quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Soube que você irá votar no Bolsonaro

Decerto nasceu em berço de ouro,
herdou uma grande herança.
Ou é um banqueiro,
um empresário,
um latifundiário.
De modo que você não precisa:
se preocupar com salario mínimo,
décimo terceiro,
férias,
aposentadoria.
Não precisa do SUS,
pois pode,
pagar um plano de saúde privado.
Não precisa de universidade pública,
pois pode muito bem
estudar na Europa.
Aliás, pra quer estudar né?!
Se você tem um líder
que lhe diz o que precisa saber.
É homem,
branco,
hétero.
E cristão (ainda que só no discurso).
Se esse for o seu caso,
não ti tiro a razão.
Deve de fato
votar no Bolsonaro.
Mas se for o contrário,
há algo de muito errado,
com você.

Pedro Ferreira Nunes – é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.

(*Inspirado livremente no poema “Soube que vocês nada querem aprender” do Bertold Brecht)

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Perfil de um eleitor do Bolsonaro numa pequena cidade do interior do Tocantins

Geralmente o eleitor do Bolsonaro se caracteriza por um discurso moral, sobretudo em torno do slogan “Em defesa de Deus e dos valores da família”. O nosso personagem não é diferente. Não revelarei seu nome para evitar maiores problemas, mas como os fatos que relatarei não é segredo por essas bandas não será difícil encontrar testemunhas que comprove não se tratar de um personagem fictício. É interessante conhecermos o seu perfil, sobretudo para compreendermos o discurso moral e o fundamental – a sua dimensão ética. 

Nossa figura é homem, de origem negra, hétero e evangélico protestante. Veio das bandas do Maranhão para trabalhar na Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães. Aproveitando o “boom” de crescimento da cidade com a vinda de operários de vários cantos do país para trabalhar na obra decidiu se aventurar no comercio e prosperou. Tornou-se, portanto um cidadão “modelo” e “respeitado” na cidade. Tornou-se inclusive um líder religioso admirado a nível regional – com programa na rádio local – onde todas as manhãs pregava “a palavra de Deus” as famílias. A partir dai não é de se admirar que se tornasse um líder político – elegendo-se vereador do município.

Como se vê não estamos diante de uma figura qualquer – é o retrato fiel de “um cidadão de bem” defensor de “Deus e dos valores da família”. E foi em nome desses valores que ele traiu sua esposa e fugiu com a cunhada. Mas tudo bem, ele se arrependeu, voltou e ela o aceitou. A segunda traição foi com a nora. E depois dessa o casamento chegou ao fim. Assim como o programa na Rádio, pois foi de mais até mesmo para comunidade evangélica tê-lo como porta voz. Para completar a Policia Federal bateu na sua porta para investigar “um esquema de doação de lotes em troca de apoio político”. O que acabou culminando com a sua não reeleição para a Câmara de Vereadores.

Porém nada disso impede que ele continue pregando pelos quatro cantos “a palavra de Deus” e “os valores da família”. Defendendo e sendo um dos principais cabos eleitorais da figura que promete moralizar o Brasil – livrando-nos da má influencia comunista. Como se os comunistas tivessem alguma relevância significativa hoje na sociedade. Ainda mais no interior do Tocantins. Ora, esses “valores morais” que ele diz defender não passa de discurso. Pois na realidade ele faz justamente o contrário daquilo que prega. 

É uma grande incoerência não?! Na verdade não. Ele segue exatamente a linha do seu líder – Bolsonaro – que se caracteriza pela seguinte máxima: - faça o que eu digo, não o que eu faço. É a partir dai, portanto, que podemos compreender o discurso moral do senhor Bolsonaro e principalmente daqueles que o seguem – como é o caso do nosso personagem. Um discurso que na prática se torna moralismo – que se caracteriza pela “supervalorização de uma moral tradicional”. (Marcondes, 2002)

O filósofo espanhol Adolfo Sánchez Vásquez (2006) diz que os homens “em seu comportamento prático-moral, não somente cumprem determinados atos, como, ademais, jul¬gam ou avaliam os mesmos; isto é, formulam juízos de aprova¬ção ou de reprovação deles e se sujeitam consciente e livremente a certas normas ou regras de ação”. Não é o caso do nosso personagem, que não julga ou avalia seus atos, mas o que os outros fazem. Para ele o problema está sempre no outro e não em si mesmo. Minha mãe tem um ditado interiorano sensacional que explica isso que é: “macaco não olha pro rabo, só pro toco da cotia”. Traduzindo: em vez de olhar para os nossos defeitos, preferimos apontar o dedo para o defeito dos outros.

