quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Sistema CUBO: Tecnologia a serviço da Burocracia.

“A racionalidade tecnológica revela o seu caráter político ao se tornar o grande veiculo de melhor dominação...”.
Herbert Marcuse

Se não era fácil à vida de quem buscava junto a Pró-reitoria de Assuntos Estudantes (PROEST) alguma bolsa ou auxilio. Essa tarefa se tornou ainda mais burocrática com a implementação do Sistema Cubo (Cadastro Unificado de Bolsas e Auxílios). E assim o que tinha como objetivo agilizar os processos tornando-os menos burocráticos, culminou num processo nebuloso justificado na racionalidade tecnológica.

Quando da implantação do sistema Cubo não houve nenhuma resistência por parte dos estudantes até por que era unanime entre estes a critica pela morosidade do processo de distribuição de bolsas e auxílios. Morosidade justificada pela falta de técnicos da área de assistencial social para analisar os processos de forma mais célere, sobretudo diante da grande demanda. Mas ao invés de reforçar o quadro da assistência social na UFT, preferiu-se desenvolver um programa tecnológico. De modo que a analise Socioeconômica dos acadêmicos passou a ser feito eletronicamente.

Ainda no inicio da implantação do sistema Cubo os problemas começaram a surgir, no entanto compreendeu-se que tais problemas eram naturais para algo que estava sendo implantado. A perspectiva era que com o tempo esses problemas seriam superados - inclusive a Proest não poupando esforços no sentido de ofertar formação para que as dificuldades dos estudantes em acessar o sistema cubo fossem superadas. Com o tempo os estudantes começaram a perceber que o problema não era ter acesso ao sistema, mas atender todas as etapas exigidas através da apresentação de documentação. Aliás, a esse respeito às coisas continuavam tão burocrática como antes.

Além de toda a dificuldade de conseguir providenciar a documentação exigida, sobretudo para quem é de outras cidades. Soma-se a isso a necessidade de organizar tudo num único arquivo e enviar pelo sistema Cubo (tudo via internet). A questão é que nem todos tem acesso a um computador com internet. Uma alternativa seria os laboratórios de informática nos campus. Mas pelo menos em Palmas o acesso é restrito há alguns cursos. 

Como não é possível ter acesso a nenhum dos programas coordenados pela PROEST sem estar cadastrados no Cubo muitos estudantes estão abrindo mão dos seus direitos por não suportar toda a burocracia exigida para se ter acesso a uma bolsa permanência, auxilio alimentação, auxilio moradia ou auxilio viagem. Dessa forma o sistema Cubo tem servido para fazer uma peneira. E mesmo assim nem todos que conseguem passar por essa peneira têm acesso aos programas e auxílios da assistência estudantil.

É importante destacar a importância da política de assistência estudantil para garantir que os estudantes, que estão em situação de vulnerabilidade social, não abandonem o curso. Tal importância é comprovada por pesquisas realizadas na própria UFT. De modo que a política de assistência estudantil não pode ser restrita, mas sim atender a todos que dela precisam. 

É de se esperar o discurso por parte da gestão de que faltam recursos. O problema é quando a representação estudantil compra esse discurso. É o que se percebe nos fóruns de assistência estudantil. Aliás, a Proest tem utilizado os fóruns de assistência estudantil para aprisionar os representantes discentes – fazendo com que estes comprem o discurso de cortes orçamentário – tendo que estabelecer prioridades. E se tornam refém dessas prioridades. Pois quando se vai na Proest reivindicar algo importante mas que não foi estabelecido como prioridade. Justificam: - o fórum estudantil estabeleceu isso.

Os estudantes e suas entidades representativas não podem se submeter a isso. Não é nosso papel. O nosso papel é cobrar que seja feito o que for necessário para que os interesses de todas e todos os estudantes sejam atendidos – de todos os cursos, de todos os campi. Nós não somos um braço da Proest, uma correia de transmissão dos interesses de quem esta na gestão. De modo que quando necessário, devemos partir para o enfrentamento. Ou se não nos tornamos cúmplices de determinadas políticas.

Determinadas políticas que são lançadas como um avanço, mas que acaba sendo uma armadilha. Mas pelo fato de estarmos numa sociedade cada vez mais dominada pela tecnologia, essa armadilha acaba sendo imperceptível. É ai por tanto que o filósofo alemão Herbert Marcuse nos trás uma importante reflexão sobre essa questão. De acordo com ele “a tecnologia serve para instituir formas novas, mais eficazes e mais agradáveis de controle social e coesão social.” É a partir dai que podemos compreender a lógica do sistema Cubo.

Pedro Ferreira Nunes - Cordenação Geral do CAFIL Professor José Manoel Miranda - UFT

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