segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Crônica: Natal na chácara dos meus avós

Quando criança era tradição passarmos o natal na chácara dos nossos avós. Toda a família se reunia – Tios, primos e amigos para fazer uma grande festa. Para os nossos avós era inaceitável que um dos seus filhos passasse o natal em outro lugar se não a chácara. Assim todos já se programavam.

Minha vó juntamente com minha mãe e minhas tias preparavam o almoço – Arroz, galinha caipira, feijão trepa-pau, macarronada, peixe, chambari, salada.  E de sobremesa doce de buriti. Comíamos feito loucos.

Os homens bebiam e jogavam baralho enquanto o almoço aprontava. Já a criançada caia na brincadeira – golzinho, pique pega, cai no poço. Ou então caia na chapada para caçar tucum ou macaúba. Depois do almoço todo mundo descia para o rio Tocantins para tomar banho.

O natal na chácara dos meus avós era tão famoso que muita gente que nem pertencia a nossa família faziam questão de ir. E como sempre eram bem recebidos. Pois para meus avós quanto mais a casa estava cheia, melhor era.

No entanto os anos se passaram, fomos envelhecendo e ganhando o mundo – Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Rondônia. E a cada ano foi ficando mais difícil reunir toda a família. Até que hoje em dia tornou-se impossível.

Fazia mais de dez anos que não passava um natal na chácara dos meus avós. Nunca fui de importar muito com essas datas comemorativas, nos últimos anos menos ainda. Assim com muita insistência de minha mãe fui passar o natal de 2011 com meus avós na velha chácara em Miracema.

Neste ano apenas meus avós, minha mãe, eu e duas sobrinhas. Não pude deixar de recordar dos natais que passei ali na minha infância. Era tanta gente, a primaiada toda fazendo a festa no terreiro da chácara. Mas agora não, se não fossemos nós, meus avós provavelmente passariam o natal sozinhos. Até mesmo os parentes que moram no terreiro de casa não vieram passar o natal com eles.

Senti saudades dos natais da minha infância na chácara dos meus avós. Não pela data em si, pois pouco me importa o natal. Mais uma data que virou exemplo de consumismo. A saudade foi do tempo em que conseguíamos reunir toda a família para festejar a alegria de estarmos todos bem. Saudades do tempo em que o prazer de estamos juntos era maior que qualquer coisa.


Para mim aquele foi um natal triste, pois percebi que nunca mais conseguiríamos ter natais como aqueles da minha infância. Imagino o quanto deve ser difícil para meus avós que nos últimos anos passam o natal quase sozinhos, sobretudo agora que eles mais precisam da gente.

Pedro Ferreira Nunes - Poeta e escritor tocantinense.

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