Diante disso e a luz do que nos diz Adolfo Sánchez Vásquez, podemos dizer que não existe uma dimensão ética no discurso moral do nosso personagem. Para Vásquez (2006) “a ética , quando trata de definir o que é bom, recusa reduzi-lo àquilo que satisfaz meu interesse pessoal, exclusivo” com isso “evidentemente influirá na prática moral ao rejeitar um comportamento egoista como moralmente valido”. É justamente o contrário do que vemos em marcha no Brasil – onde sobra moralismo e falta ética – e o nosso personagem assim como o seu candidato é apenas um dos muitos exemplos.

Pedro Ferreira Nunes – é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Prorrogada até 10 de novembro a chamada de inscrição de trabalhos para serem apresentados na V Semana Intercurso de Filosofia e Teatro e IV Jornada Filosófica da UFT

Estão prorrogadas  até o dia 10 de novembro  as inscrições
para apresentação de trabalhos na V Semana Intercurso de Filosofia e Teatro e IV Jornada Filosófica da UFT. Os eventos ocorreram entre 26 e 30 de Novembro de 2018 – na UFT Campus Palmas. E como temática a semana intercursos abordará a questão da “ARTE, POLÍTICA, HOJE” e a jornada filosófica “A SOLIDÃO NO SÉCULO XXI”.

Das regras para inscrição dos trabalhos

No caso de Comunicações deverá ser enviado um
arquivo doc ou docx com o nome do autor e coautor (se tiver), o título da comunicação e também um breve resumo que deverá ter no máximo 250 palavras. Já para Minicursos deverá ser enviado o nome do autor e coautor (se tiver), o título do minicurso e a proposta de conteúdo.

Em relação à apresentação das comunicações, se darão em mesas temáticas e cada autor e coautor (se tiver), disporá de 15 (quinze) minutos para apresentação. Em seguida haverá 5 minutos para debate em cada trabalho.

As inscrições deverão ser feitas exclusivamente pelos e-mails (no caso da IV Jornada Filosófica o e-mail é: uft.cafil@gmail.com. E na V Semana Intercursos de Filosofia e Teatro é: inscricaotrabalhofilosofiauft@gmail.com).

Todas as propostas recebidas serão avaliadas por uma comissão que enviará um e-mail confirmando os trabalhos aprovados.

Da organização

A semana intercurso de Filosofia e Teatro é uma realização conjunta dos colegiados dos cursos de licenciatura em Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins. O Evento que ocorre anualmente e já caminha para sua quinta edição. A jornada filosófica que acontece semestralmente, a partir da sua terceira edição passou a ter a organização a cargo do Centro Acadêmico Professor José Manoel Miranda – CAFIL.

A importância dos eventos

Tanto a semana intercurso de Filosofia e Teatro como a Jornada Filosófica são espaços importantes de promoção do intercâmbio acadêmico das e dos estudantes de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins e de outras instituições. E da discussão de temas relacionados à educação em geral, e no campo da filosofia e do teatro em particular, através da realização de palestras, minicursos e apresentação de trabalhos.

De modo que fica o convite para todas e todos participarem desses eventos, que pautaram temáticas importantes, sobretudo no contexto atual brasileiro.

Pedro Ferreira Nunes
Pela Coordenação Geral do Centro Acadêmico Professor José Manoel Miranda – CAFIL/Gestão Despertar é preciso!

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Breve reflexão sobre as eleições no Tocantins: A derrota.

A maior derrota no processo eleitoral no Tocantins não foi de Carlos Amastha (PSB) que não conseguiu levar a disputa pelo governo do Estado ao segundo turno. Também não foi de Vicentinho que se destacava nas pesquisas como o favorito para ocupar uma das duas vagas ao senado. Ou da esquerda representada pela candidatura do PSOL que não conseguiu se quer alcançar o voto de 1% do eleitorado. Sem dúvida a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Por quê? Vejamos.

