Pinturas rupestres na Serra do Lajeado |
A
relação entre arte e política pode se apresentar sob dois aspectos
básicos: como arte ligada e a serviço de uma ordem política
vigente e de um poder constituído; ou como arte engajada que critica
esse mesmo poder e uma dada ordem vigente, relacionando mais a
processos de lutas de caráter contestatório. (Napolitano, 2011)
Diante
do que afirma o autor não podemos negar, por mais que alguns
artistas o fazem – que não exista arte politica no Tocantins. Na
nossa concepção há uma relação intrínseca entre arte e
politica. Cabe, no entanto questionar se a arte está ligada e a
serviço de uma ordem politica vigente ou se apresenta como arte
engajada que critica a ordem estabelecida.
Napolitano
(2011) apresenta uma “... proposta conceitual para situar os dois
campos da arte politizada: a arte militante e a arte engajada. A
primeira procura mobilizar as consciências e paixões, incitando a
ação dentro de lutas políticas específicas, com suas facções
ideológicas bem delimitadas, veiculando um conjunto de críticas à
ordem estabelecida, em todas as suas dimensões; a segunda – a arte
engajada – de caráter mais amplo e difuso, define-se a partir do
empenho do artista em prol de uma causa ampla, coletiva e ancorada em
“imperativo moral e ético” que acaba desembocando na política,
mas não parte dela”.
Nessa
perspectiva podemos dizer que a arte política no Tocantins está
mais ligada à segunda. Pelo seu caráter mais amplo e difuso. Vemos
claramente que não há uma ligação clara com uma facção
ideológica, veiculando um conjunto de críticas á ordem
estabelecida. Pelo contrário, mesmo abordando questões politicas,
não fazem isso claramente. No entanto ao analisarmos os quilombolas
e os indígenas vemos também características da primeira concepção
de arte politica.
À
arte dos quilombolas e dos indígenas está ligada à questão da
sobrevivência e da resistência e não a um questionamento direto da
ordem estabelecida. Eles não partem de um movimento organizado que
apresenta um programa alternativo. Apesar de partir de uma situação
especifica, não conseguem elaborar uma critica a ordem estabelecida
e todas as suas dimensões.
Já
os artistas tocantinenses em geral poderiam ser classificados na
concepção de arte politica engajada. Sendo que o foco principal é
o fortalecimento da própria arte, sobretudo de caráter regionalista
– que muitas vezes acaba sendo apropriada pela ordem estabelecida,
para fortalecer uma identidade cultural que na maioria das vezes só
existe nos livros didáticos, pois na prática os povos tradicionais
continuam sendo violentados e exterminados.
Ainda
sobre essa questão Napolitano (2011) destaca que “a arte militante
parte da política para atuar na tríade “agitação-
propaganda-protesto”, dirigida pelos partidos e grupos
politicamente organizados, enquanto a arte engajada chega na política
a partir de uma atitude “voluntária e refletida” sobre o mundo.
Em ambas vertentes, o problema da autonomia da arte (dimensão
espiritual) e da linguagem (dimensão formal) está colocado como
desafio, não apenas para o artista que produziu a obra, mas também
para o crítico e o pesquisador que se debruçam sobre ela”.
(Napolitano, 2011. Pag. 29).
Diante
disso fica claro que a arte politica tocantinense é de fato uma arte
politica engajada e não militante. Nesse sentido é fundamental uma
profunda reflexão a cerca do problema da autonomia e da linguagem
utilizada pelo artista. Sobretudo pelo fato de que a dependência do
poder público através de editais interfere muitas vezes na
autonomia do artista que tem que submeter se as regras estabelecidas
para poder expor ou publicar os seus trabalhos.
Segundo
Napolitano (2011) “o
problema da autonomia, situado dentro da tradição do “cânone
ocidental”, e da dimensão propriamente estética da obra de arte
que se quer engajada, está presente, mesmo quando o artista nega seu
lado “expressivo” em prol de uma “comunicabilidade” com o
público alvo de sua obra, ou seja: a consciência a ser educada,
perturbada ou mobilizada pelo seu engajamento”. É o que percebemos
claramente das obras de arte feita pelos artistas tocantinenses. Mas
também pela necessidade de se enquadrar nos editais públicos para
conseguir produzir e divulgar sua produção para que o público
possa ter acesso à mesma.
Eis
ai um dos grandes desafios para os artistas tocantinenses – seja os
populares ou não. Fazer com que sua obra de arte chegue ao público
sem que necessariamente precise se submeter à burocracia dos editais
e assim perder a sua autonomia. Pois é fato que há uma grande
produção artística no Estado, o que falta são espaços e
condições para que os artistas possam divulga-los.
Uma
alternativa para esse problema esta no exemplo da Cooperifa em São
Paulo e outros exemplos de coletivos culturais que auto se organizam
para produzir e divulgar sua arte, sobretudo descentralizadamente. O
que se faz necessário no Tocantins, sobretudo no interior do Estado,
onde a ausência de politicas públicas culturais e espaços para
divulgação e apresentação de obras de arte é ainda mais
deficitário.
*Artigo elaborado para disciplina de História da Arte, do Curso de Filosofia e Teatro da Universidade Federal do Tocantins. Para ler o artigo completo baixe no link: https://drive.google.com/drive/my-drive
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