De todos os candidatos que se apresentavam para disputa ao Palácio Araguaia, Marlon Reis era a novidade. Afinal de contas, oriundo do judiciário, seria a primeira vez que disputaria um cargo eletivo. E apostando na possibilidade de crescimento diante do desgaste de representantes da política tradicional no Tocantins ele se lançou. No entanto nós já alertávamos para o fato de que “se fosse uma eleição municipal numa disputa pela prefeitura da capital ou de uma grande cidade do interior como Araguaína, Gurupi, Porto Nacional ou Paraiso. Sem duvidas Marlon Reis seria um nome com condições reais de pelo menos incomodar”. Mas também pontuamos que sua candidatura poderia “desempenhar um papel importante” tanto pelo fato de qualificaria o debate bem como apontaria “formas alternativas de fazer política”. (CONJUNTURA POLÍTICA NO TOCANTINS, 2018).

Veio então à eleição suplementar e Reis surpreendeu com uma votação expressiva alcançando quase 10% do eleitorado (56 mil votos). E a surpresa maior foi ter conseguido derrotar candidaturas tradicionais em vários colégios eleitorais – isso sem aliança com grandes partidos, sem tempo de TV e pouca estrutura. De modo que Marlon Reis saia fortalecido do processo eleitoral suplementar – inclusive mais fortalecido que nomes que haviam ficado a sua frente na disputa. O que fez com que ele e seu grupo político logo passassem a vislumbrar algo maior nas eleições regulares.

Até ai tudo bem. De fato o resultado apontava que havia espaço para construção de uma terceira via. Mas o problema é quando Marlon Reis e seu grupo político na busca por alçar voos maiores se alia a grupos da política tradicional tocantinense. Com isso ele ganha mais tempo de TV e maior estrutura. Mas perde aquilo que fazia de sua candidatura uma novidade – autonomia das grandes legendas e uma forma alternativa de fazer política. Perde também a credibilidade diante do eleitorado que passa a vê-lo como mais do mesmo. É o que reflete a sua votação na eleição regular que alcançou apenas 6,68% do eleitorado (47.046). Como se vê, de 56 mil nas eleições suplementares, que inclusive foi mais disputada que a eleição regular e teve menos votantes, o candidato da Rede caiu para pouco mais de 47 mil votos.

Mas a grande derrota de Marlon Reis, não foi ter tirado menos voto e não ter sido eleito. Isso era previsível. A sua derrota foi ter abrido mão dos princípios que dizia defender. Se mantivesse a coerência construiria uma base solida para as próximas disputas eleitorais. Já que a base que se formou em torno da sua candidatura foi única e exclusivamente por oportunismo. Muitos dos partidos que se aliaram com o candidato da Rede só o fizeram por que tiveram as portas fechadas nas coligações comandadas por Carlesse e Amastha.

Marlon Reis foi um tanto ingênuo ao achar que podia contar com o engajamento dos grupos da politica tradicional em torno da sua candidatura – estes quase sempre estavam em palanques dos seus adversários. E assim, em vez de usa-los, Marlon Reis foi usado por eles, e bem usado. Pois afinal de contas à coligação encabeçada por Marlon Reis elegeu o senador Irajá Abreu (PSD) além de deputados federais e estaduais. Porém nenhum é da Rede Sustentabilidade – que sai da eleição como entrou, sem nenhum representante no parlamento.

E como esses que foram eleitos na chapa encabeçada por Marlon Reis não tem uma aliança programática com a Rede Sustentabilidade. É óbvio que mudaram de lado – irão para o lado de quem está com a máquina pública na mão.

É diante de tudo isso que para nós fica evidente que a maior derrota dessas eleições é de Marlon Reis da Rede Sustentabilidade. Pois no final das contas mesmo sendo derrotado – Carlos Amastha conseguiu uma votação expressiva, inclusive aumentado a sua votação em relação à eleição suplementar. A derrota de Vicentinho também não foi a pior dessas eleições. Afinal de contas desde o inicio do pleito apontávamos que a disputa pelas duas vagas do senado seria a mais concorrida da história do Tocantins.  Não dá para negar que surpreendeu muita gente, inclusive as pesquisas. Porém se olharmos para o cenário nacional perceberemos que Vicentinho não foi o único cacique da política a perder o mandato no senado nacional. Já quanto à votação do PSOL, também não vemos como uma derrota – derrota seria não ter uma candidatura própria e se aliar com um partido da ordem – como defendiam alguns no PSOL Tocantins.

Sendo assim é de fato Marlon Reis e seu grupo político que saem com a maior derrota e a grande frustração dessas eleições no Tocantins. Resta saber se terão força para tentar reverter essa derrota nas disputas eleitorais futuras – uma tarefa que não é impossível. Afinal de contas em política os derrotados de hoje, poderão ser os vencedores de amanhã. Para tanto é preciso tirar lições das derrotas para não repeti-las. Se estão dispostos a isso, saberemos futuramente.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio. Cursou a faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Resenha: “Marx: Vida e Obra” por Leandro Konder

“Marx elaborou as bases de uma vasta concepção do homem e do mundo. Por força das condições em que viveu e em virtude da urgência das tarefas que se impôs, não pode desenvolver suas idéias no que concerne aos diversos planos da atividade humana: concentrou-se nos exame dos problemas econômicos, sociais e políticos.”
Leandro Konder

Nesse ano em que se celebra os 200 anos do natalício de Karl Marx têm sido publicado várias livros que resgatam a sua trajetória de vida bem como a relevância das suas obras. Porém não falaremos aqui de uma dessas novidades. Mas de um livro que já foi publicado há certo tempo – a primeira edição data de 1968. Trata-se de “Marx: Vida e Obra” escrito pelo filósofo Leandro Konder. A edição da qual falaremos é a 7ª publicada pela editora “Paz e Terra” em 1999.

Comecemos, pois falando do autor do livro – Leandro Konder – sem dúvidas uma das referencias filosóficas na América Latina nos estudos Marxianos e Marxistas. Leandro Konder Nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1936 numa família envolvida com a militância política. Inclusive seu pai – o médico Valério Konder – era líder comunista. Leandro Konder por sua vez formou-se em Direito, mas foi na Filosofia, onde doutorou-se, que digamos, ele se encontrou. Dedicou boa parte da vida a militância política e a docência e é a partir daí que surgiram suas obras. Entre elas podemos destacar: “Marxismo e alienação”, “O que é dialética”, “O marxismo na batalha das ideias”, “O futuro da filosofia da práxis”, “A questão da ideologia” e “Sobre o amor”.

 “Marx: Vida e Obra” é dividido por tópicos que são desenvolvidos de forma breve. Ele parte do “Nascimento” de Karl Marx em “Tréves, no sul da Prússia Renana, região situada hoje na Alemanha” (pag. 11). Passando pela “infância”, a relação com sua companheira de toda a vida – “Jenny”. A vida universitária, a atividade como jornalista, a amizade e parceria com “Engels”. O seu desenvolvimento intelectual, a militância política, as “polêmicas” travadas com tudo e todos. As perseguições que sofrerá fazendo com que “mudasse mais de país do que de sapatos” como diria Brecht. A miséria permanente, as perdas sofridas, enfim a “morte” e o seu legado.

E no meio de todas essas questões Leandro Konder vai introduzindo os principais conceitos marxianos e o contexto em que foram elaborados. Por exemplo, “Alienação”, “Dialética”, “Materialismo”, “Prática”, “Mais-Valia” entre outros. Tudo numa escrita bem objetiva – no intuito apenas de introduzir Marx aqueles que não o conhecem, mas querem se aventurar nos estudos da sua obra. Konder acerta na medida, sobretudo ao deixar aquele gosto de “quero mais”. E isso leva o leitor a ir buscar outras leituras, especialmente do próprio Karl Marx.

Para se ter uma ideia como ele desenvolve isso vejamos um trecho do livro no tópico sobre a polêmica que ele trava com “Proudhon”, polêmica da qual teve como fruto a obra “A miséria da Filosofia” em resposta “A filosofia da miséria” de Proudhon.

"Proudhon condenava a filosofia dos que procuravam explorar a miséria dos trabalhadores, conduzindo-os por caminhos revolucionários (que, a seu ver só lhe trariam prejuízos). Marx criticou Proudhon por reduzir a dialética hegeliana às proporções mais mesquinhas que poderiam ser imaginadas. “Na França, ele tem o direito de ser um mau economista, porque passa por ser um bom filósofo alemão. Na Alemanha, tem o direito de ser um mau filósofo, porque passa por ser um dos melhores economistas franceses”." (KONDER, 1999; 59)

É essa trilha que Leandro Konder segue por toda a obra. Trazendo questões da vida e da obra de Karl Marx intercalando com citações diretas do próprio biografado. Como podemos verificar em mais um trecho no tópico onde o autor aborda a “Dor” sofrida por Marx com a perda do filho Edgar aos nove anos de idade. 

"A morte do garoto deixou Marx acabrunhadíssimo. Em total prostração, ele escreveu a Engels: “tenho passado por todas as espécies de dificuldades, mas só agora sei mesmo o que é uma verdadeira desgraça”. E, dois meses depois, ainda escreveu a Lassalle: “Bacon diz que os grandes homens têm relações tão diversas com a natureza e com o mundo, têm tantos objetivos a reter-lhes a atenção, que lhes é fácil esquecer a dor de qualquer perda. Pois bem: não sou um desses grandes homens. A morte de meu filho me abalou profundamente o coração e a cabeça. E continuo a sentir-lhe a falta com a mesma intensidade que no primeiro dia”. "(KONDER, 1999:87)

A narrativa de Konder não é cansativa, pelo contrário. Tem uma verve literária que torna a leitura por demais agradável. E assim vemos se materializar diante de nós o homem que Engels definiu como “Revolucionário” que se dedicou a cooperar de diversas formas com a superação da “sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas”. O homem que tinha como elemento a luta. “E lutou com paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos.” (Engels)

Falando da posteridade da obra de Karl Marx, Leandro Konder ressalta que mesmo pensadores não marxistas reconhecem a vitalidade do seu pensamento.

"é por isso que um Heidegger por exemplo, no fim da vida estava se dedicando a reflexões sobre temas colhidos na obra de Marx. É por isso que Jean-Paul Sartre, tendo partido de pontos de vista existencialistas, desemboca na conclusão de que: “o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”. E é por isso que o católico Jean Lacroix, replica àqueles que se apegam a uma versão dogmática do marxismo, escreve: “Em sua inspiração mais profunda, o espirito marxista é, sem dúvida, uma negação radical de todo dogmatismo”." (KONDER, 1999; 151)

Sem dúvidas “Marx: Vida e obra” de Leandro Konder é uma ótima maneira de se introduzir nos estudos da obra Marxiana. E por que começar lendo uma biografia em vez de ler o próprio Marx? Por que acreditamos, tal como aponta uma perspectiva hermenêutica, que não podemos conhecer a obra de um autor sem entender quem foi esse autor e o contexto no qual ele desenvolveu suas ideias.

Além disso, não podemos deixar de lado a biografia de Karl Marx para não cairmos numa visão reducionista da sua obra ou então tirar o seu conteúdo subversivo e revolucionário. Isso não quer dizer que devemos, se de fato queremos entende-lo, se limitar a leitura de uma biografia. 

Aliás, o próprio Leandro Konder deixa claro que o seu objetivo com essa obra é apenas nos legar uma “breve introdução a Marx”. Afirmando que “quem quiser aprofundar seus estudos sobre Marx e suas concepções, evidentemente, deverá procurar lê-las nos próprios textos de sua autoria”. (KONDER, 1999; 153). Uma questão fundamental, sobretudo nos tempos medíocres que vivemos.

Pedro Ferreira Nunes – Cursou a Faculdade de Serviço Social e atualmente estuda Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.  É Educador popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Bernadete 50 Governadora: Uma candidatura necessária para enfrentar o modelo hegemônico de desenvolvimento no Tocantins.

“E você samba de que lado...
de que lado você samba?
Chico Science

Qual o modelo de desenvolvimento para o Tocantins você quer? O modelo de avanço do agronegócio e do hidronégocio? Que violenta e expulsa dos seus territórios índios, quilombolas e camponeses pobres? O modelo que entrega os bens públicos para a iniciativa privada através de privatizações recebendo em contrapartida um serviço caro e de péssima qualidade? Um modelo de caos permanente na saúde e de descaso com a educação? Em que o desemprego é a realidade para maioria dos indivíduos e o interior só é lembrado no período de campanha eleitoral? Em que as mulheres, os negros e a juventude não têm voz e nem vez? Pelo contrário, tem os seus direitos negados e engrossam as estatísticas de vitimas do status cos? Um modelo de desenvolvimento comandado por uma elite ruralista e especuladores imobiliários?

Se é esse o modelo de desenvolvimento que você quer para o Tocantins – não ti faltará opções nessas eleições. Não são poucos os candidatos que não só defendem esse modelo como propõem aprofunda-lo através da “desburocratização” que impedem o “desenvolvimento” do Tocantins. E o que seria essa “desburocratização” se não a flexibilização de leis, sobretudo ambientais, que minimamente criam barreiras para o avanço devastador do agronegócio e do hidronegocio. Essa flexibilização é fundamental para que o projeto de expansão da mineração no Estado – proposto por determinado candidato e que já mostrou seus efeitos nefastos em Mariana (MG) e Barcarena (PA) – se concretize. A partir dai as expressões da questão social que surgiram – como o aumento da desigualdade e a violência – serão apenas detalhes.

Mas se você acredita que não é só possível como necessário outro modelo de desenvolvimento – um modelo alternativo que aponte para “além do capital” como nos diria Mészáros. Você também tem opção, mas neste caso apenas uma. E essa opção é a candidatura ao governo do Tocantins da camarada Bernadete Aparecida Ferreira pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL. Bernadete é educadora popular e militante feminista – fundadora da Casa 08 de Março – organização com mais de 20 anos de história na defesa das mulheres trabalhadoras tocantinenses vitimas de violência.

Bernadete tem uma trajetória de luta inquestionável na defesa dos interesses do povo pobre e trabalhador – seja do campo ou da cidade. Organizando cursos de formação, promovendo a economia solidária, fazendo mobilização, realizando marchas e manifestações. Construindo no dia a dia a resistência contra esse modelo de desenvolvimento hegemônico – mostrando que é possível vislumbrarmos uma alternativa anticapitalista para o Tocantins. E a sua candidatura ao governo do Tocantins segue essa linha. 

De modo que ao assumir essa tarefa, sobretudo num estado com fortes raízes conservadoras. Bernadete evidencia mais ainda sua coragem em enfrentar a ordem vigente – apresentando um projeto popular para esse estado que sempre esteve nas mãos de elites oligarcas. E é por isso que sua candidatura é uma candidatura necessária – a única que legitimamente tem dado voz a pauta feminista, aos sem terra, aos sem teto. A todas e todos aqueles que estão à margem dessa sociedade.

Uma das fundadoras do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no Tocantins a candidatura de Bernadete também significa um resgate do partido para a linha aguerrida da agremiação a nível nacional. O que não ocorreu em 2014. Com isso o PSOL se souber trabalhar bem a relação com os simpatizantes que estão se aproximando do partido por causa da campanha da Bernadete, pode ter um ótimo saldo organizativo. E a partir dai se tornar uma referência há médio prazo para classe trabalhadora tocantinense – tão carente de uma referência à esquerda.

A candidatura da camarada Bernadete tem cumprido um papel importante, mesmo diante dos limites do ponto de vista estrutural e a disparidade de condições entre os candidatos – o que só evidencia mais ainda de que lado eles estão. 

A candidatura da camarada Bernadete é uma semente que está sendo plantada e se soubermos cultiva-la colheremos bons frutos amanhã. Para tanto precisamos de coragem e tenacidade como nos ensinou o querido Plínio – que num celebre discurso disse – “não acreditem no impossível, o impossível torna se possível se você quiser, ele vira possível. É preciso é coragem, é preciso é tenacidade, é preciso é força. E é preciso não esconder a realidade, não ter medo dela. É preciso falar as coisas como elas são...”. E nessa campanha eleitoral no Tocantins a única candidata que fala as coisas como elas são, é a Bernadete – sem medo da onda conservadora que tenta nos engolir.

Não temos ilusão quanto ao resultado das eleições. Isso pouco importa na verdade. Até por que não será pelas vias eleitorais burguesas que conseguiremos frear o modelo de desenvolvimento hegemônico de avanço do capitalismo. O que significa que não tenhamos de participar do processo, sobretudo para denunciar essa farsa. E é ai mais uma vez que se afirma a necessidade da candidatura ao governo da camarada Bernadete como também do senador e deputados da legenda. 

Diante disso se você acredita e defende a necessidade de outro modelo de desenvolvimento para o Tocantins – um modelo que rompa com a lógica do capital –precisa mostrar de que lado você samba – se ao lado da burguesia ou do proletariado, dos latifundiários ou do campesinato pobre, do opressor ou do oprimido. Se o seu lado é o dos oprimidos, do campesinato pobre e do proletariado então vamos juntos com Bernadete governadora.

Pedro Ferreira Nunes
Pelo Coletivo José Porfírio

Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO, Lua Cheia – Primavera de 2018.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Da série contos interiorano: Na boca da vinte

*Por Pedro Ferreira Nunes

- Rapaz, cê viu que baixinha linda. Cê conhece ela?

- Tu tá doido home. Aquela menina é namorada de um dos chefes da gangue dos ‘cabelo molhado’. Mexer com ela é morte na certa.

Paulo desde pequeno sabia da fama da gangue dos cabelo molhado. Dificilmente havia uma festa em Miracema em que os cabelos molhados estivessem presente que não acabasse em briga. E se fosse na boca da vinte era certeza que no dia seguinte haveria velório em Miracema.

Mesmo assim ao saber do rala coxa que aconteceria na boca da vinte, Paulo não pensou duas vezes. Já havia oito anos que ele morava em Goiânia. Quantas saudades ele não sentia da sua terra natal. Ia muito aos forrós na capital goiana, mas nada que se comparavam as festas de Miracema. Além do mais depois de tantos anos imaginava que a famosa gangue dos ‘cabelo molhado’ já não mais existia, como também que a boca da vinte já não era tão violenta como fora outrora.

- Uai, a gangue dos ‘cabelo molhado’ ainda existe?

- Fica esperto rapaz, num mexe com essa muie não que é confusão na certa. 

Paulo não deu ouvidos para seu primo que o alertava a cerca do perigo de se mexer com a mulher do líder da gangue dos ‘cabelo molhado’, e logo se aproximou da garota chamando-a para dançar. Essa por sua vez muito faceira não negou fogo.

- Oh morena que remexe gostoso.

Fazia tempo que Paulo não dançava daquele jeito. Não há coisa mais gostosa que dançar um forró no estilo tocantinense – pensava Paulo. A mulher requebrava gostosamente nos braços de Paulo, este por sua vez não ficava para trás, não negando o seu sangue tocantinense.

Mas a felicidade de Paulo durou pouco. Logo ele estava rodeado pela gangue dos ‘cabelo molhado’.

- Tu não sabe que essa mulher me pertence? Chega de fora querendo arrotar bacaba aqui na nossa área? Aqui tu não se cria não.

- Desculpa rapaz, eu não sabia que ela era tua namorada. Mas também a gente estava só dançando.

Ao ver a confusão armada o primo de Paulo em vez de ajuda-lo caiu no braquiara. Ele estava só agora diante da famosa gangue dos ‘cabelo molhado’.

De repente Paulo leva um soco por trás e cai no chão. Ao cair no chão leva chute de todos os lados é tanto chute que ele não consegue se defender, pois não conseguia ver de onde vinha tanto chute. O sangue já descia de tudo quanto era buraco do seu corpo.

Todos haviam corrido do salão, ali permanecia apenas Paulo no chão sendo massacrado pela gangue dos ‘cabelo molhado’. Ninguém ousou entrar para salva-lo, nem a policia estava por ali.

De repente Paulo sentiu algo frio entrando no seu corpo, uma, duas, três e muitas vezes. Paulo não conseguia ver da onde vinham as punhaladas, vinham de vários lados e sendo desfechada por varias pessoas ao mesmo tempo. Á ultima imagem que Paulo viu antes de morrer foi da garota sorrindo, a garota que havia sido o pivô de toda aquela historia. E ainda por cima fora ela que lhe deu a ultima facada.

- Paulo, Paulo. Acorda Paulo. Você estava tendo um pesadelo.

Paulo assustado levantou-se passando a mão por todo o corpo, ainda sentia o corpo todo doendo das facadas que acabara de levar dos caras da gangue dos ‘cabelo molhado’. Mas aliviado Paulo percebeu que fora apenas um pesadelo. E que pesadelo.

*Pedro Ferreira Nunes – “é apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”.